Ano 12 Nº 040/2024 – O Poder da Mulher Negra
No mês de julho é comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, e mesmo tendo sido estabelecida essa data desde 1992, ainda hoje nos deparamos com a “ignorância” do significado da representatividade no contexto social em que estamos inseridas/os. Na pirâmide social, em qualquer lugar do mundo, infelizmente ainda é pouco o reconhecimento e oportunidades voltadas para essas mulheres.
Quando pensamos em representatividade, consideramos quem se destaca, mas há muitas mulheres buscando suas oportunidades sem que consigam alcançar o que lhes
compete tanto socialmente quanto financeiramente.
É contraditório, conforme dados da Redação National Geographic Brasil (2018):
[…] a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e pelas Nações Unidas, o Brasil é o país com a maior porcentagem de população afrodescendente na América Latina e no Caribe com um número de 50,9%. É seguido por Cuba (35,9%), Porto Rico (14,8%), Colômbia (10,5%), Panamá (8,8%), Costa Rica (7,8%) e Equador (7,2%). Os demais países da região têm porcentagens de população afrodescendente abaixo de 5%.
Apesar do cenário continuar adverso, seguimos conquistando espaços em todos os âmbitos e esferas, nomes como Conceição Evaristo, Margareth Menezes, Glória Maria, Maju Coutinho, Zileide Silva, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, Djamila Ribeiro, Bárbara Carine, Zezé Motta, Ruth de Souza, Chica Xavier, Tais Araújo, Sheron Menezes, Daiane dos Santos, Rebeca, Fernanda Garai, Elisa Lucinda, Alcione, Carolina Maria de Jesus, Sueli Carneiro, Lucy Alves, Lélia Gonzales, entre muitas outras mulheres que merecem todo reconhecimento, mas que seguem seus percursos buscando espaços que são negados
constantemente.
Angela Davis (2017) nos presenteou com a célebre frase: ““Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”, mesmo assim as batalhas e violências continuam se perpetuando e prejudicando a ascensão mediante obstáculos impostos pela sociedade fundamentada no patriarcado.
Temos que considerar que:
Proporcionalmente mais mulheres negras sempre trabalharam fora de casa do que as suas irmãs brancas. O enorme espaço que o trabalho ocupou na vida das mulheres negras, segue hoje um modelo estabelecido desde o início da escravatura. Como escravas, o trabalho compulsoriamente ofuscou qualquer outro aspecto da existência feminina. Parece assim, que o ponto de partida de qualquer exploração da vida das mulheres negras sob a escravatura começa com a apreciação do papel de trabalhadoras. O sistema da escravatura define os escravos como bens móveis. As mulheres eram olhadas não menos que os homens, eram vistas como unidades rentáveis de trabalho, elas não tinham distinção de género na medida das preocupações dos donos de escravos. (Davis, 2016).
A dinâmica que é vivenciada pela mulher negra, em muitos aspectos leva ao sentimento de exclusão, além da exaustão é necessário lidar com questões que envolvem uma perspectiva masculina de perpetuação da “servidão”. Em um mundo ideal a data 25 de julho seria uma comemoração de conquistas, no mundo real, reflete batalhas ainda enfrentadas e barreiras que ainda não foram derrubadas.
É imprescindível a quebra de paradigmas e a conquista de novos espaços, pleitear oportunidades faz parte do cotidiano da mulher negra, entretanto, cabe ressaltar que não há caminhos fáceis nessa jornada. Sigamos em busca de dias melhores.
Referências
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo Editorial, 2016.
DAVIS, Angela. A liberdade é uma luta constante. São Paulo: Boitempo Editorial, 2018.
REDAÇÃO NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. O que é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e por que se celebra em 25 de julho?. Disponível em: O que é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e por que se celebra em 25 de julho? | National Geographic (nationalgeographicbrasil.com). Acesso em: 18 jul 2024.
Andréa de Carvalho Pereira é graduada em Administração de Empresas pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG (2001). Graduada em Biblioteconomia pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande- FURG (2006). Pós-Graduada com Especializações em: Gestão em Arquivos pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM (2011) e Rio Grande do Sul: Sociedade, Política e Cultura pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG (2011). Bibliotecária do Campus Bagé da Universidade Federal do Pampa. Coordenadora do Neabi Oliveira Silveira – Unipampa, Campus Bagé. Mestra em Ensino pela Universidade Federal do Pampa – Unipampa, Campus Bagé (2021). Colaboradora Projeto Feira de Ciências. Membro da Comissão de Heteroidentificação Campus Bagé. Integrante do Grupo Dandaras/Bagé.