Ano 08 nº 223/2020 – Se acaso você chegasse
O miniconto com fotografia premiado em 2º lugar no II Concurso de Escrita do Jornal Universitário do Pampa (Junipampa) é de autoria de Lucas Freitas da Rosa. O concurso tematizou “Elza Soares na vida e na canção”. Leia, reflita e venha para o Bate-papo com autoras e autor premiados, no dia da Consciência Negra, às 17h30 (ver link no cartaz após o miniconto).
Se acaso você chegasse
Autor: Lucas Freitas da Rosa.
Pode me alcançá o óleo?, Ana tava de boca cheia, mordia um naco de cenoura cozida e as mão manejavam uma colher entre as panela, Eu deixei ali ó, apontou ca cabeça, No secador. Era raro, mas o sorriso quieto de Carla às vez se bastava. Em geral recusava o silêncio, preferia falá tudo – era tipo literatura barata. No notebook Xênia França tocava baixinho e Carla deu três passo e já esquadrinhava a minúscula cozinha dois-por-dois. Ca tábua acima da única boca desligada, Ana ia terminando de talhá meia cebola. O óleo de girassol tava à esquerda no balcão-pia, meio ladeado e em riba do escorredor de louça. Como o bico tinha ficado aberto, um pirex de sobremesa abaixo foi acidentalmente untado. Co óleo em mão, Ana ia acendê o fogo da boca da frigideira. Noutra ponta do balcão pia, as batata já ralada em talhos bem grosso se atopetavam num pote. Carla tava escorada na parede e bá, pensava nas noite que salvaram sua vida e nas duas tagarelando por horas e um assunto se acotovelando no outro e o pavor do silêncio que poderia revelá uma distância ou náusea entre ela e Ana. Meu, sabe o que eu andei ouvindo?, hesitante furou o tecido calado que encobria a situação, O Eduardo encontrou um apartamento na Santo Antônio. Acho que é o fim, né?. Os cogumelo já começavam a emurchecê e garrá na cebola e no alho, Ana deu uma gaitada disse É o fim de uma era! Defronte ao fogão, Ana podia vê vagamente a silhueta de Carla pelo reflexo embaciado que o azulejo fazia. A poucos palmos, Carla pensava que era bom assim, porque Ana não enxergaria a súbita e patética saída dum estado de apreensão por puxá um assunto (se ela fica braba?) e a queda na placidez do êxito. E era melhor ainda, porque conseguia abraçar ela por trás e assim fez. Na ponta dos pé, entrincheirada no ombro de Ana, ela viu a janta surgi nas panela. Quem é que vai sobrá nesse prédio?, Carla só queria que a conversa despropositada tivesse algum seguimento, que as boca não cerrassem, Olha, com certeza o Fábio, respondeu Ana. Os sorriso apalermado de cumplicidade serviam de pontuação pro diálogo, É, Ele tá esperando a gente se mudá pra mandá consertá o interfone. Caíram na risada e Ana torceu seu tronco, primeiro um pouco e depois todo corpo, e se abraçaram e se beijaram. Depois de vários dia da semana perguntando Que dia é hoje?, Carla sabia que era sexta feira, porque estavam juntas e não havia trabalho pra terminar. Quando chegou no apartamento, as begônias estavam morta, mas ela soube cuidá das mudinha recém-comprada e estava bonito agora. Carla disse Eu te amo, mas, quando abriu finalmente os olho, a porta do apartamento estava sendo esmurrada, Abre, porra! Sei que tu táí, Carla! Carla respirou bem fundo e Ana esticou o corpo pra próximo da entrada. Carla disse, Deixa que eu abro.