Ano 10 nº 002/2022 – O padrão da sociedade e a repressão ao diferente

Por Ana Gabriely dos Santos Dias

Em nossa sociedade pensar fora da caixa nem sempre é algo bem recebido, pode levar outras pessoas a criticarem ou rirem de suas ideias. Mas por que tem que ser assim? 

Na escola, somos valorizados pelos acertos, notas e comportamentos, diante de nossos colegas e professores devemos agir com educação e seguir regras que todo mundo conhece. Quando temos uma ideia nem sempre nos sentimos confortáveis em falar, pois somos oprimidos por um sistema que não enfatiza nossa criatividade e imaginação.

Na animação The old House (A casa coruja), temos como protagonista a jovem Luz Noceda que tem muita criatividade e imaginação, principalmente para realizar os trabalhos escolares, mas isso acaba se tornando um problema pelas confusões que ela cria. Então, sua mãe decide mandá-la para um acampamento “realista”, onde ela deverá deixar sua imaginação de lado para poder ser mais “normal”. