Ano 03 Nº 029/2015 – Travessias: a fotografia do que se calou para o que se sentiu

Era tarde de outubro, as folhas frescas de cessadas chuvas constantes e os tímidos botões de flores que, enfim, arriscavam-se aos ares ainda condensados, anunciavam que era primavera na pequena Bagé. Andando pela cidade com uma câmera em meu pescoço, vou de encontro a uma exposição que se intitulava “Travessias”, do bageense Julio Pimentel. Ainda sem saber ao certo o que estava à minha espera, minha única certeza é que a expressão de seu nome me remetia a uma viagem: mal sabia que, na verdade, o destino caminharia para o reviver do que curiosamente não se viveu.

Painel de entrada da exposição Travessias. Foto: Suélen Mena

Painel de entrada da exposição Travessias. Foto: Suélen Mena

Continuo meu andar atento por dentre os semáforos e enfim chego ao meu destino. Ansiosa, adentro desejando “Boa Tarde” ao moço que sorria no portão principal e dirijo-me à moça de cachos ruivos que, receptivamente, aguardava-me na porta. Ela, por sua vez, desejava-me “uma boa exposição”, durante o relato de que seria a mediadora da visita. Logo, contemplo a primeira sala onde se encontravam as obras e, lentamente, permito-me sentir a calma daquele espaço que, em meio à natureza transbordava na delicadeza do cantar dos pássaros que a paz acabava por instalar ali. Sem mais, enquanto ouvia as histórias do que ali estava exposto, começo a me familiarizar com as fotografias e analisá- las uma a uma. Aceno com um ar de consentimento à mediadora, após ela ter se posto à minha disposição para sanar os questionamentos que, por ventura, acabassem por se fazer presentes e que poderia ficar o tempo quisesse.

Sozinha na sala, seguro com as duas mãos a câmera, propondo- me a registrar não apenas imagens, mas as cenas que de algum modo pudessem remeter a quem, em qualquer circunstância, viesse a embarcar na viagem de minhas palavras, o sentimento de que Bagé é majestosa. Seja na arquitetura de suas construções centenárias, ou no lúdico brilho do guri e da guria que, pilchados à la bagual, acompanham seu velho pai no passeio entre as vielas encantadas.

Enquanto transitava pelo piso que remetia madeira, atentava aos detalhes das técnicas que se confundiam pelas paredes brancas e iluminadas. Pelas fotografias, a ilusão que pairava em meus olhos, pois o que se via eram pinturas que, no enlace das texturas, sobreposições e colagens, aquarelavam minh’alma de modo que, de relance, transportei-me para a essência dos sucumbidos olhares, soluços e perseverações do autor. Assim, sentei- me ao chão para encontrar um melhor ângulo, mas para minha surpresa, vendo as situações que circulavam à minha volta, me vi criança, bailando no auge dos meus 10 anos e relembrando que na arte estará sempre aberto um portal de travessias… Para o que se viveu, para o que se quis viver, ou para o mundo que se acreditar será. Senti, vivi, vivo e meus olhos brilham a cada palavra que aqui lhes deixo como registro. A Julio Pimentel, saudações de mais uma admiradora!

 * A Exposição “Travessias” de Julio Pimentel continua disponível para visitação até o dia 21 de novembro, de segunda a sábado, das 13:30 às 18:30, no Da Maya Espaço Cultural. A entrada é gratuita e é possível realizar o agendamento para grupos sejam escolares ou não.

Endereço: Av. General Osório,572- Centro- Bagé/RS

Para mais informações sobre o Espaço, visite o site: damayaespacocultural.art.br/

 

Escrito por Suélen Mena, bolsista do Laboratório de Leitura e Produção Textual- LAB (PROEXT-MEC) e do projeto Astronomia Para Todos.

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