Profissão Psicólogo (a) / Coluna do Saulo

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Por Saulo Eich

Saulo é psicólogo clínico Infantil e Adulto, de abordagem Cognitivo Comportamental, em Bagé/RS

 

Agosto é o mês dos (as) profissionais da Psicologia e, mais precisamente no dia 27 de agosto, comemora -se o dia do(a) Psicólogo (a). Optei por dedicar minha reflexão do mês para essa, que também é a minha profissão, porque percebo a Psicologia de uma maneira muito necessária mas igualmente muito complexa em diversos aspectos,  os quais quero comentar aqui, e que fazem dela uma profissão ainda pouco presente no imaginário das pessoas quando se reportam à saúde. Eu mesmo, quando penso em saúde, associo esse pensar, em primeiro momento, imediatamente ao profissional médico, e isso é absolutamente comum se pensarmos sobre a forma como se construiu a cultura em saúde na nossa sociedade ao longo do tempo. Mas é importante  reconhecer também que a Psicologia, ainda que um pouco distante de ocupar o lugar que faz jus à sua relevância nas mais diversas áreas em que está inserida, está sim ganhando esses espaços, a passos mais ou menos lentos, mas está. 

O que torna por muitas vezes o trabalho deste profissional complexo aos olhos de quem busca  ou, principalmente, de quem pensa em buscá-lo mas fica olhando de fora, é o fato de que a Psicologia enquanto Ciência se debruça a explorar o que de mais difícil e igualmente complexo existe no ser humano: a sua subjetividade e suas emoções. E nesse ponto é fundamental considerar a individualidade de cada sujeito, que torna cada intervenção profissional única também. Não existem receitas e indicações de doses terapêuticas , assim como quando um médico prescreve um medicamento. Dessa forma, cada processo, com cada indivíduo alcançado pela psicologia, deságua em um cenário singular, construído pela subjetividade daquele sujeito em questão naquela relação terapêutica.

A profissão se torna um desafio também por uma outra razão: a forma como outras abordagens alternativas banalizam e utilizam de forma por vezes irresponsável práticas de cunho psicológico, como é a questão do Coaching. Muitos profissionais que atuam nessa área concentram-se em transitar no terreno inerente à sua função, mas outros muitos extrapolam essas margens, levando para sua prática atuações estritamente de cunho psicológico. E o erro, nesse sentido , não consiste em simplesmente invadir uma prática que não lhe compete, mas sobre oferecer, a quem busca esses profissionais em um pedido de ajuda, serviços que nem sempre possuem a solidez e a base científica necessárias para promover o cuidado e a melhora das pessoas, com ética, compromisso e responsabilidade.

Texto Saulo

Outros fatores surgem também como desafios à profissão, como o pouco conhecimento que a população de um modo geral ainda tem sobre o que é e para que serve um (a) psicólogo (a). Nesse sentido, vale dizer que, em linhas gerais, a Psicologia está para todos os indivíduos que se permitirem explorá-la e valorizá-la como um imprescindível recurso terapêutico,  de resultados cientificamente comprovados em cada uma de suas várias abordagens e áreas, não sendo necessário que seja buscada somente em momentos e situações limítrofes, já que o auto-cuidado realizado em condições saudáveis produz prevenção e reduz a possibilidade de condições de saúde mental agravadas. Sendo assim, qualquer pessoa, em qualquer circunstância,  pode buscar um(a) psicólogo(a), seja este(a) o(a) psicólogo(a) da empresa onde trabalha, o(a) psicólogo (a) da escola ou universidade onde estuda (quando há esse profissional à disposição nesses espaços), ou o(a) psicólogo (a) para atendimento clínico para realizar psicoterapia. 

A psicologia é uma profissão que caminha no sentido contrário aos preconceitos, sejam eles quais forem, tendo pautado em seu código de ética a necessidade do respeito pelas mais diversas formas de ser. Desse modo, qualquer viés religioso, ou de exclusão e repúdio a algum tipo de orientação sexual ou raça praticado por um profissional dessa área deve ser visto como uma prática inadequada e não  condizente com a profissão, assim como não condizente com a conduta humana pautada na empatia.

Cada vez mais, a Psicologia vem expandindo os limites do consultório e do modelo mais tradicional de se fazer a profissão, e está se aproximando de questões sociais, visto que é impossível olhar para o paciente sem considerar o contexto onde ele está inserido e onde todos nós estamos inseridos. As angústias que chegam no espaço psicoterapêutico são,  em grande parte, sintomas da forma como nossa sociedade caminha, não sendo possível, assim, ignorar a necessidade de refletir sobre o que acontece para além das paredes do consultório. A ansiedade, a depressão e outras formas de adoecimento mental que os pacientes manifestam são pedaços de um adoecimento mental coletivo e seria impossível negar esses atravessamentos do externo e do eu de cada um de nós.  Como de certa forma já disse Max Páges, nada é puramente externo, visto que o que sentimos traduz a forma como percebemos o mundo, assim como nada é puramente interno, visto que nossas angústias remetem sempre a problemas sociais.

Por fim, quero falar de uma iniciativa pensada e concretizada por 3 psicólogas e este psicólogo que vos fala, com parceiras locais, e que propõe debates e reflexões acerca das questões mais emergentes em saúde mental, que acontecem esporadicamente de maneira itinerante. Estou falando do Interage, um grupo de 4 psicólogas(os) que realiza rodas de conversas abertas à comunidade e sem custo algum, a fim de aproximar todos aqueles que quiserem dialogar sobre produção de saúde mental e bem estar emocional. Em 2019, o Interage está realizando atividades alusivas à prevenção à depressão e ao suicídio,  em uma parceria com a Casa Pitanga, que é um espaço muito interessante de se conhecer e aproveitar o que lá se oportuniza, em Bagé. O próximo encontro denominado “Valorização da Vida: Reflexões e Práticas no Enfrentamento à Depressão” acontece no dia 19 de setembro,  às 15 hs, na Casa Pitanga, que fica situada na Rua Rodrigues Lima, número 35, esquerda, no centro de Bagé.

Feliz dia do (a) Psicólogo (a) a todxs colegas, um  abraço a todos que leram até aqui e até o mês que vem!

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 Foto: Dejanini Rodrigues, Tassiana Quadros, Mayra Osório e Saulo Eich / Psicólogos do Interage.

 

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