Ano 03 Nº 031/2015 – Teatro VagaMundo apresenta espetáculo Banana com Canela em Aceguá e Jaguarão

A ação faz parte das atividades desenvolvidas pelo PEIF e LAB  da Unipampa

 

Se Palhaço é um homem todo pintado de piadas, como diz a letra da música d’O Teatro Mágico, foi o riso que ele provocou que ecoou nas paredes do Ginásio da Integração, em Jaguarão, RS. No dia seguinte ao dia das Crianças, palhaço Rabito, vestido de cores e brincadeiras, mal entrou em cena e já surpreendeu os pequenos com trapalhadas. É que as escolas municipais Padre Pagliani, General Antônio de Sampaio, Fernando Corrêa Ribas, Escuela Nº 05 e Escuela Nº 12, representadas por estudantes e professores, foram prestigiar a apresentação do espetáculo Banana com Canela, do Teatro VagaMundo. O espetáculo foi apresentado, também em Aceguá, para as  escolas Nossa Senhora das Graças e Escuela Nº 74, em setembro.

Os colégios são participantes do Programa de Escolas Interculturais de Fronteira PEIF – UNIPAMPA, que é um Programa do Ministério da Educação (MEC) realizado na zona de fronteira do Brasil com os países vizinhos, que se estendem do Oiapoque ao Chuí. Em parceria com instituições gestoras educativas uruguaias, a UNIPAMPA desenvolve ações de formação continuada para os professores dessas escolas desde

Rabito com professoras das escolas de  Rio Branco. Foto: Lisandro Moura

Rabito com professoras das escolas de  Rio Branco. Foto: Lisandro Moura

Antes de Rabito pisar no palco do ginásio em Jaguarão, a ansiedade tomou conta dos pequenos. Sentados em torno da casa do palhaço, as crianças contaram sobre as expectativas. “A gente tava zoando o palhaço lá na sala de aula, a gente dizia assim: Banana com Canelita. E um amigo meu também tava zoando, dizendo que ele estaria vestido de uma banana com canela”, contou Arthur, de 6 anos . Um tanto do sotaque uruguayo se destacava na fala, apesar de Bernando ser brasileiro.

Depois do espetáculo, em que palhaço Rabito arrancou muitas gargalhadas, chamou as crianças para participar e fez até brincadeiras com os professores, os pequenos se identificaram com o personagem. “Achei engraçado quando ele colocou as bananas para vender”, disse Marcela Ferreira, de 8 anos.“Eu gostei da parte que ele virou o copo sem cair, mergulhou no copo e quando ele levantou a bicicleta sem cair”, contou Bernando, 5. “Gostei quando ele subiu na bicicleta”, Margarida, 6. “A parte que ele começou a dançar foi bem engraçada tícia Costa, 12. “A hora que ele jogou água nas crianças foi a melhor parte”, Isadora da Silva, 12. As falas são de crianças brasileiras e uruguaias, que vivem em Aceguá, Jaguarão e Rio Branco.

Crianças se divertiram com a apresentação. Foto: Mariane Rocha

Crianças se divertiram com a apresentação. Foto: Mariane Rocha

E se antes, a ponte entre Jaguarão (Brasil) e Rio Branco (Uruguai) dificultou o encontro, os pequenos estavam, naquele momento, unidos pela arte do riso. E este é um dos objetivos do Programa de Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF): integrar, como explica a coordenadora adjunta do PEIF em Jaguarão, Ida Maria Morales Marins. “O trabalho vem acontecendo em um processo de mais de dois anos, com a expectativa que a gente consiga, através da interculturalidade, despertar este olhar sensível para as comunidades daqui do Brasil, em Jaguaraão e Rio branco, neste contexto. Para que as escolas se sintam parte deste espaço, como espaço integrador. A cultura vem possibilitar através do eixo interculturalidade essa proximidade entre os dois lados. Realmente a ponte fica mais no sentido do imaginário, ela não é um lugar de separação, então a gente quer desconstruir essa ideia possibilitando a integração e através de projetos que possam cumprir esse papel.”

