Ano 03 Nº 033/2015 – Você é um hater?

Nos últimos meses temos testemunhado diversos casos de agressão nas redes sociais. Hater, uma palavra que vem do inglês – que em uma tradução literal significaria “odiador”-, é uma pessoa que usa as redes sociais para disseminar ódio contra alguém/alguma coisa. O caso mais recente é o de Taís Araújo, vítima de ofensas racistas em sua página no Facebook. Antes disso tivemos Tainara de Jesus Santos, ganhadora de um concurso de beleza em Goiás, também alvo de ofensas racistas. O mesmo ocorreu no famoso caso Maju. Já a presidente Dilma Roussef parece ser uma constante de inúmeros casos de agressão tanto nas redes quanto fora dela. Mas o que há por trás de tanto ódio? De tanta violência? E quanto àquelas pessoas que são agredidas, mas não tem apoio em massa por serem anônimas?

Na primeira semana deste mês de Novembro, Taiane Volcan e Mabel Teixeira, ambas da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL) e atuantes em pesquisa na área das redes, estiveram na Unipampa- Campus Bagé, ministrando a palestra “O Discurso para/e na internet”, no qual falaram dos diversos discursos presentes na esfera web. Tal discussão foi desde a linguagem comum a essa esfera, carregada de informalidade, até os diversos casos de agressão nas redes.

Taiane Volcan, à esquerda, e Mabel Teixeira, à direita, durante a palestra “Discurso para e na internet”. Foto: Mariana Grego.

Taiane Volcan, à esquerda, e Mabel Teixeira, à direita, durante a palestra “Discurso para e na internet”. Foto: Mariana Grego.

De acordo com Volcan, a agressão nas redes se caracteriza principalmente pela atuação em grupo. Ou seja, não há apenas um agressor, mas um grupo de agressores que se reúnem em espaços virtuais onde se organizam para agir em determinado momento, seja através de comentários violentos em massa em determinadas páginas, como o ocorrido com Taís Araújo, ou derrubando páginas, como vem ocorrendo com diversas páginas relacionadas ao movimento LGBTT, ao movimento feminista e ao movimento negro.

A violência na rede, no entanto, não surge na rede, como afirma Mabel Teixeira, ela é apenas reflexo de valores e pensamentos, muitas vezes preconceituosos, já carregados pelas pessoas. E são essas pessoas que, ao encontrarem nas redes sociais um sentimento de anonimato e impunidade como consequência do anonimato, produzem discursos de ódio. Para isso, segundo Taiane Volcan, se valem de estratégias como o uso de perfis falsos, tanto para publicar comentários preconceituosos como para difamar pessoas.

Foi exatamente através do uso de um perfil falso que uma grande polêmica se instaurou na vida da estudante Fernanda Senna, estudante de 19 anos da cidade de Lavras, Minas Gerais. Senna está na organização do Segundo Encontro de Cabelos Crespos, evento que tem como objetivo discutir questões como a representatividade e o orgulho negro, assim como propor debates sobre as questões da negritude no Brasil.

De acordo com a estudante, o evento no Facebook do encontro em questão foi atacado por um grupo racista. Ela, então, usou as redes sociais para denunciar esses atos e começou a ser atacada. Uma conta fake foi criada com seu nome, postando fotos e mensagens de ódio aos animais, principalmente em comunidades dedicadas ao cuidado e adoção de animais. “Entrei em choque quando vi meu Facebook rodando grupos que nunca tinha visto, com uma postagem falsa em meu nome dizendo que matei/maltratei um cachorro. Por um momento achei que eles teriam entrado no meu Facebook, depois caiu a ficha que haviam feito um fake do meu perfil.”, explica Fernanda Senna.

Foto: Print de um dos ataques incitando que fossem feitos comentários agressivos no evento do Facebook.

Foto: Print de um dos ataques incitando que fossem feitos comentários agressivos no evento do Facebook.

Infelizmente, a internet ainda tem o poder de reunir pessoas para fazer coisas que sozinhas elas não fariam. Essa é a grande ferramenta da mobilização do ódio na internet. Mas da mesma maneira que mobiliza para o mal, também tem suas vantagens para o bem. Mabel Teixeira explica que quando casos de ódio ocorrem na internet há “uma vantagem que é a visibilidade”. Ou seja, há na maioria dos casos como rastrear o(s) agressor(es) e, consequentemente, denunciá-los. Atitude essa que foi tomada por Fernanda Senna, que afirma estar tomando medidas legais a respeito do caso, assim como a outros comentários agressivos postados em comentários de uma publicação do jornal LavrasOn sobre os mesmos ataques.

Foto: Fernanda Senna

Foto: Fernanda Senna

Mas e a causa de ataques como esse? Onde começam os atos racistas? Onde começa a violência? Não, tais coisas não começam no Facebook, nem em rede social alguma. Como afirmado por Mabel Teixeira, “a internet não torna as pessoas mais violentas, a internet só expõe a violência das pessoas”.

Escrito por Larissa Assis e Melissa Barbieri, bolsistas do Laboratório de Leitura e Produção Textual- LAB (PROEXT-MEC).

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