Um olhar saudoso sob a vida

Por Alessandra Bonilha

Das janelas busco entender a distopia que me cerca. A chuva, que por ora cai, emociona os olhos que há meses anseiam por novidade. O leve percurso percorrido pelas gotas me mantém em distração. Suplico aliviada: 

– 

· Ainda há vida! 

A chuva se despede e como uma reafirmação de esperanças, surge o arco íris. Este preserva todos os olhares para si. 

No “corre-corre” exaustivo dos dias, me vejo em um pesadelo, daqueles que dedico todos os esforços para retornar à realidade o quanto antes. 

No dia seguinte, busco novamente me resguardar do mundo. 

O sol ressurge, invadindo as grades que mais uma vez me condicionam em segurança. Vejo atenta, através da janela o que antes jamais me 

causara encantamento. 

Quando a noite chega, o mundo parece enfim acalentado. E mais uma vez, dedico reflexões amplas e atentas às questões que me rodeiam. 

Da minha janela vejo o dia passar, na mesma velocidade em que os pássaros dançam a fim de ressignificar a monotonia dos dias. Com os olhos externos às portas e janelas, contemplo o horizonte se modificar lentamente enquanto me resguardo das confusões que extrapolam os limites territoriais. 

E nesse ciclo que parece não se findar, ainda pressuponho esperança. Quando a chuva não mais me rende poesia, na poesia alheia me encontro. Quando tudo parece arder em chamas, na sonoridade das músicas, nas páginas dos livros e no riso doce da senhora que minha casa habita, sustento a fértil expectativa de ainda desbravar o mundo além da minha 

janela. 

Eu não sei se a morte é um dia que vale a pena viver, mas quando os dias não brilham lá fora, tenho a certeza de que a saudade sim. 

Não me esqueço jamais daquela madrugada de terça-feira, com todos os sinais de que o dia seria gentil e o sol brilharia. Não fosse pela partida da doce e gentil senhora que nossa sala habitava. No passar dos dias, a saudade nos conforta. E ao olhar para o céu eu recordo de um trecho da sua música favorita “aquela nuvem que passa lá em cima sou eu” e assim, 

agradeço por te recordar em todos os detalhes cotidianos, nas nuvens, na chuva, in somewhere over the rainbow, quando me pego pensando em ti sinto que o sol retorna para mim, acalenta meu coração e assim, suplico novamente aliviada: 

– 

Se há saudade, houve vida! 

Alessandra Bonilha Valente, 19 anos, graduanda do curso de Letras – Línguas Adicionais. alessandravalente.aluno@unipampa.edu.br

Comentários
  1. Márcia

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