Ano 03 Nº 015/2015 – Quando se faz do riso, transformação
Há quem diga que se for pra chorar, que seja de tanto rir. Dizem também que rir é o melhor remédio e que a gente deve se divertir como se não houvesse amanhã. Bem, as pessoas dizem muitas coisas, isso é fato, e também fazem muitas coisas, isso é claro. Tem gente com funções pra todo gosto e necessidade: pedreiros, professores, porteiros, vendedores. Há também médicos, catadores de material reciclável, padeiros, músicos, engenheiros e por aí vai. É muita gente fazendo muita coisa. E cada uma dessa gente, como faz pra rir todo dia? Pra chorar de tanto rir? Mas e se essa gente toda for triste? Ou estiver esgotada demais? E se essa gente toda simplesmente não ri?
Talvez tenha sido pensando nisso que surgiu um outro profissional. Rosto pintado, roupa colorida, jeito engraçado. Preciso dar mais dicas? Mas é claro que não se resume somente a isso. Uma pessoa assim, capaz de fazer tanta gente rir, de mudar o dia de alguém fazendo piada de tudo, só pode ser de uma simplicidade e dedicação tão grandes que nos pareça extremamente difícil fazer o que ela faz: levar alegria por meio da arte. E é essa alegria, característica do palhaço, que move um grupo que investiga, que cria e que encanta atuando, o qual ou você já ouviu falar ou terá a sorte de ouvir falar pela primeira vez: estou falando do “Teatro VagaMundo”.
Imagine que um dia você percebe que tem uma capacidade incrível de interpretar e fazer as pessoas rirem. Algum tempo depois, que pode fazer algo grandioso dessa sua capacidade, viajando e (literalmente) fazendo arte por aí. E, mais tarde, que tem gente talentosa e disposta a se unir a você nessa “expedição do riso”. Bem, a história do VagaMundo é mais ou menos assim. Gabriela Amado e Daniel Lucas (o palhaço Rabito) fundaram o grupo em 2008 e a iniciativa deu certo. Até 2013, o Vagamundo possuía dois espetáculos, La Perseguida e Banana com Canela, mas já que estamos falando da importância do riso, ora, pra se divertir e fazer divertir, quanto mais gente melhor. Foi então que em mais um de seus trabalhos de pesquisa, o conjunto se uniu à palhaçaria feminina em 2014. Surgiu, assim, o espetáculo Lange Ri, uma parceria com o Teatro Candeia, representado pelas atrizes Carolina Reichert e Júlia Zulke.
De 2008 até hoje, o Teatro VagaMundo tem emplacado um sucesso atrás do outro. E por sucesso, entendamos não apenas a grande popularidade do grupo pelos mais diversos lugares de toda a América Latina em que passou, mas também o impacto do seu trabalho nesses lugares. Alguns desses lugares, aliás, são espaços onde esse tipo de espetáculo poucas ou raríssimas vezes chega. É o caso das aldeias indígenas visitadas no projeto “Palhaço Rabito aterriza na sua aldeia! uma ode às diferenças!”, premiado nos anos de 2011 e 2012. É também o caso do projeto “Palhaço Rabito celebra o encontro com as comunidades quilombolas do RS”, incentivado pela Secretaria de Cultura, que levou o VagaMundo à nove comunidades quilombolas do Rio Grande do Sul.
Parece coisa demais pra se fazer em 7 anos, certo? Mas existe gente que parece que nunca cansa e o pessoal do Teatro Vagamundo certamente é representante desse tipo de gente. Contando através de um documentário as vivências do palhaço Rabito nessas comunidades quilombolas, o grupo lançou o filme “Nas Margens do Riso: Quilombos de Alegria e Luta”. É pouco menos de 40 minutos de documentário, mas para quem consegue em poucos segundos arrancar dezenas de risadas, é certamente tempo mais que suficiente. Tempo o bastante para mostrar visões e percepções de uma experiência que não marcou só os habitantes dessas comunidades, VagaMundo leva também muito dessas pessoas, e isso só vendo a divertida e emocionante trajetória da película para descobrir mais detalhadamente como e porquê.
O Teatro VagaMundo representa, dentre outras coisas, o poder do riso e a transformação que advém dele. A tristeza, o cansaço, o desânimo certamente precisam ser sentidos, não somos nós mesmos sem aquela parte de nós que às vezes chora, que está de mau humor ou que só quer dormir até o próximo ano. No entanto, somos também alegria e é isso que o VagaMundo chega pra nos lembrar. Que tal rir um pouco mais?
Escrito por Mariana Grego e Melissa Barbieri, bolsistas do Laboratório de Leitura e Produção Textual- LAB (PROEXT-MEC).