Ano 04 nº 005/2016 – Aprendendo/ensinando com a musicalidade
Débora Bosco
Este relato intenciona explanar sobre o desenvolvimento do projeto “Aprendendo/ensinando com a musicalidade”, com o PRÉ II (alunos de 5 e 6 anos) da Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria de Lourdes Machado Molina, no município de Bagé – RS, com o trabalho da equipe diretiva¹, da professora Débora de Macedo Cortez Bosco² e do monitor do projeto Mais Educação da escola, propiciado pelas ensinamentos do curso Música nas escolas do RS. A referida proposta ocorreu no período de setembro/2014 até dezembro/2015.
Os objetivos deste trabalho foram promover/desenvolver a sensibilização, humanização e socialização, utilizando recursos musicais, para um melhor viver/conviver, tornando o ambiente saudável para construções de aprendizagens; e propiciar oportunidades em que os alunos aprendam efetivamente pela fruição, que a musicalidade promove, nas expressões corporais, faciais, verbais, matemáticas, rítmicas e desenvolvimento das Artes (abstrações representadas).
Esta proposta foi ao encontro, primeiramente, da intenção de usar a musicalidade (músicas serenas, instrumentas e com sons da natureza) como possibilidade de minimizar os comportamentos agressivos, que eram bastante reincidentes, quando se iniciou o trabalho com a turma (setembro/2014). Buscou-se a intenção, sem grandes pretensões, por não ter formação específica, uma abordagem de sensibilizar pela música, para mentalizar sentimentos bons, acalmar, fazer relaxamento mental e físico, visando a sensação de pertencimento à natureza: “A arte atua como meio emocional do indivíduo e promove nele a necessidade e o desejo de intervenção, pelas ‘leis da beleza’, no meio natural e social em que se desenvolve.” (ESTÉVEZ, 2009, p. 40), portanto, ao meio social (principalmente ao grupo da aula), capacidade de concentração, autocontrole e oportunidades de muitas aprendizagens/ensinagens.
Além disso, prioritariamente, destacar que as práticas musicais colaboram no desenvolvimento integral do ser humano, colaborando no crescimento global do indivíduo, entendendo o ensino e a aprendizagem da música como uma área de conhecimento que envolve e desenvolve o ser humano em sua integridade (MATEIRO e ILARI, 2011).
A partir do diagnóstico da turma, inicialmente buscou-se a socialização adequada, contendo atitudes de agressão física e verbal no grupo e, fundamentalmente, para estabelecer regras de convivência coletivamente, com músicas serenas e com sons da natureza, propiciando atividades de concentração, reflexão e relaxamentos físico e mental.
Posteriormente, foi-se aliando os conhecimentos curriculares necessários para tal nível de escolaridade, com músicas pesquisadas que tematizavam os conceitos dos Componentes Curriculares, variando as propostas com danças, cantos, uso de instrumentos musicais, visualização e escuta de bandas (banda do exército no dia da criança e banda da escola) e grupos artísticos, expressões com trabalhos manuais e de sensibilização humana, autoconhecimento corporal e dos sentidos.
Buscou-se, sempre que possível, que todas as atividades perpassassem a música, ou fossem desencadeadas por ela, a partir da enorme gama de letras musicais, prioritariamente, infantis, que oportunizam o trabalho com o corpo, o movimento, o espaço (por intermédio da dança), a expressão linguística, principalmente a oralidade (pelo canto) e a coordenação motora ampla e fina (através da manipulação de instrumentos musicais), explorando muito o ritmo e a melodia das canções, a memorização significativa (pela expressão corporal e verbal com fruição).
Mais recentemente, em tal projeto, houve o direcionamento mais específico para o canto, pois se percebeu que os alunos gostavam muito de expressar-se artisticamente por intermédio da musicalidade pela voz. Visando uma reflexão sobre as várias maneiras de cantar, a partir do texto de Shemeling; Teixeira (2010), o trabalho vocal para música deve iniciar através da percepção do ambiente, consciência dos sons externos e internos produzidos pelo corpo (alunos ouviram também os seus batimentos cardíacos e dos colegas, por intermédio de estetoscópio) em consonância com as expressões corporais e faciais, pois para usar a voz fazemos uso de todo nosso corpo, culminando em um trabalho em que os sons emitidos considerem aspectos de entonação, emoção, envolvimento pelo canto e pela dança e produzindo efeitos na voz cantada ou nos sons emitidos.
Tal proposta é legitimada pela afirmação: “…o uso da voz, como ponto de partida para a musicalização permite que o ensino aconteça em grupo e possibilita a inclusão de participantes…” (MATEIRO e ILARI, 2011, p. 47).
Dessa forma, houve infinitas possibilidades de cantos com a turma e, por sua vez, inúmeras oportunidades de escuta de músicas variadas, pois em todos os momentos em que se trata do cantar está imbricado o ouvir, sendo ambos indissociáveis, pois se usamos todo nosso corpo, ou seja, mobilizações de vários aspectos: emocionais, perceptivos, sociais, intelectuais, cognitivos e físicos, os vários sentidos humanos estão interligados. Assim, o cantar propicia oportunidades ímpares de desenvolvimento humano, sensorial, estético (já que a música é expressão da arte), social, cultural, político, educacional… já que perpassa várias formas de linguagens e expressões.
