PETs e tutores como atores sociais da sociedade
Por Stheve Balbinotti
Em uma manhã de maio de 2021 estava eu na área de casa tomando um café, quando olho para o pátio ao lado abandonado há muitos anos e recebo um olhar de volta, um olhar de olhos azuis e pelos brancos com manchas marrons. Mas o olhar refletia principalmente fome, frio e falta de carinho. Por alguns dias coloquei ração e água no pátio abandonado e aos poucos fui conquistando a amizade da Mima, nome dado mais tarde por minha mãe à linda gatinha que apareceu do nada ali ao lado de casa.
O nome Mima foi escolhido porque dois meses antes, no mesmo pátio e do mesmo jeito, conquistei a amizade do Mimo, um lindo gato todo preto de olhos verdes que habitava o local abandonado. Hoje, Mima e Mimo comem uma ração de boa qualidade, foram vacinados e castrados, e agora não sofrem mais maus-tratos dos vizinhos por rasgar lixos ou invadirem casas procurando o básico para viverem: comida e carinho.
Dona Lourdes e Mima
Os dois parágrafos acima representam minha experiência em relação aos PETs, mas é possível que muitos dos leitores deste texto se identifiquem, ainda mais em tempos pandêmicos onde a procura por adoção de PETs cresceu consideravelmente no Brasil em busca de companhia para momentos difíceis. Antes de dar continuidade ao texto e de acordo com o professor Denilso de Lima, é preciso ressaltar que a palavra PET pode ter se originado na Escócia e norte da Inglaterra, no final do século 14 significando animal domado ou no ano de 1530, no sentido de animal favorito ou de estimação. O professor ainda aponta que “Ninguém afirma com certeza, porém acredita-se que ‘pet‘ tem sua origem ligada à palavra ‘petty‘, que era usada em 1393 com o sentido de ‘small‘ [pequeno]”.
De acordo com a pesquisa Radar Pet 2021, pesquisa realizada com tutores e veterinários de cães e gatos do Brasil, como apoio da Comissão de Animais de Companhia (COMAC) e do Sindicato da Indústria Veterinária, 31% dos respondentes afirmam ter adotado ao menos um cão e 50% ao menos um gato durante a pandemia. Quanto à origem dos PETs adquiridos durante a pandemia, 76% dos respondentes afirmam ter adotado gatos e 5% comprado. Quanto aos cães, 42% afirmam ter adotado e 24% comprado.
A pesquisa ainda aponta que a maioria dos tutores não enxergam mais os PETs somente como bichos de estimação, sendo que em comparação à pesquisa de 2019, houve um aumento das porcentagens em relação às opções filho, membro da família e companhia. Já o Relatório da Kinship, com tutores de PETs nos Estados Unidos, aponta que 71% dos respondentes concordam que a presença dos PETs em 2020 ajudou a diminuir os impactos emocionais causados pela pandemia. Outro destaque da pesquisa é o fato de 89% dos tutores afirmarem que quando estão ansiosos são acalmados pelos PETs. A Kinship é uma união com fundadores de startups com objetivos em comum visando o bem estar dos animais de estimação.
É preciso salientar que não são somente os cães e os gatos são considerados PETs, os animais domésticos em geral também podem ser considerados PETs, como por exemplo o gado bovino, minhocas, abelhas e até o escargot. A lista completa dos animais considerados domésticos encontra-se no site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Um ator social é alguém que representa algo importante para o desenvolvimento da sociedade, de acordo com Souza (2009), sendo assim, e com base no autor, não seria nenhum absurdo afirmar que uma pessoa que adota um PET de maneira responsável e o mantém em boas condições de vida, essa pessoa se torna um ator social da sociedade. O ato de adotar um PET lhe dando um lar e lhe oferecendo alimentação, remédios quando necessário e o mais importante que é amor e carinho, podem ser consideradas características de um ator social. Quando uma pessoa resgata um ser vivo das ruas e o coloca dentro de sua residência, ela transforma tal ação em um ato de coragem.
Mimo, no local que mais gosta de dormir
São muitos os benefícios para quem adota um PET. O Blog da Seguros da Unimed indica que a adoção de um PET pode ajudar a reduzir o estresse, diminuir a depressão, ajuda no emagrecimento, faz bem ao coração e que os cães ajudam a detectar câncer. A seção a Vida é Pra Já, do Portal G1, também destaca que a convivência com os PETs faz bem para o coração, além de ser uma ótima companhia para os idosos, previne alergia em crianças, faz bem para a saúde mental e ajuda a superar o luto.
O professor Raymundo de Lima, no artigo intitulado E se o bichinho morrer, destaca que podemos amadurecer psicologicamente quando estamos diante do sofrimento, da dor, da morte e do vazio existencial. A partida dos PETs amados provoca dor e sofrimento, assim como pode ser capaz de ser o “gatilho” para doenças como a depressão e a ansiedade, porém, até nos piores momentos, os PETs são capazes de proporcionar aos seus tutores momentos em que possam amadurecer para o desenvolvimento de suas vidas.
A verdade é que ambos, PETs e seus tutores, acabam sendo ou se transformando em atores sociais da sociedade, uma vez que um acaba complementando o outro com aquilo que falta em suas vidas. Os tutores resgatam os PETs das ruas ou de fins trágicos e os PETs transformam os tutores em humanos melhores. No final das contas todos ganham e a sociedade agradece.
Stheve Balbinotti é mestrando e bolsista CAPES/FAPERGS do PPGCIN/UFRGS. O texto é uma forma de homenagear todos os PETs e seus tutores, especialmente meu amigo Eddie que, hoje está no Céu dos PETs. E-mail: stheve@gmail.com