Ano 07 nº 014/2019 – Relato dos Venezuelanos
Por Ana isabel Amorim,
Gabriela Barboza,
Raissa G Ferreira,
Marcia Charqueiro.
O curso de Licenciatura em Letras – Línguas Adicionais: Inglês, Espanhol e suas respectivas literaturas da Unipampa, Campus Bagé, tem como matéria obrigatória o componente curricular Ensino de Português como Língua Adicional. O objetivo deste componente é preparar profissionais para o ensino da Língua Portuguesa para não falantes deste idioma. Assim, no decorrer do semestre de 2018/2, nesta matéria, desenvolvemos uma pesquisa envolvendo o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa por venezuelanos. Isto fora feito através da observação de algumas aulas do PLA para imigrantes venezuelanos, entrevistas com os mesmos e uma entrevista com a professora responsável pelo ensino destes alunos, o que tornou possível entendermos melhor alguns aspectos essenciais nos processos de ensino e aprendizagem de línguas adicionais.
Em uma casa no bairro Menino Deus, uma família de venezuelanos recebem aulas de Língua Portuguesa. A professora, formada em Letras – Língua portuguesa e Literatura pela UFPel, atualmente cursando o curso de Letras – Línguas Adicionais: Inglês, Espanhol e Suas Respectivas Literaturas, pode ingressar no Programa Idiomas sem fronteiras, como docente de Português como Língua Adicional. Participando do projeto desde setembro de 2017, a professora em questão passou a dar aulas desde março de 2018 aos venezuelanos. Movida pela curiosidade acadêmica, tornou a notar em cada aula que ensinar o português para alguém que já possui outra língua materna é muito diferente do que ensiná-lo para quem o tem como língua nativa.
Assim, juntando a leitura de teóricos com a prática, esta professora tem levado a docência a um nível mais humanista, promovendo aula do idioma português e um intercâmbio cultural a essa família que veio de tão longe em busca de oportunidades.
Ao entrevistar, tanto a professora quanto a família venezuelana, foi possível notar a afeição e o respeito criados durante as aulas ao decorrer do ano entre a docente e os alunos. Mais que um momento de aprendizado, é um momento de acolhimento, de aprender novas culturas e novos idiomas, mantendo, evidentemente, seus idiomas e culturas respeitados.
Desta forma, através de um ensino humanizado, a professora promove o ensino da Língua Portuguesa não somente como forma de sobrevivência em um país estrangeiro, mas como mais uma característica dentro de uma identidade multifacetada. O maior desafio dentro deste tipo de ensino é adaptar conteúdos extensos em aulas curtas. Como transformar um conteúdo que necessita de 4 a 6 horas de estudo em uma aula de 2 horas? Segundo a professora, isso é feito em tardes de planejamento que levam de 3 a 6 horas. Para tornar esse ensino útil, ela foca no ensino de português para situações práticas cotidianas, fazendo com que seus alunos desenvolvam uma base para conviver e se comunicar na sociedade brasileira. Esse processo tem como recursos o celular, o notebook, a internet e um quadro branco que tem como objetivo trazer a sala de aula para a sala desta família.
Aprender uma segunda língua nunca é fácil. Mas estar em um país estrangeiro tendo que aprender o idioma nativo como forma de sobrevivência é um desafio que eleva os níveis de dificuldade trazidos no processo de aprendizagem. Ao questionar tanto a professora quanto seus alunos sobre a dificuldade ao aprender português, a resposta foi a mesma: os maiores desafios para os estrangeiros giram principalmente em torno de palavras similares com significados diferentes, palavras nasais, palavras que contenham “r”, fenômenos linguísticos esses incomuns em seu idioma materno, mas de uso cotidiano no Português do Brasil.
Dentre as razões que os trazem a esse novo país, a família venezuelana demonstrou na entrevista, em seus relatos, gostarem de aprender português. Em meio a brincadeiras com a professora e muitas risadas, eles contam, juntos, que se esforçam para aprender a língua para que possam conviver socialmente, trabalhar, estudar e seguir suas vidas de forma satisfatória. Dizem sentir falta de alguns alimentos comuns na Venezuela, estranhar o frio e a quantidade de roupas necessárias para enfrentá-lo, se surpreender com os mercados tão cheios de comida, diferentemente do que encontravam em seu país, e se sentir acolhidos pela professora. Apontam, ainda, a dificuldade em compreender quando o outro fala rapidamente e de pronunciar corretamente as palavras. Entretanto, se encontram dispostos a aprender essa língua, visto que é através dela que eles têm a oportunidade de recomeçar suas vidas no Brasil.