Assim, a partir de músicas apreendidas no curso Música na escola e adequações realizadas à turma, devido a pouca idade dos alunos, esboçou-se a organização de um modesto coral, sendo que diariamente cantavam como se fossem ensaios conotando uma possível apresentação. Dessa forma, com o respaldo e total apoio das professoras e alunos do curso de licenciatura em Música da UNIPAMPA – Bagé e demais grandes colaboradores³, organizou-se um encontro entre tal público e os “cantores” do PRÉ II, sendo que estes deslocaram-se até a instituição para cantar músicas infantis e de roda no auditório da UNIPAMPA.
Tal atividade, significou muito aos alunos pela valorização das suas expressões, por saírem do espaço escolar e irem a uma instituição de ensino superior para se apresentarem e por serem magnificamente bem recebidos. Percebeu-se que eles encantaram-se com a condição de cantores, fator que legitimou bastante a importância da proposta aplicada, pois houve muito entusiasmo e brilhantismo dos pequenos cantores nesta manifestação artística.
O repertório das cantigas, respectivamente, foi: Bom dia (https://www.youtube.com/watch?v=0Hw6eMCNNG8), “Boneca de lata” (https://www.youtube.com/watch?v=BNfmCkRdI_4), Marinheiro só [trecho] (https://www.youtube.com/watch?v=1_A1hclhXPI), “Elefante Trombinha” (https://www.youtube.com/watch?v=_sXI-Zse0nA) e 2 Cirandas/Casa de farinha (https://www.youtube.com/watch?v=HIFOOwHgfks).
É importante ressaltar que a referida apresentação foi gravada e mostrada no evento final do curso Música nas escolas do RS, o qual ocorreu na cidade de Gramado, nos dias 3 e 4 de novembro, fator que valorizou ainda mais a proposta desenvolvida na escola e propiciou ricas trocas de experiências.
Assim, no decorrer deste trabalho ocorreram desenvolvimentos importantes das aprendizagens de muitos alunos, construções de conhecimentos foram consolidadas pelo prazer e sensibilização que a música propicia, como: ampliação do letramento escolar, domínio maior a respeito dos números e quantidades (utilizando muito material concreto), maior controle motor/organização espacial, contação de histórias/poesias pela música, por intermédio do lúdico e do imaginário (letramento literário), indo ao encontro da importância deste trabalho está a expressão: “Contar, para as crianças pequenas, histórias em que os personagens ganham motivos musicais é uma forma de explorar esses motivos e aguçar o ouvido interno.” (MATEIRO; ILARI, 2011, p. 47), e experiências práticas com os sentidos: olfato, audição, tato, visão e paladar, sempre embasadas em cantigas. E quanto à apresentação na UNIPAMPA foi muito importante para autoestima dos alunos e ampliação de suas perspectivas culturais.
Por fim, ocorreram muitos resultados positivos, principalmente, quanto à sensibilização e socialização que a musicalidade fomenta.
E, no que tange à docente que desenvolveu este projeto, conseguir oportunizar que os alunos fossem até à UNIPAMPA significou a união concretizada entre a teoria e a prática pedagógica (integrando estes dois ambientes, estes dois públicos), a academia e a escola de ensino básico, enfim, a identidade da acadêmica/da mestranda/da cursista inter-relacionada à identidade de professora das referidas crianças, ambas unidas de forma explícita naquele momento.
1- Diretora Adriana Silveira, Vice-diretora Susana Colman Lorefice, Supervisora Lidiane Pimentel e Orientadora Educacional Rúbia Porto.
2- Pedagoga –UERGS, Especialização em Letras e Linguagens – UNIPAMPA, Mestranda do Mestrado Profissional no ensino de Línguas – UNIPAMPA e cursista do Música na escolas do RS – Polo Bagé.
3- Docentes do curso de música – UNIPAMPA: Adriana Bozzetto, Luana Zambiazzi dos Santos e Lucia Helena Pereira Teixeira; Demais Professoras do Curso Música na escola: Elizabeth Infantini e Oraides Silva; Docente do curso de Letras: Clara Dornelles; Alunos do curso de música e alguns pais dos alunos do PRÉ II que prestigiaram a apresentação e graduando do curso de Letras Guilherme Ramos, que filmou toda a apresentação realizada.
Referências
ESTÉVEZ, Pablo René. A alternativa estética na educação. Rio Grande: Ed. FURG, 2009.
MATEIRO, Teresa e ilari, Beatriz (Org.). Pedagogias em educação musical. Curitiba: Ibpex, 2011.
SCHMELING, Agnes; TEIXEIRA, Lucia. Explorando possibilidades vocais: da fala ao canto. Disponível em: <http://abemeducacaomusical.com.br/revista_musica/ed2/pdfs/MEB2_artigo6.pdf>. Música na Educação Básica, V. 2 N. 2 set., p.75-87, 2010.