Ser mulher

Por Maria Clara Petrarca

Imagem disponível em http://www.jessphoenix.com/patterns. 

Acesso: 12/05/21.

As pessoas sempre esperam o impossível de nós e o maior erro que existe na vida de uma mulher é crer que merecemos sempre o “menos”, sim, aquele objeto minúsculo, quase imperceptível ao olho nu. Mas sabe qual é a verdadeira questão? É que por causa dele sobra espaço.

Não um espaço vazio que qualquer pessoa com quaisquer intenções poderia preencher. É um espaço que fala sobre sermos muito mais do que aquilo que havia nos rótulos de produtos que hoje nem se vendem mais. Depois de uma certa idade, tomei consciência do que de fato é ser mulher e eu poderia listar mais de mil justificativas, mas decidi priorizar somente algumas. Portanto, ser mulher é nunca dar bobeira em uma rua pouco movimentada; é acreditar que os valores e esforços no trabalho não devem ser bem menos merecidos porque acham que o privilégio, as conquistas e os méritos estão estampados no currículo de um homem. Ser mulher é ouvir sobre ser jovem demais para tentar e antiquada demais para continuar fazendo; é olhar para trás sem nunca desacelerar – nem mesmo por um segundo -; é agradecer a todas as leis, conquistas e poderes que nos foram dados merecidamente; é entender que pouquíssimas palavras, para nós, têm um efeito imenso e que o “não” é simplesmente “não”. 

Nós ouvimos tanto, a cada dia que passa, principalmente dentro de casa, porque isso é ser mulher, agir conforme nosso instinto, nossa própria proteção e nunca confiar nos outros, pois o que escutamos é a única coisa que realmente tem efeito, é a nossa marca de sobrevivência. E a pergunta do porquê vem junto da resposta: nos preparamos muito para um mundo que não está pronto para nos receber e nos proteger, sempre escutamos demais e o outro lado, de menos. De tantas coisas que já senti medo, o medo de perder minha liberdade e voz sempre estiveram no topo de uma lista que eu criei e que todos os anos a atualizo, com exceção do primeiro lugar. Esse está intacto há anos, ele fala sobre a nossa história, nossa voz, nosso amor próprio, nossas vitórias, nosso poder. Em meu primeiro lugar está: “ser mulher”, nada mais, nada menos, pois as descrições importunam e a falta de respeito mata. Ser mulher é isso: um desafio diário que, a cada dia, nos leva a desbloquear uma nova conquista.

Imagem: Acervo da Autora

Maria Clara Petrarca é discente do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pampa (Campus Bagé – RS). Atualmente, é bolsista no Programa de Educação Tutorial (PET – Letras). Suas áreas de interesse são: os estudos da literatura, escrita e estudos de sintaxe.

“Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.