Para a Coordenadora da Educação Infantil da Secretaria Municipal de Jaguarão, Dynara Martinez, o teatro ultrapassa as diferenças. “O humor transpassa barreiras, ele transpõe tudo isso: é criança, adulto, idoso, todo mundo se diverte e ri muito. Acho que o humor e o palhaço em si não têm fronteiras, independente da língua que ele fala e do país que ele venha, mesmo sem falar, vai conseguir se comunicar”, ressalta.

Se engana quem pensa que viver em cidades gêmeas representa circular constantemente entre as duas. Segundo a professora de educação infantil da Escola Padre Pagliani, Sinara Pereira dos Santos, alguns alunos nunca atravessaram a ponte que une Jaguarão a Rio Branco. “Quando a gente fez o trabalho este ano, eu tinha alunos que não conheciam o lado uruguaio. Pedi para falarem dos freeshops e alguns nunca tinham ido”, explica, se referindo ao projeto que trabalha a cultura uruguaia em sala de aula. A Secretaria de Educação é responsável pela ação que é realizada do pré ao sexto ano. Depois é produzida uma Mostra em que os estudantes apresentam a cultura dos hermanos.

A dificuldade em atravessar a ponte ficou evidente também quando a professora uruguaia, Judith Rosário, explicou que os alunos foram assistir a apresentação com os pais, e os professores foram de forma independente. “Fica complicado de atravessar a fronteira, por isso não tem tantos eventos que são realizados juntos, entre Brasil e Uruguai. E acho que é uma boa oportunidade para os alunos interagirem e se conhecerem”, ressalta.

Clara Dornelles animando o público antes do início do espetáculo. Foto: Lisandro Moura

Clara Dornelles animando o público antes do início do espetáculo. Foto: Lisandro Moura

A coordenadora geral do PEI PAMPA, Clara Dornelles, fala sobre o trabalho desenvolvido pelo Programa junto ao Laboratório de Leitura e Produção Textual (LAB – PROEXT/MEC), por meio do projeto Diálogos entre Arte, Cultura, Educação e Comunicação. Ela explica que os encontros possibilitam que haja um reconhecimento do outro e uma construção a partir destas relações. “A gente tem que construir sensibilidade para se inserir nestas comunidades, e a gente nunca sabe até aonde pode ir. Esse momento do espetáculo é um momento das pessoas se mostrarem de outro jeito, de estarem ali à vontade, uma não ser o foco da outra, porque o foco ali era o palhaço.  Então ele possibilita mexer nessas estruturas que estão pré estabelecidas e criar novas formulações das relações culturais e profissionais nesses contextos. Assim o objetivo do LAB se articulou ao do PEIF e integrou professores, pais e crianças pelo riso, para além da sala de aula e dos momentos de formação mais institucionalizados”.

E quando Rabito passou a ser Daniel Lucas, o ator, ele falou sobre o papel do circo nesta integração. “Mesmo que seja apenas por uma hora, é como se nós déssemos um pontapé e deixássemos rolar agora. E os professores, secretários, como secretário da cultura e educação, e outros profissionais precisam abrir o olho para isso, para não deixarem as coisas esfriarem. Abrir para vários tipos de interação. O circo vem para presentear, para fazer uma grande comunhão entre público e palhaço, todo mundo junto. A nossa proposta é criar esse misto de festa e caos, o que se deu tanto em Aceguá como em Jaguarão: festa, cadência do espetáculo e riso. Hoje um menino falou assim: foi o melhor presente que eu ganhei de dia das crianças, e me de um abraço, então é mágico.”

Para Clara, esta inserção na comunidade é essencial para que haja trocas efetivas. “Acho que não dá para querer integração se não houver encontro. Nesse sentido, vejo o PEIF e o LAB como projetos que têm possibilitado que a universidade construa junto com a comunidade. E isto é fazer extensão.”

Palhaço Rabito durante apresentação do espetáculo Banana com Canela. Foto: Mariane Rocha

Palhaço Rabito durante apresentação do espetáculo Banana com Canela. Foto: Mariane Rocha

 

Escrito por Giuliana Bruni, jornalista colaboradora do LAB.

Assista a seguir o vídeo que mostra parte do espetáculo Banana com Canela em Jaguarão:

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