Ano 12 Nº 075/2024 –  De “que tiro foi esse” e “Arrasou viado” a “Sou preta de direita” e “não prometi nada a ninguém” 

Por Arthur Teixeira Ernesto

Nas últimas semanas, a internet ficou surpreendida com a circulação da imagem de Jordana Gleise de Jesus Menezes, artisticamente conhecida também como Jojo Todynho ou Jojo Maronttinni, com a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Ao circular a tal fotografia nas redes sociais/sites jornalísticos e de imprensa, a comunidade LGBTQIAPN+ se revoltou e começou a chamá-la de aproveitadora; outras diziam que não estavam surpresas com a posição da cantora, pois ela já dava indícios de que fosse uma pessoa não tão apoiadora da causa/movimento; e outras mais, assim como eu, ficaram surpreendidas e incrédulas por não acreditarem na foto – por um certo momento eu achei que fosse obra do Chat GPT.

Antes de aprofundar a discussão, é preciso fazer uma breve retomada sobre a vida de Jojo Todynho. Nascida e criada pela sua avó em Bangu, subúrbio carioca (RJ), a cantora na sua adolescência gravava vídeos humorísticos na escola em que estudava, e atrelados à realidade de muitas mulheres negras do nosso país. A artista desde cedo começou a trabalhar como faxineira, profissão essa que muitas vezes passa de geração em geração. Ela também trabalhou como camelô e vendedora de picolé para ajudar no sustento da família.

Os anos foram passando, até que no ano de 2017, com a sua participação curta no clipe “Vai Malandra”, de Anitta, mas que foi o suficiente para despertar a curiosidade e o interesse da população em querer saber “quem era aquela moça que estava dançando/participando do clipe?”. Logo, no mesmo ano, devido a sua ascensão nas redes sociais, Jojo participou da novela “A Força do Querer”.

Em 2018, o hit “Que tiro foi esse?” estourou pelo país e internacionalmente. Lembro-me que era uma canção bem animada, e que dialogava com a vivências LGBTQIAPN+ por conter nas suas letras os linguajares da comunidade, como: “tá um arraso”; “viado”, “samba na cara da inimiga”; “samba, desfila com as amiga”; “Quer causar a gente causa”; “Quer sambar a gente pisa”; “Quem olha o nosso bonde pira”.

Ainda no mesmo ano, a cantora lança outro hit entitulado “Arrasou Viado”, novamente, a canção continha dialetos popularmente usados pela comunidade, como: “Vou tombar com a sua cara”; “arrasou viado”; “Tu deu close de menina” etc.

A partir disso tudo, a cantora começou a ser abraçada e idolatrada pela comunidade, participando de programas de televisão, rádios, e de eventos políticos, como a Parada da Diversidade de SP, na qual discursava em prol das pessoas  LGBTQIAPN+. Cobrava por mais respeito e empatia entre a população, bem como clamava por menos ódio entre os indivíduos etc.

Em 2020, no ano pandêmico que passamos, a digital influencer foi convidada a participar de um reality show de uma emissora de televisão. Me recordo que quem não assistia ao tal programa, passou a assistir por conta da repercussão da participação de Jojo, pois ela apresentava entretenimento, que gerava discussões/polêmicas nas redes sociais, memes etc. Muitos diziam que a artista carregava o programa nas costas por ser uma pessoa com personalidade forte que, por sua vez, acabou sendo vencedora da atração pela sua trajetória durante o programa.

Alusivo ao meme “Que xou da Xuxa é esse?”, eu me auto questiono: “Que personalidade forte é essa?”. Pergunto isso, pois após a circulação da imagem de Jojo Todynho com a de Michele Bolsonaro, a cantora fez uma live em que na ocasião ela menciona que a canção “Arrasou, viado” seria uma homenagem à comunidade LGBTQIAPN+ e não para “levantar bandeira”. Além disso, a artista desbrava e grita “sou mulher preta de direita” – e informou que em 2026 ela viria como candidata nas eleições. A artista afirma a sua posição política, pois segundo o que ela mesma disse, veio de baixo e a esquerda nunca a apoiou. E na mesma transmissão simultânea, Jojo diz “eu não prometi nada a ninguém”, ou seja, essa fala tem relação com diversos comentários sobre a postura da influenciadora. Entre todos, o que mais marcou foi os de TRAIDORA. 

Esse certeiro comentário foi proferido pela Deputada Federal Erika Hilton (PSOL), em que ela completa em um programa de entrevista do YouTube “Não é porque ela é uma mulher, negra, gorda, vinda da periferia, que ela não pode ser de direita. Não é sobre isso. Sabe qual é a diferença dela para todas essas pessoas que eu mencionei agora? É que nenhuma delas usou a agenda e a pauta das pessoas LGBT, dos seus direitos, como trampolim para chegar até lá”.

Fonte: Instagran/Negritudemletras

Eu concordo com o pensamento da deputada, e ao mesmo tempo eu até “entendo” a tomada de posição partidária da cantora, pois sabemos que até mesmo nos espaços políticos de extrema esquerda, esquerda, centro esquerda, que pela sua posição ideológica são os “mais empáticos” e progressistas com as causas minoritárias, mas são os mesmos que são comandados por muitas vezes por homens brancos e héteros. Fazendo com que as mulheres, principalmente as negras, não tenham tanta abertura no âmbito político, fazendo com que o racismo estrutural se perpetue. Assim, nota-se que muitos negros e negras acabam migrando e sendo “aceitos” nos partidos de centro, centro direita, direita e extrema direita [que é o partido que Jojo Todynho está se alinhando, lamentavelmente, pois eles e elas, muitas vezes são vistos como uma figura emblemática para o partido, que é o caso da cantora. 

Diante dessas reflexões, vale destacar que as pautas minoritárias devem ser discutidas em todas as posições partidárias, mas é um pouco duvidoso poder acreditar em partidos que tiram os direitos minoritários, que veem o casamento e a adoção de casais homoafetivos como aberração, que não respeitam as vontades, os desejos das pessoas LGBTQIAPN+, que são os mais conservadores e LGBTQIAPNfóbicos. 

Então, aproveitando que estamos num período eleitoral, no qual vamos escolher os nossos próximos representantes na câmara de vereadores e na prefeitura, eu peço que para quem ainda não escolheu o/a seu/sua candidato/a que repense e analise mais sobre os/as concorrentes, e vejam se as propostas de governo estejam alinhadas com as suas vivências, com as suas necessidades, pois não adianta votarmos em um candidato que, na sua proposta de governo, pretende asfaltar tantos KM, que irá beneficiar apenas os agricultores, e não uma grande população. Então, fica o questionamento… 

Fonte: https://oglobo.globo.com/blogs/sonar-a-escuta-das-redes/noticia/2024/09/17/traidora-entenda-embate-entre-erika-hilton-e-jojo-todynho-apos-influenciadora-se-declarar-preta-de-direita.ghtml

Arthur Teixeira Ernesto é graduado no curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pampa – Campus Bagé/RS. Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Línguas (PPGEL) – Mestrado Profissional em Ensino de Línguas (MPEL) pela Universidade Federal do Pampa – Unipampa Campus Bagé/RS. Membro/pesquisador no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas Oliveira Silveira – Neabi Oliveira Silveira. Integrante do Centro de Escrita da Unipampa – CEU.  Membro do Núcleo de Estudos em Inclusão – NEI.

Comentários
  1. Rafael Silva

Deixe seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Junipampa