O que tu vês através da janela?

Durante uma leitura proposta para uma atividade escolar do conto “Dois velhinhos”, de Dalton Trevisan, deparo-me com dois personagens de idade avançada que possuem visões diferentes do que há para além da janela do quarto do asilo onde vivem. Ambos estão esquecidos em um ambiente nada acolhedor, e a janela é o único lugar em que eles podem observar o mundo lá fora.

Enquanto um velhinho possui uma perspectiva mais positiva da vida, olha pela janela e enxerga desde uma menina de vestido branco pulando corda a um enterro de luxo, ainda que tudo isso seja somente fruto da sua imaginação; o outro já se limita a enxergar apenas a realidade tal como ela se apresenta, pois ao olhar pela janela ele só vê muros em ruínas e um monte de lixo.

Ao ler esse conto, percebi que ele se encaixa bem ao momento que estamos vivendo e que, de certa forma, somos um pouco de cada personagem, às vezes otimistas, outras nem tanto.

Da minha janela eu observo heróis, que não usam capas, mas usam sua coragem. Vejo nesses heróis o esgotamento e o desânimo, mas, ainda assim, não desistem por nós e por quem os espera todos os dias em suas casas.

Através da minha janela, eu vejo a cada amanhecer o sol, que não nos aquece mais e nem nos dá a certeza de que será um dia colorido e alegre. E ao se pôr, eu vejo no horizonte as vidas perdidas que causam um buraco naqueles que ficam. Números, muitos números. E se essas vidas representadas em números tão frios não nos causam dor, quer dizer que já nos perdemos como humanidade.

Contudo, do outro lado da minha janela, eu vejo também a solidariedade, os aplausos àqueles que venceram a batalha e foram mais fortes que o vírus, a valorização da vida em todas as suas fases, a luta e a persistência de todos para continuarmos em frente.

Estamos nos reinventando e dando um novo valor às coisas que temos em nossa volta, os bens materiais já não importam mais tanto e um abraço nunca teve tanta importância como agora. Nunca estivemos tão próximos, mesmo sem a conexão pessoalmente.

Através da minha janela eu vejo um percurso incerto, mas percebo uma luz no fim do túnel. As estações passam, tudo gira, e nessa volta eu vejo os abraços, os sorrisos e um mundo onde poderemos ser pessoas melhores.

E tu, o que vês através da janela?

Camilly Rex Marasca, de 16 anos,  é aluna do 3º ano do Ensino Médio, na Escola Estadual de Ensino Médio Westfália, no município de Westfália/RS. Interessa-se pela música e fotografia. Possui uma grande admiração e curiosidade pela mente humana. No seu tempo livre gosta de assistir séries, ler, escutar música, dar caminhadas e fotografar (em especial o céu).

texto novo
Fotografia de Camilly Rex Marasca

Deixe seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Junipampa