Ano 08 nº 047/2020 – O emblemático treze de maio e o protagonismo negro / Coluna do Jacinto

 

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Por César Jacinto

Algumas análises que envolvem a data de 13 de maio, oficialmente na história assinalado como dia da abolição da escravidão no país são necessárias para se compreender como de fato este processo ainda marca nossas vidas em pleno século XXI e como foi determinante para os lugares de ocupação da população negra. Convergindo com o pensamento do sociólogo Hasenbalg, a falta de políticas públicas e inclusivas para os ex. escravizados contribuíram para formação de uma população de excluídos que se tornaram os moradores periféricos e distantes dos aparelhos públicos. Já fui questionado sobre qual data seria a mais importante, o 13 de maio ou 20 de novembro? Evidente que ambas têm sua importância, desde que reconhecido o protagonismo do povo negro.

Num primeiro momento é necessário desconstituir a benemerência e o ato de bondade, de uma princesa regente branca chamada Isabel, que foi consagrado por uma historiografia caucasiana de afirmação de uma superioridade racial, ou seja, somente um gesto de extrema bondade vindo de uma nobre poderia encerrar com este nefasto período da história do Brasil. Sabe-se que dois fatores foram decisivos para este acontecimento; primeiro as rebeliões internas e a organização cada vez mais eficaz de negras e negros; o segundo, a revolução industrial inglesa, que necessitava de mercados consumidores e o sistema escravocrata não favorecia esta expansão.

Entretanto quem escreve a história são aqueles, que detém o controle nas relações de poder, portanto sabe-se que esta história registrada não foi escrita pelos negros e seus interlocutores sobre os aspectos que cercaram todo o processo abolicionista no Brasil. A contribuição de intelectuais negros, como Joaquim Nabuco, Luiz Gama, José do Patrocínio, André Rebouças e Castro Alves, dentre outros são invisibilizados por historiadores tradicionais, que abordam o tema não mencionando ou minimizando este protagonismo afro-brasileiro.

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Imagem: https://www.oracaododiaadia.com/preto-velho.html

As múltiplas formas de resistência da população negra evidenciam esta efetiva participação no processo para libertação. Lembramos as negras mucamas que infiltradas na casa grande eram responsáveis por providenciar uma alimentação mais frequente, em maior quantidade e mais consistente para os que estavam na senzala. Eram elas que também obtinham informações importantes que possibilitavam estratégias de fugas e de organização da luta contra opressão. Este passado de lutas é que inspira o movimento social negro contemporâneo na busca de implementação das políticas públicas de igualdade racial com o propósito de reduzir as desigualdades dos negros em relação aos brancos. Depois do avanço das políticas públicas no âmbito das três esferas governamentais, os últimos três anos com ascensão de governos neo-liberais e conservadores, há o perigo de retrocesso e da desconstituição de tudo que já foi construído nessa perspectiva. 

O treze de maio serve como momento de reflexão e de mobilização da militância com intuito de resistir, de reconhecer um passado glorioso de heróis e heroínas negras que romperam todos os grilhões e também de afirmar a nossa negritude perante os desafios da contemporaneidade contra o racismo estrutural e institucional, contra o racialismo, contra a democracia racial e todas as formas de preconceito e discriminação. Pelo respeito a história do povo negro, saudação a nossa falange dos ancestrais pretos velhos, que seguem inspirando nossas lutas. 

César Jacinto é professor, graduaçáo em Pedagogia pela UERGS, especialização em Diversidade Cultural e Mestrado em Ensino pela Unipampa. Escritor, cronista e pesquisador da História e Cultura Afro-brasileira e militante do Movimento Negro.

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