Educação posta em jogo/ Coluna PET Letras

Fonte: Facebook/CPERS/Sindicato

Fonte: Facebook/CPERS/Sindicato

Por Arthur Teixeira Ernesto

Falar de educação? Sim, temos que falar. É preciso falar! Eu que, quando criança, sempre sonhava em ser um advogado para ajudar os mais pobres a ganhar as causas judiciais contra os ricos que os oprimem, por outro lado, sempre me reunia com os sobrinhos e minha irmã para brincar de colégio. Lembro-me que, na maioria das vezes, rolavam brigas para escolher quem seria o/a professor/a para poder sentar na escrivaninha marrom (in memória, ela se quebrou de tanto que ficava de lá pra cá) e ficar em destaque como o/a professor/a da brincadeira. Na escola (ensino primário), lembro-me de sempre ficar quietinho e comportado para ter o direito de apagar o quadro e, no final da aula, pedir à professora para ficar com os toquinhos de giz. Com isso, elas sempre me davam os gizes, e lá ia eu para casa para mais um dia brincar de professor. Hoje escrevendo esse texto me deparo com a situação de que aquela singela brincadeira despretensiosa de colégio poderá se tornar meu futuro, pois atualmente sou discente do Curso de Letras Português do 5° semestre. Mas, durante as brincadeiras, eu nunca pensei que ser professor era além de passar matéria no quadro e corrigir separação silábica, continhas de divisão, multiplicação, subtração e adição que eu fazia para os “meus alunos”/familiares. Durante aquelas brincadeiras eu nunca cogitei que o piso salarial fosse tão importante para a carreira dos professores. Não estou aqui para falar da minha infância, mas  sim, da educação, pois é através dela que eu, um sujeito negro e de um bairro periférico, acredito no potencial da educação para ajudar os mais pobres. Não digo ganhar em causas trabalhistas, mas em poder ajudá-los a se igualarem em termos de conhecimento e desenvolvimento na sociedade.

Para adentrar no tema em questão, onde falo sobre a educação e o piso do magistério, tenho que desmistificar aquelas ilusões que eu possuía em relação ao trabalho do/a professor/a que exercer a profissão não é simplesmente só passar matéria no quadro. Talvez, tu, leitor desta coluna, pensavas como eu, que ser professor era apenas passar matéria no quadro e que educação era o ato de educar. Desculpe leitor, mas nós estávamos equivocados em pensar isso, pois a educação, como já mencionado, vai além disso, porque é através dela que fazemos as nossas próprias descobertas, mas não fazemos isso sozinhos sem a orientação dos/as professores/as, pois são eles/as que nos acompanham desde a pré-escola. E, até mesmo, na própria escrita deste texto eles estão presentes, porque são eles/as que nos auxiliam a serem sujeitos críticos, ativos e participativos em nossa sociedade.

E, relacionando com tudo que foi exposto, tenho que falar sobre o salário e o piso do magistério do professor, porque há anos está defasado e não só o salário, mas a profissão em si está depreciada, pois em minhas andanças como sujeito-aluno, pude acompanhar professores com salários atrasados, presenciei professoras com problemas de depressão e que, mesmo assim, continuavam trabalhando para não deixarem seus alunos na mão. Testemunhei também, professoras tendo que vender roupas ou produtos de cosméticos na escola para poderem complementar suas rendas. Vi professoras sendo humilhadas e/ou agredidas pelos pais ou pelos próprios alunos. Durante as minhas observações para um componente da graduação, ouvi o relato de uma professora que foi empurrada de uma escadaria da escola em que trabalhava, mas, mesmo assim, preferiu não ir adiante com um processo judicial para não ter que se incomodar. Também, infelizmente, vi professoras tendo que pedir empréstimos bancários para poderem pagar suas próprias contas de luz, água, internet etc, que são os meios fundamentais para poder viver com dignidade e desempenhar bem seu trabalho.

Mas enfim, acompanhei essas situações, e mesmo com os percalços da vida, notei nos semblantes dos meus ex-professores (e porque não, futuros colegas?) a vontade de querer ensinar, de querer nos ajudar a adquirir conhecimento e a saber enfrentar os desafios da vida. Hoje, estando em um curso de Letras e escrevendo o texto para esta coluna, reconheço ainda mais a importância dos profissionais da educação e, por isso, devemos refletir sobre o valor a ser pago por esse serviço tão necessário para o desenvolvimento da sociedade, mantendo e garantindo os salários, no mínimo, dentro do piso salarial, e os direitos dos profissionais da educação. Sabemos que seguir uma carreira nessa profissão é difícil por conta dos governantes cobrarem muito pelos serviços dos educadores, mas, em troca desses serviços, os docentes, infelizmente, são mal remunerados e, muitas vezes, recebem os seus salários atrasados, sofrem com o congelamento dos pisos salariais, o que, por sua vez, faz com que os profissionais fiquem imersos em dívidas, tendo de irem às ruas para lutar em defesa de seus direitos, pedindo respeito para sua classe, exigindo salários dignos e pagos em dia.

Em face a essa realidade, eu convoco a ti leitor a nos apoiar com essa causa, pois são os professores e as professoras que dão suporte para formar sujeitos críticos e com conhecimentos para o desenvolvimento na sociedade. Então, peço que, no dia das eleições, tu não desperdices teu voto, eleja candidatos que apoiem ou que se sensibilizem com essa causa, que defendam o pagamento dos salários em dia, o piso salarial e que valorizem o professor em seu discurso político.unnamed (4)

Arthur Teixeira Ernesto é acadêmico do curso de Licenciatura em Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa/ Campus Bagé-RS). Também é bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET – Letras Bagé), na referida instituição.

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“Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.

 

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