Ano 04 nº 070/2016 – Sobre rivalidade feminina, sororidade e o do porquê somos todas irmãs (Parte 1)
Ana Isabel de Sousa Amorim.
Letras – Línguas Adicionais: Inglês, Espanhol e suas respectivas literaturas – UNIPAMPA
A mulher que nunca disse que prefere amizades masculinas que atire a primeira pedra. Somos ensinadas desde pequenas a sermos extremamente competitivas em relação a futilidades, aprendemos ainda cedo a sermos vaidosas, delicadas e submissas e no meio disso aprendemos que não devemos confiar em outras de nós.
Quando chegamos naquela tão adorada fase chamada puberdade e passamos a desenvolver nossas personalidades é quando demonstramos o quanto a socialização feminina jamais falha. Enquanto os garotos são unidos, nós nos dividimos e nos atacamos, dizendo muitas vezes que preferimos amizades masculinas pois mulheres são falsas e/ou fúteis.
Mas aí mora o problema. Nós nos dividimos, traímos a nós mesmas. Nos ofendemos e diminuímos em busca de algo. Mas o que seria? A resposta a isso é triste: buscamos aceitação. Queremos ser vistas como as diferentes, as inteligentes, as que se destacam, queremos ser notadas. Mas como poderemos ser notadas se diminuímos a nós mesmas?
Quando dizemos que preferimos amizades masculinas, pois mulheres são falsas e/ou fúteis, cometemos dois erros que favorecem o patriarcado: primeiro, nos afirmamos indiretamente como falsas e fúteis por sermos mulheres, associando os defeitos ao gênero, e, segundo, nos afastamos de nossas iguais.
Nos tornamos parte da roda que comemora as inúmeras ficadas do final de semana, mas que verdadeiramente não se importa com nenhuma, passamos a ouvir ofensas relacionadas a outras garotas e o típico “Ah, mas você é diferente”. Continuamos ouvindo as chacotas relacionadas a assédio, menstruação e feminismo, e em alguns momentos até cometemos o erro de concordarmos.
Permanecemos sozinhas quando os problemas femininos surgem como: assédio, problemas derivados do fato de se ter um útero (gestação não planejada, mioma, cisto e até mesmo a maldita menstruação), somos silenciadas e feitas de piada quando passamos por algo que um homem não pode entender.
Esse é o grande problema da rivalidade feminina, ela nós torna inimigas, nos faz ofender umas às outras por motivos tolos como relacionamentos amorosos em comum ou desentendimentos relacionados a estética, nos faz classificarmos umas às outras como inferiores e juntamente nos inferiorizar, e, no fim, ela nos deixa completamente sozinhas.
Enquanto nós enfraquecemos, o patriarcado se fortalece nos taxando como loucas e classificando nossas demandas como mais uma das inúmeras futilidades que cometemos. Mas nós não somos fúteis e nem fracas, e precisamos notar isto.
Quando notamos isso, a primeira pergunta que vem a nossa mente é: Como nos tornamos rivais? É bem simples responder isso: somos socializadas para sermos belas, educadas e sejamos capazes de conquistar um bom homem. A partir disso, somos ensinadas a rivalizar com qualquer uma que nos supere nesses quesitos e somos ensinadas que não há limites para derrubarmos a outra.
Isso nos torna as “loucas e cruéis” tão pregadas pelo patriarcado. Mas, a verdade é que quando o calo realmente aperta quem estende a mão não é um homem, e sim uma das muitas julgadas por nós. Quando o assédio ocorre ou a gravidez vem, quem se levanta para oferecer o ombro é outra mulher… Pois somente nós podemos entender as dores que enfrentamos.
O nome disso é sororidade. O conceito de que não somos rivais, somos irmãs. A ideia de ter empatia e compaixão entre nós. Sororidade não é sobre tentar tirar de um relacionamento abusivo uma mulher que já te feriu, mas é sobre oferecer o ombro quando ela sair deste relacionamento. Sororidade não é sobre passar por cima de si mesma para ajudar outras mulheres, mas sobre sermos empáticas e termos solidariedade umas com as outras.
Pois a verdade é que não somos rivais. Somos frutos de uma criação machista que nos ensinou a idolatrar homens e odiar as mulheres, somos frutos de uma cultura patriarcal que nos prega que bom amigo é o homem, camarada para todas as horas, enquanto nós somos as megeras terríveis que se apunhalam pelas costas.
Veja bem, não estou dizendo para abandonar seus amigos homens e nem dizendo que eles são menos amigos seus por serem homens, estou dizendo que eles não serão capazes de te compreender como outra mulher irá. Então, dê uma chance para uma amizade feminina. Dê uma chance para aquela mulher que você tanto julgou sem ao menos conversar. Dê uma chance para aquela que teve uma socialização tão cruel quanto a sua e será capaz de entender você.
Pare para pensar nos motivos pelos quais você não gosta das mulheres com quem nutre alguma rivalidade, reavalie seus desafetos. Veja se são mesmos reais ou apenas frutos dessa socialização que permanece nos podando. No fim, escolha por si as amizades que valem a pena, escolha a si mesma e não esqueça que não somos rivais, somos irmãs.
Eles perceberam que esta esfera em que vivemos está em constante mudança, daquela velha forma patriarcal de vê o mundo, para um novo, não mais esfera, mas uma forma universal feminina transcendente de ser. Abraços, by Fabiana Tôrres.