Ano 08 nº 185/2020 – Doutor sono: Original ou adaptação?

image1Imagem: https://www.papelpop.com/2019/10/doutor-sono-ganha-novos-posteres-que-fazem-referencia-ao-o-iluminado/

                                                                                Por Maria Augusta Tellechea Alves

                              A primeira parte é sem spoilers, a segunda terá um aviso.

 

Doutor sono é um filme de 2019 que foi baseado em um livro de mesmo nome, do escritor Stephen King, e que foi lançado em 2013. O livro, Doctor sleep (nome original), é a continuação do clássico “O Iluminado” (The Shining) que foi lançado em 1977, do mesmo autor, e que possuí adaptação do diretor Stanley Kubrick de 1980 que modificou boa parte da história, e apesar de ser considerado um clássico hoje em dia é odiado pelo próprio autor do livro. Nesse texto, não vou me aprofundar nestes detalhes, mas sim falar sobre as obras originais, que geralmente são obras escritas versus a adaptação, nesse caso audiovisual – o que é melhor? 

Resolvi escrever esta resenha depois que assisti ao filme “Doutor sono”, quase 1 ano depois da sua estreia, e mesmo sendo muito fã dos livros, eu sempre tive um certo problema com adaptações de livros que eu gosto muito, porque geralmente elas acabam me decepcionando. Quando lemos um livro, conseguimos, através da descrição dos autores, imaginar as cenas, os personagens e os cenários, e quando esse conjunto de elementos vira um produto audiovisual, nem sempre é como a nossa imaginação os criou, e até aí tudo bem, porque cada pessoa cria a partir do que conhece, portanto o que cada um imagina com uma descrição de um livro provavelmente vai ser diferente, único.

Eu sempre preferi as adaptações que são mais fiéis aos livros, e demorei tanto para assistir ao filme por ter lido algumas críticas que me deixaram desanimada, mesmo sabendo que certos elementos são impossíveis de serem colocados em cena e devem ser mudados, por isso o nome “adaptação”, durante muito tempo torci o nariz para mudanças feitas nos filmes de livros que adorava, mas hoje, percebo que muitas delas foram até melhor retratadas, e que essas mudanças melhoraram o que já era bom. Um exemplo que eu gosto muito são as mudanças feitas no filme de “Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban” para explicar o funcionamento do vira tempo, um objeto que permite aos personagens voltarem algumas horas no tempo e modificar acontecimentos, foram adicionadas cenas no filme que não existem no livro e foi tão bem feito que é até melhor. Mas o que eu quero tentar explicar é que aprendi a ter a mente aberta ao assistir filmes dos quais já li os livros, alguns eu odeio ainda, “Percy Jackson e o mar de monstros” ainda é uma assunto delicado,  mas a maioria ganhou meu coração. 

“Doutor Sono” tem 151 minutos de duração, 2 horas e 30 minutos aproximadamente, e não é cansativo ou maçante, ele conseguiu me levar de volta a minha leitura de tantos anos atrás, li o livro assim que foi lançado, e não lembro de todos os detalhes, mas muitos deles voltaram a minha memória assistindo o filme. Ele foi alterado, é claro, mas no geral, deixou uma fã bem satisfeita com o resultado. Eu li muitas críticas negativas ao filme, e não acho que seja simples de entender para quem não leu o livro, é o tipo de filme que necessita uma certa imersão e atenção aos detalhes, porque embora as atuações dos atores sejam muito boas, existem sentimentos que, se não são falados, são difíceis de serem transmitidos, a culpa que Danny sente com um certo acontecimento, por exemplo, pareceu raso no filme.

Em resumo, na batalha entre original x adaptação, não acredito que se possa dizer que um é melhor que o outro, muitas vezes eles se complementam e interagem. Existem adaptações ruins? Claro que sim, muitas vezes não se tem o devido cuidado com a obra original e só se preza pelo lucro. Eu sei que um trabalho de adaptação é complicado, mas se falando de adaptar livros que têm continuação e são muitas vezes sucesso de vendas com uma base sólida de fãs, eu acho que levar em consideração a fidelidade e opinião deles é o que vai ser decisivo para que as sequências sejam lançadas também. #FicaadicaHollywood 

 

!Alerta spoilers! dos livros e filmes, O iluminado e Doutor sono

 

As mudanças feitas no filme “Doutor sono” são, até onde me lembro, pequenas, exceto pelo final, de que eu gostei mas com algumas ressalvas, que para explicar preciso ter um contexto.

No final do filme “Doutor sono”, eles decidiram incluir flashes de algumas cenas do filme “O iluminado” de 1980, do diretor Stanley Kubrick, e essa decisão apesar de trazer uma ambientação e uma atmosfera nostálgica ao filme, também afeta muito o desfecho da história. No filme, Danny acaba tendo que voltar ao hotel e, para minha surpresa, o Overlook estava lá, inteiro. Foi muito interessante ver essa outra perspectiva, e foi então que percebi que o filme não era só uma adaptação do livro mas uma continuação do filme de 1980. No livro “Doutor Sono”, os personagens também voltam ao local onde o hotel overlook estaria, mas ele não existe mais, o local acabou virando um camping, já que no final do livro “O iluminado” o hotel explodiu, depois que o pai de Danny esquece de regular a caldeira, algo que precisava de constante manutenção. E para quem não lembra, no filme “O iluminado” (1980), o hotel não explode no final, Danny e a mãe conseguem fugir e o pai, Jack, morre congelado dentro do labirinto, o que eu acho beeeem anticlimático, uma explosão do hotel com o Jack dentro dele seria bem mais legal, que é o que acontece no livro.

Então essa mudança de continuar a história da adaptação de 80 foi o que me incomodou um pouco e mentiria se dissesse que não fiquei um pouquinho desapontada. Por outro lado, proporcionou cenas do Danny adulto no hotel e trouxe algumas imagens e reproduções clássicas do filme de 80, como por exemplo quando o Danny para em frente a porta quebrada pelo machado do pai, uma cena icônica de “O iluminado” (Imagem), e ainda propuseram uma leve retratação, já que no final do filme, o hotel pega fogo justamente por culpa da caldeira. Outro ponto que eu gostaria de comentar foi uma conversa entre Danny e o “espírito” do pai no bar do hotel, fazendo uma referência de quando o pai dele sentava naquele mesmo bar em “O iluminado” e conversava com o bartender, achei incrível a escolha do ator/caracterização que fizeram com que ele ficasse muito parecido com o Jack Nicholson jovem. Portanto, acredito que essas mudanças para o cinema sejam ousadas, mas não fazem o filme ser ruim e ainda trazem um gostinho de nostalgia, recomendo.

 

Maria Augusta é graduada em Letras – Línguas Adicionais: Inglês, Espanhol e suas respectivas literaturas pela Universidade Federal do Pampa, é integrante do Junipampa/LAB desde 2017, é apaixonada por gatos, Harry Potter e pela sua cidade natal, Uruguaiana.

 

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