Ano 07 nº 084/2019 – Por que o presidente banaliza a Psicologia? / COLUNA DO SAULO
Por Saulo Eich
Por que o presidente banaliza a Psicologia?
Saulo é psicólogo clínico Infantil e Adulto, de abordagem Cognitivo Comportamental, em Bagé/RS
O desprezo e a tentativa de banalização da profissão dos(as) psicólogos(as) não é uma característica recente do atual Presidente da República Jair Bolsonaro. Ainda quando era deputado, em 2011, em entrevista à revista Playboy, o presidente referiu que não acreditava em Psicologia e que, em sua experiência no exército, a Psicologia era aplicada junto a militares com mal comportamento, através de um “cassetete com a palavra ‘psicólogo’ escrita”. Desta infeliz afirmação até os dias atuais, o homem que ocupa o cargo máximo de um país com índices elevados de adoecimentos mentais, tentou por algumas vezes submeter a Psicologia a um lugar acessório e de desserviço à população. Durante a campanha eleitoral de 2018, o então candidato que viria a vencer o pleito, defendeu não raras vezes o direito de os homossexuais encontrarem nos consultórios de Psicologia, a “cura gay”. Em 2019, a nora do presidente manifestou apoio a uma chapa que concorreu a eleição do Conselho Federal de Psicologia tendo como uma de suas pautas a cura gay através de Psicólogos(as). A chapa foi a menos votada. Desde o ano de 1990, a Organização Mundial da Saúde não reconhece mais a homossexualidade como uma doença.
A mais recente sinalização por parte do presidente sobre sua descrença e desvalorização em relação a atuação dos(as) Profissionais Psicólogos(as) foi demonstrada através do veto do governo federal à proposta de inclusão de profissionais da Psicologia e da Assistência Social no atendimento a alunos(as) da atenção básica de escolas públicas. O argumento para tal veto foi o de que, além de a proposta ser inconstitucional, ela contraria os interesses da população. Na contramão disso, no último dia 27, o congresso derrubou o veto presidencial, voltando a garantir a presença desses profissionais nos espaços públicos de ensino básico.
Para além desses movimentos e expressões de desprezo aos profissionais da saúde mental, é válido entender o processo de modificação que a Profissão do(a) Psicólogo(a) vem sofrendo ao longo dos tempos. A Psicologia, que cada vez mais sai do lugar confortável e elitizado do setting terapêutico clássico, amplia suas frentes de atuação na direção daqueles que até a um tempo atrás não pensavam em fazer terapia por se tratar de um lugar distante da realidade de boa parte da população. Hoje não mais, já que a Psicologia está cada vez mais presente em todos os espaços, estendendo os braços para acolher a todos em situação de sofrimento, inclusive as camadas mais marginalizadas, nas periferias, na defesa das mulheres, da população lgbtqia+, da população negra, e sobretudo, na defesa de ideais que libertam os indivíduos de suas prisões mentais. E nada mais marginal para um governo conservador, do que o movimento que uma profissão tão necessária quanto a Psicologia começa a fazer, de sair de um lugar lá atrás, de acesso a poucos e privilegiados, para um lugar aqui, que ultrapassa as paredes da clínica, a fim de repensar e olhar a sociedade por completo, inclusive as minorias, essa parcela da população a quem em um dado momento ali atrás, nosso presidente deu duas alternativas: se adequar a maioria ou sumir.