Ano 03 Nº 032/2015 – Palestra de Carlos Recuero discute a fotografia como instrumento de pesquisa
Refletir sobre a fotografia nos permite conhecer novas propostas, novos estudos e novos viés sobre a mesma. É este o caso do Projeto Fotoetnográfico Ilha dos Marinheiros, realizado na UCPEL- Universidade Católica de Pelotas. E foi para falar sobre fotografia, sobre pesquisa e sobre o projeto fotoetnográfico Ilha dos Marinheiros que o Dr. Carlos Leonardo Coelho Recuero ministrou a palestra “A Fotografia como Instrumento de Pesquisa”, no mês de outubro, na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).
A palestra tinha o intuito inicial de apresentar ao LAB (Laboratório de Leitura e Produção Textual) a importância de mais uma abordagem de pesquisa (por meio da fotografia), que pode ser utilizada nos projetos desenvolvidos pelo Junipampa. Porém, o tema despertou o interesse de pessoas externas ao grupo de pesquisa, o que implicou na transformação de um simples evento “fechado” em uma palestra aberta para a comunidade da Unipampa e demais interessados.
Em entrevista ao Junipampa, o professor Carlos Recuero contou sobre sua experiência na pesquisa fotoetnográfica que vem sendo desenvolvida por ele e seus bolsistas há 16 anos na Ilha dos Marinheiros. Quando questionado sobre o porquê da escolha da Ilha, Recuero disse que a ilha é um mundo à parte do continente e, assim, segundo ele, consegue aproximar-se melhor de seus moradores. A importância dessa pesquisa se dá pela descoberta dos moradores de que suas memórias e crenças podem ser retratadas com a fotografia. Recuero afirma ainda que ao longo do projeto os moradores demonstraram interesse em retratar acontecimentos que para eles são costumeiros, mas que para nós chega perto do extraordinário por tamanha simplicidade. Um exemplo citado foram os arcos colocados em frente à igreja matriz da ilha, nos quais há uma gama de cores. Cada cor tem um significado e para entrar na igreja é necessário que se passe debaixo dos arcos. E, ao passar pelos arcos, os moradores acreditam que uma limpeza espiritual acontece, limpeza esta que permite que a pessoa esteja apta para adentrar a igreja.
Ainda de acordo com Carlos Recuero, a “possibilidade da imagem técnica, com uma câmera digital ou uma máquina fotográfica, difundiu o uso da imagem em tudo (…) Saber usar essa imagem na pesquisa é fundamental para um pesquisador moderno. Hoje, todos os jornalismos online privilegiam o contar de histórias não só através de texto, mas principalmente com imagens fotográficas. Não a imagem que filma, pois o movimento nos perturba, mas a imagem estática que para e permite que a gente possa observar, ler e reler essa imagem.”
Participaram da palestra docentes e discentes de várias areas da Unipampa e também com discentes da Urcamp do curso de Jornalismo. O prof. Luís Brudna da Licenciatura em Química nos contou que usa a fotografia como passatempo pessoal e como meio de divulgação na internet, mas também adiciona: “O foco da palestra esteve um tanto distante do uso que faço da fotografia na divulgação da ciência, e do meu interesse pessoal em fotografia. Não que isso seja um problema”. O professor da Licenciatura em Física, Guilherme Marranghello, disse que o que o motivou a assistir a palestra foi exatamente o uso da fotografia como objeto de pesquisa e que: “O trabalho desenvolvido na Ilha dos Marinheiros é muito interessante, gostei muito. Continuo com algumas dúvidas sobre o uso da fotografia como instrumento de pesquisa, mas gostei de ouvir um pouco mais sobre pesquisas etnográficas e diferentes possibilidades para sua execução”.
Participantes de outras instituições também assistiram a palestra, como a aluna do Instituto Federal de Educação (Ifsul), campus Bagé, Rithiéli Soares Pinheiro, que nos falou sobre o que chamou sua atenção na fala de Recuero: “ Uma coisa que me chamou atenção e que eu pratico muito, que é o uso de ‘editores de imagem’. Ele falou que devemos prestar muita atenção no ângulo da foto, como está o contraste, para não precisarmos editar, pois algumas vezes acabamos modificando-a”. Sobre a pesquisa relatada na palestra, Ruthiéli conta ter achado interessante a metodologia, que sintetizou da seguinte forma: “(…) alguns alunos se reúnem e ficam em uma Ilha para fazer os projetos e discutirem sobre o trabalho. Vão a um lugar no qual fazem visitas a algumas famílias, tiram fotos, fazem entrevistas, e segundo o que o palestrante contou o grupo visitam sempre a mesma família. Eu achei muito legal, gostaria muito de fazer visitas como estas. Eu pretendo ter mais experiências sobre esse assunto, quero participar de projetos e creio que me ajudará bastante”.
E, segundo Recuero, o diferencial da pesquisa realizada na Ilha dos Marinheiros é exatamente esse cunho etnográfico, ou seja, a convivência dentro da comunidade em questão para a realização do projeto. Ele afirma que “a importância de trabalhar fotografia numa pesquisa etnográfica é porque quando tu falas das pessoas, existem situações que tu não podes dizer com palavras. Existem imagens que são indescritíveis e com a ajuda da fotografia tu podes tentar materializar esse fato.”
Escrito por Larissa Assis e Melissa Barbieri, bolsistas do Laboratório de Leitura e Produção Textual- LAB (PROEXT-MEC), Rebeca Recuero, doutora e mestre em Ciências da Comunicação, bolsista CAPES e professora na UFPEL, e Clara Dornelles, coordenadora do projeto de extensão LAB e professora na UNIPAMPA.