Ocupação na escola Gaspar Silveira Martins: A luta que também é nossa

Flávia Azambuja, Melissa Barbieri

Ao chegarmos a uma escola no centro da cidade de Bagé, ansiosas por falar com estudantes corajosos e dispostos a lutar por seus direitos, nos deparamos com jovens mais tímidos do que esperávamos. Sentados em cadeiras no pátio da escola conversavam sobre coisas cotidianas da rotina da escola onde estudam, mas ao iniciarmos um diálogo com eles se mostraram mais reservados. Por outro lado, o que tinham de tímidos, foram mostrando, ao longo de nossa conversa terem de conscientes e determinados a mudar suas realidades. Mostraram-se organizados, revelando que realizam uma escala entre eles para que a escola sempre se mantenha ocupada. Expressaram também os seus motivos para não dormir na escola, à noite, e principalmente os motivos por estarem ali durante boa parte de seus dias.

Motivos e/ou direitos que já deveriam estar estabelecidos, como o direito ao lazer e a aulas de educação física de qualidade com a entrega do ginásio, que segundo os alunos João Vitor Severo e Laura Teixeira, ambos de 17 anos, está quase pronto, mas com as obras paradas. Também lutam por direitos elementares, como direito à alimentação, já que as verbas destinadas a merenda não são suficientes.Tais motivos já legitimariam a presença desses alunos na escola, mas além disso, eles lutam igualmente pelos direitos dos professores: o de ter seus salários em dia, sem parcelamentos, o direito de trabalhar com dignidade.

Os alunos que ocupam a escola já há uma semana somam cerca de 50 a 60 alunos no total, mas os alunos que mesmo não ocupando, apoiam a luta de seus colegas e professores, é ainda maior, como nos conta João Vitor Severo com um jeito de falar calmo, mas determinado.

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Imagem de um dos cartazes espalhados pela escola

Foto: Flávia Azambuja

“Foi de um dia para o outro”, explica Laura, quando perguntada sobre o processo que os levou à decisão de ocupação. Segundo seu relato, levou apenas algumas reuniões, discussões, além de uma decisão na terça-feira passada (17/05) que levou a um manifesto e, na quarta-feira, à ocupação. Mas esse caráter repentino da ocupação não significa que suas pautas tenham surgido só agora. Ao contrário, situações como a do ginásio e de repasse de verba insuficiente para as necessidades da escola se arrastam já há algum tempo, como vão nos contando ela e seu colega durante nossa breve conversa. Se pudéssemos definir em uma frase certamente essa seria: é uma luta que boa parte da comunidade só tem a oportunidade de ver agora, mas que não é de hoje.

Ouvimos falar que essa luta não é dos alunos, mas sim dos professores, e que esses jovens estariam sendo manipulados. Manipulação e influência parecem divididos por uma linha tênue, e o que é o professor senão um eterno, não manipulador, mas influenciador. Influenciamos quando falamos, quando silenciamos, quando escolhemos ou não, quando agimos ou não. Acreditamos que a luta pela Educação é de todos e como professoras só temos de agradecer por esses alunos que fazem das nossas lutas, as suas. A esses alunos nosso muito obrigada, como muito bem dizia em um dos cartazes: #Essalutaénossa.

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