Ano 06 nº 060/2018 – Políticas Linguísticas e de Letramentos: minhas escolhas

professor

Por Patrícia Forgiarini Firpo

O campo das Políticas Linguísticas é bastante complexo e heterogêneo. Sendo assim, conceituar o que são Políticas Linguísticas também é um desafio, uma vez que há uma tênue fronteira entre as políticas de planejamento linguístico (SPOLSKY, 2004) e as políticas linguísticas de fato (SHOHAMY, 2006), suas inter-relações, implicações e influências na vida dos indivíduos e comunidades.

Com base nas leituras realizadas no âmbito do componente curricular “Políticas Linguísticas e Educacionais”[1] compreendi que Políticas Linguísticas “são escolhas ideológicas feitas individual ou coletivamente, que não se restringem às escolas ou órgãos governamentais, mas estão presentes nas relações entre as pessoas e/ou grupos de pessoas como, por exemplo, na família e influenciam os usos de línguas/linguagens, podendo gerar forças de resistência ou submissão, ou ainda, acomodação.”

Neste processo de aprendizagem Torquato (2016, p. 429) ao fazer uma análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa que, de acordo com a autora, configuram-se como política linguística oficial de Estado, contribuiu com meu aprendizado ao relacionar as Políticas Linguísticas às Políticas de Letramento e a identidades, quando afirma que:

No estudo dessas políticas linguísticas, focalizamos especialmente as políticas de letramento, pois entendemos que os modos de produção e circulação e as funções da escrita estão intimamente relacionados com as ações sobre as línguas nas diferentes sociedades/comunidades. Além disso, entendemos que as políticas linguísticas e de letramento constituem políticas de identidades, uma vez que integram a cadeia discursiva de construção de identidades dos sujeitos.

Torquato (2016, p. 427) também constata que os documentos “ao promoverem determinadas políticas de letramentos, promovem também conflitos interculturais, pois privilegiam os letramentos dominantes, silenciando outras práticas de letramento”.

A partir de constatações como essas, percebo o importante papel do professor enquanto agente de Políticas Linguísticas locais em suas práticas pedagógicas cotidianas, através de escolhas conscientes de resistência (ou não) frente a recomendações oficiais que possam influenciar negativamente o processo de aprendizagem dos alunos em contextos variados de letramento.

Em minha prática profissional e acadêmica exerço o papel de agente de Políticas Linguísticas ao escolher realizar minhas pesquisas e intervenções pedagógicas tendo como base os Novos Estudos do Letramento. Essas novas perspectivas teóricas distanciam-se do modelo autônomo de letramento, que o conceitua como uma habilidade neutra e técnica e, em oposição, defendem uma concepção mais ampla, o modelo ideológico, segundo o qual leitura, escrita, oralidade são considerados, sob uma perspectiva etnográfica  e transcultural, como práticas sociais, ideológicas, culturais, tendo em vista o contexto local (STREET, 2014).

E é sob essa perspectiva ideológica de letramento que estou desenvolvendo no âmbito do mestrado profissional em Ensino de Línguas minha pesquisa que tem como título: “Práticas de Letramento Acadêmico Incentivadas por Atividades Pedagógicas em Ambientes Virtuais de Aprendizagem”, que tem como objetivo desenvolver e implementar uma proposta pedagógica na perspectiva do letramento como prática social e investigar as potencialidades dos ambientes virtuais na apropriação de práticas de letramento acadêmico no processo de construção de uma comunidade colaborativa online por e com alunos ingressantes no Ensino Superior.

É desta forma, expondo e contextualizando minhas escolhas, que compreendo minhas pesquisas à luz das Políticas Linguísticas e Educacionais.

Referências:

SHOHAMY, E. (2006). Language policy: hidden agendas and new approaches. London: Routledge.

SPOLSKY, B. (2004). Language Policy. Cambridge: Cambridge University Press.

STREET, B. V. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. Trad.: Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2014. 240p.

TORQUATO, Cloris Porto. Documentos Oficias Relativos ao Ensino de Língua Portuguesa, Interculturalidade e Políticas de Letramentos. SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 19/1, p. 426-458, jun. 2016.

[1]Componente curricular eletivo do Mestrado Profissional em Ensino de Línguas da Unipampa, campus Bagé/RS.

FonteImagem:http://www.sosprofessor.com.br/blog/wpontent/uploads/2013/07/escolhas-199×300.jpg

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