Ano 04 nº 075/2016 – Tá vendo o quê?
Djuly Hanna Diogo Carrion
Aluna 3° ano EM – Colégio Presidente Emílio Garrastazu Médici
A televisão, o tablet, o celular, dentre outros aparelhos eletrônicos são janelas para o mundo, ainda mais para as crianças. Que visão você proporciona a suas crianças? Imagine-se na seguinte situação: você está atarefado e tem choros e gritos atrapalhando sua organização; seu primeiro cálculo para contornar a situação é colocar a criança de três ou quatro anos frente à televisão para que uma distração o faça parar. Certo? Bem, apesar de você achar que ela está apenas se entretendo com as cores e as formas dos desenhos, a criança presta atenção nas falas, ideias e ações dos personagens. A partir dos dois anos, a formação cognitiva da criança começa a tomar forma, logo, tudo que ela vê, ouve e sente irá se refletir em suas ações e desenvolvimentos futuros.
Embora os desenhos sejam um bom distrator, podem acarretar problemas a longo prazo. Por exemplo, um dos desenhos que mais viraliza entre as crianças é a animação da turma de Peppa Pig, uma porquinha famosa por suas atuações, que prende a atenção das crianças como ninguém. Entretanto, olhando através do
“bom passatempo” infantil encontramos falhas graves que são desfalques no progresso de construção psicológica. O personagem George Pig, por exemplo, aparenta seus dois ou três anos de idade e é reconhecido por suas expressões de rebeldia quando contrariado; em certo episódio em que a criança não ganha determinado brinquedo ele começa a chorar e chamar a atenção para que sua vontade seja feita, e assim acontece. Essa cena, não rara, sucede com frequência nos supermercados e lojas com os pais na vida real.
O temperamento desequilibrado e, certas vezes, exigente da protagonista, Peppa Pig, pode ser um bom fator que faz o irmão caçula chorar descontroladamente. A exposição do menor que ainda não tem capacidade para distinguir as situações fictícias à essas alterações emocionais proporciona uma perturbação inconsciente na criança. Isso poderá gerar “stress”, estafa emocional, bipolaridade e confusão mental.
Com frequência, o que assistimos na televisão é reproduzido por nós mesmos, espelhos refletores do que vemos. Uma criança tem um nível de aprendizagem quatro vezes mais acelerado que o nosso e a facilidade para aplicar o que absorve maior ainda. Quando a criança passa a entender a diferenciação dos desenhos para a vida real, essa separação não é completa. Tanto que cenas de violência, rebeldia e desrespeito são repetidas trivialmente com naturalidade porque as habilidades cognitivas foram firmadas sob atitudes fantasiosas. Essa fase “esponja”, em que a criança absorve tudo à sua volta precisa ser bem vigiada por quem estiver por perto. Afinal, a elas pertencem o futuro.
Não estou jogando pedras ardentes nos desenhos, pelo contrário, é comprovado pela professora Maria Thereza Costa Coelho de Souza, da USP (Universidade de São Paulo), dentre outros pesquisadores da área psicopedagógica, que uma das formas mais rápidas de aprendizado é por meio de recursos visuais e auditivos. Chamo atenção, prezado leitor e leitora, aos conteúdos exibidos nos desenhos. A premissa de que TODOS desenhos infantis são inofensivos é falsa, não caia nessa! O que podemos afirmar, sem sombra de dúvida, é que as melhores formas de desenvolvimento infantil são aquelas que lhe possibilitam descobrir com o toque livre das mãos tudo que lhes rodeia como (excluindo o touch nas telinhas) as formas, os cheiros e os sentimentos por eles mesmos. Não podemos deixar que os desenhos se tornem uma arma. As crianças são um espelho, então, que imagem você transmite?