Ano 11 Nº 026/2023 – O Racismo continua…

Por Ana Paula Fontoura Pinto

Antes de falarmos sobre “o assunto”, eu preciso me apresentar.

Talvez eu faça isso porque tenho que me auto-afirmar em um mundo que insiste em me invisibilizar como sujeito.

Grada Kilomba em seu livro Memórias de uma plantação: memórias de um racismo cotidiano, defende que a escrita é um ato político no qual sairemos de uma posição de objeto para a de sujeito. E é essa a minha motivação ao escrever este singelo texto. 

Quero  mostrar que somos hoje sujeitos capazes de expressarmos o que nós sentimos, não somos bichos. 

Tá na hora de me apresentar!

Sou Ana Paula Fontoura Pinto, mulher preta, estou com 35 anos, mãe solo de um guri lindo e pavoroso, mestranda no curso de Mestrado Acadêmico em Ensino pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). 

Sou uma das primeiras que concluiu o Ensino Superior e a única na família que está em um curso de Pós-graduação. Esse dado é muito importante, pois em uma cidade racista como Bagé, cidade localizada no estado do Rio Grande do Sul, minha terra natal, onde meus parentes foram vítimas da segregação racial que existia no inicio dos anos 50, eu sou uma vencedora. Acredito que nem meus parentes, se estivessem vivos, acreditariam que pude chegar tão longe.

Cresci assistindo às paquitas na televisão, todas loiras.

Assisti também a diversas campanhas publicitárias, tudo para brancos.

Fiquei feliz quando a apresentadora Xuxa Meneghel colocou como assistentes de palco profissionais negros: se lembram da Adriana Bombom? Eu lembro que a Xuxa começou a levar a cultura negra para o seu programa. Foi a primeira vez que vi negros sendo atração principal e não nas novelas em papéis secundários e até mesmo de escravo, apanhando no tronco.

Também tive a alegria de ver Lázaro Ramos no papel principal de novela no horário nobre. Eu assisti também Mr. Brau, protagonizado por este ator e sua mulher Taís Araújo, no qual uma família negra é retratada como sempre deveria ser: bem resolvida por fazer aquilo que ama. 

De uns anos para cá assisti aos pretos terem voz pela primeira vez na vida e ainda assumir a sua fé e falar dela. Hoje tivemos a oportunidade de falarmos de nossas dores e mágoas de um sistema que não cansa de ferrar com o nosso povo.

Porém os avanços são poucos.

Assisti diversos casos de racismo no futebol, nos supermercados, nas lojas. Um dos casos que mais repercutiram foi o de uma professora negra que teve que andar pelo mercado de lingerie pelo fato de ser seguida por um segurança. E o segundo, foi com jogadores negros de futebol vítimas de racismo. O caso mais recente foi o do jogador brasileiro Vinicius Junior, do Real Madrid,  que enfrentou os que o chamaram de “mono”, que significa macaco em espanhol, durante a partida entre Real Madrid e Valencia pelo campeonato espanhol. O jogador que sofreu o crime foi mais valente que o chefe de La Liga, Javier Tebas que tentou colocar “panos quentes” no assunto.

Vini Jr seria mais um negro que seria insultado de forma cretina pelos “torcedores”, se não fosse o apoio do tecnico do Real Madrid e de seus companheiros de time; do Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, e dos demais Ministros de Estado; do Presidente da Federação Espanhola, Luis Rubiales e de milhões de pretos e pretas anônimos que são vitimas do racismo de diversas formas que não é relatado.

Talvez se o João Pedro Cozza tivesse a mesma fama que o Vinicius Junior, não teria sido morto por espancamento na frente do Carrefour.

Enfim….. o racismo continua.

Ana Paula Fontoura Pinto

Estudante do terceiro semestre do curso de Mestrado Acadêmico em Ensino pela UNIPAMPA – Campus Bagé.

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