Ano 12 Nº 003/2024 – A RELAÇÃO ENTRE NEGLIGÊNCIA EDUCACIONAL E PLÁGIO

Por Mithaly Garcia da Silva 

Esse ensaio aborda o crescente problema de plágio em ambientes escolares e  universitários, assim como se propõe a analisar o problema e identificar  possíveis justificativas para sua ocorrência. O texto discute como a internet e as  tecnologias influenciaram a propagação do plágio, como também aponta os  impactos intelectuais decorrentes da negligência educacional e destaca como a  carência de conhecimentos pode contribuir para a realização de tal prática. 

Palavras-chave: plágio; internet; ensino; educação; negligência.  

O plágio é um alarmante problema que atinge a educação escolar e universitária,  e a cada dia que passa está se instaurando com mais força e se tornando  comum. Estamos na era digital, e a internet se tornou o principal meio para disseminação de informações. Em uma simples pesquisa, obtemos acesso a sites, livros, trabalhos acadêmicos e muito mais. Temos uma infinidade de  conhecimentos a apenas um clique de distância. Porém, a forma como decidimos usufruir desses recursos pode ser positiva ou negativa. Podemos  utilizar as informações encontradas como base de inspiração ou como  fundamentação para nossas próprias criações, ou podemos ser imorais e nos  apossar da criação de outra pessoa, sem a ciência e o consentimento dela.  Lastimavelmente, a segunda opção é bastante recorrente entre os estudantes.  Em seu artigo sobre plágio acadêmico, o professor Romancini argumenta que: 

[…] o plágio caracteriza-se como uma falsa atribuição de autoria, uma apropriação indevida de trabalho de um autor por outro indivíduo (o plágio). Em outras palavras, trata-se da cópia de ideias ou conteúdos de trabalhos de outra pessoa, que são usados como se fossem daquele que finge ser o autor legítimo dos mesmos (ROMANCINI, 2007, p. 47). 

Desse modo, nosso primeiro pensamento é estabelecer que o plágio não ocorre  acidentalmente, afinal é uma ação analisada, planejada e colocada em prática.  Mas a história é realmente tão simples quanto parece? É possível cometer plágio sem saber que se está cometendo ou todo plágio é intencional? Vamos analisar  a situação por dois ângulos, o da educação e o da moral. Eu moro em uma  cidade pequena em que há apenas uma escola pública de ensino médio,  portanto deveria existir uma responsabilidade implícita de oferecerem a melhor  educação possível aos jovens. Eu estudei três anos nessa escola e pude  constatar que o lugar não era precário, pelo contrário, era um educandário  completamente decente para a realização de estudos. A única coisa medíocre  era a educação. É comum que adolescentes não demonstrem interesse em  aprender os conteúdos da escola, mas é incompreensível que professores,  profissionais que deveriam propagar conhecimento, não queiram ensinar seus  alunos. Os estudantes precisam de motivação, afinal, se não há esforço do lado  do professor, por conseguinte, também não haverá do lado do aluno. Em seu  livro sobre educação, a pedagoga Enkvist defende seu ponto de vista sobre o  que seria o docente ideal: 

A docência é um trabalho criativo na medida em que o professor deve adaptar o ensino à situação e utilizar todos seus recursos profissionais e pessoais, além de sua energia física e psíquica, sua maturidade e seu senso de responsabilidade e, às vezes, seu senso de humor  (ENKVIST, 2019, p. 72). 

O professor irresponsável geralmente elabora atividades avaliativas fáceis para  poupá-lo do estresse e desgaste de preparar e corrigir centenas de avaliações  densas. Ele solicita que os alunos produzam resumos dos conteúdos que ele  não ensinou ou de livros que ele não disponibilizou para a leitura. É nesse  momento que o plágio entra em cena. Se o professor não ensina, os alunos não  aprendem e, sem o aprendizado necessário, não há capacidade para a criação.  Sendo assim, os alunos recorrem à internet e sua vasta extensão de conteúdos. O mestre em direito Ulhoa aponta que: 

[…] esquecem do que deveria ser, verdadeiramente, importante nesse processo: a criação de espírito, a informação e o conhecimento por trás do simples ato de “pensar”. Além de ser crime, o plagiador está se negando a pensar. O reflexo disso no futuro será uma sociedade sem cultura, sem personalidade e sem capacidade de promover sua inteligência (ULHOA, 2006, p. 1). 

Como o descaso do professor é mais forte que sua ética, ele simplesmente ignora o plágio cometido por seus alunos e os aprova em sua disciplina. A curto 

prazo, essa vadiagem em sala de aula pode parecer divertida, mas a longo  prazo, percebe-se como a negligência educacional impacta nossas vidas. Eu  passei a maior parte do meu ensino fundamental e médio usando o método “Ctrl + C” e o “Ctrl + V” nos meus trabalhos. Durante toda a minha escolarização,  nunca me apresentaram a diferença entre pesquisa e plágio, tampouco me  informaram que a técnica de copiar e colar conteúdos da internet constitui um  ato criminoso. Eu entrei na universidade alguns meses após me formar no ensino médio, acreditando estar preparada para os desafios da faculdade. Porém, logo no primeiro semestre, eu fui apresentada a diversos conhecimentos básicos que eu desconhecia. Então, eu percebi que nunca tinha criado sequer um resumo e enfrentei muitas dificuldades para começar a escrever meus próprios textos. Pessoas que estudaram na mesma escola de ensino médio que eu alegam terem enfrentado dificuldades semelhantes às minhas. Uns escolheram seguir o caminho árduo e íntegro do aprendizado. Outros escolheram continuar pelo caminho fácil e desonesto do plágio. Posto isto, podemos retomar a questão anteriormente levantada. É possível cometer plágio sem saber que se está cometendo? Podemos não ter sido ensinados didaticamente sobre o plágio, mas certamente todos nós compreendemos o básico sobre princípio e valores. Temos plena consciência de que tomar posse de algo pertencente a outra pessoa é errado. Sendo assim, por um ângulo podemos observar falhas no  sistema educacional, por outro podemos observar falhas de caráter. 

REFERÊNCIAS 

ENKVIST, Inger. Educação: Guia para perplexos. Campinas: Kírion, 2019, p. 72. 

ROMANCINI, Ricardo. A praga do plágio. ResearchGate, 2007. Disponível  em: <https://www.researchgate.net/publication/277250074_A_praga_do_plagio _academico> Acesso em: 25 nov. 2023. 

ULHOA, Paulo Roberto. O plágio é crime. A Gazeta, 2006. Disponível  em: <http://www.noginfo.com.br/arquivos/plagio.pdf> Acesso em: 25 nov. 2023.

Mithaly Garcia da Silva é discente do segundo semestre do curso de Letras — Português e Literaturas de Língua Portuguesa, da Unipampa campus Jaguarão. Tem como principais interesses: escrita, leitura e música. Contato através do e-mail: mithalydasilva@gmail.com

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