Ano 08 nº 205/2020 – Os sussurros das páginas/ Coluna PET Letras

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Por Anthony Colares

Certa vez, imerso em meus pensamentos, ousei questionar o que impelia os grandes protagonistas, que fator os movia, quais suas ambições, por que ir tão longe para alcançar seus objetivos, seriam os sonhos, seria o amor, o gosto da vitória, a glória, a felicidade, os caprichos da alma, o prazer da vida?

Me pareceu (e ainda mantenho essa convicção) que, humanamente, poucos seres são dotados de tal impetuosidade, de tal obstinação. Então, cheguei à conclusão de que certas ‘forças’ os impeliam: muitas vezes a raiva, a tristeza e o sofrimento. Literariamente, os seres almejam sonhos, concedem sonhos, conquistam sonhos e, por fim, sacrificam sonhos.

Peço perdão caso minha interpretação de tudo isto pareça demasiadamente triste ou ultrarromântica. Afinal, somos o que ‘ingerimos’, física ou intelectualmente, e isso é uma maldição, uma espécie de sombra que vai nos perseguindo, vai crescendo, conforme nossos pecados aumentam. Ao longo das minhas leituras, venho desenvolvendo uma forma para combater toda essa ‘divagação’, esse ‘exílio’ da minha alma: resolvi transformar tudo isso em poesia – o que pode ser visto como uma prática bastante comum, principalmente quando se trata daqueles que (re)conhecem a beleza das palavras.

Aos grandes protagonistas da literatura, jamais esquecerei sua força, sua dor e sobretudo seu amor. Deixo, então, versos para que, com minhas palavras, suas existências permaneçam em nosso mundo, ainda que frágeis e sujeitas ao esquecimento.

 

Quem pudera imaginar o que incitou

o velho fidalgo de suas bibliotecas,

a polir o arsenal de sua família e vesti-lo.

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Erguer-se em um velho cavalo de roçado, fiel como a dor,

contudo frágil como a paixão. Sair, Espanha a fora,

empenhando lutas árduas com exércitos de gigantes.

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Que apatia não o assolou naquela sua poltrona,

que falta de amor e companhia não sentia.

Tal fora sua dor, que transformou-se em coragem,

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pois há ciência, de que em sua história, jamais recuara 

e suas derrotas o abalavam da mesma forma

que os ventos dobram as montanhas.

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Inda pior, a dor que o bravo Pelida experimentou,

ao perder quem amava,

seu companheiro de jornada para seu próprio ofício.

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Não importa quantos golpes houvessem o trespassado,

nunca teriam o atingido tão profundamente, 

como a solidão, ao reconhecer a perda de quem se ama.

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Bravo Aquiles, pela glória lutou, a glória almejou,

e pela glória, tombou.

Inda agora, o máximo que essa glória fez por ele

foi transportá-lo do submundo até nossos mundos,

através de homéricas cantigas.

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Talvez seja mais moderno citar o jovem,

príncipe da Dinamarca, singelo em ambições,

porém caprichoso em filosofias.

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Que sofrimento não o assolou, ao perder seu pai,

e por traição de sua família, perder todo o resto. E,

atormentado por esta perda, abdicar do bom-senso e de sua paz,

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para pintar sua alma, com sangue de vingança.

Que dever conturbado pesava sua consciência,

que o privou de sua poética alma e o entregou à brutalidade.

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Teimo em sonhar, quão bela teria sido a trajetória de Hamlet,

se a corrupção e o desejo de poder não tivessem 

infectado membros de sua própria família.

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Quem dirá então, do eterno jovem, belo como os deuses,

entregue aos prazeres, aos caprichos humanos,

coagido por segundos, corrompido por almas deturpadas.

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Que beleza sua vida abandonou, rumo ao vazio,

a uma noite repleta de paixão, porém concedendo-lhe

um dia isento de amor, em uma casa inabitada, pútrida,

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antro de um segredo pecaminoso e corroído pela luxúria.

Que os erros do jovem Dorian sejam perdoados, é o que eu desejo,

pois mesmo em seu derradeiro fim, 

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buscou a redenção, destruindo aquilo que feriu tantos

e que acima de tudo, o embriagou numa vida de ilusões.

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A todos vocês, que acompanharam-me pelas ruas, cômodos, campos e praças,

e, agora, residem comodamente em minhas estantes, desejo a eternidade,

pois, em minha alma, suas essências, suas histórias, jamais serão esquecidas.

 

*

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Anthony é graduando do curso de Licenciatura em Letras – Português e Literaturas da Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA/Campus Bagé-RS). Atualmente está no 5º semestre. Em 2018, ingressou como bolsista no Programa de Educação Tutorial – PET Letras/Bagé. Nesse projeto, desenvolveu pesquisas sobre movimentos de resistência na educação brasileira. Suas áreas de interesse são os Estudos da Literatura, Literatura Clássica, Análise do Discurso, Poesia e Escrita.

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“Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.

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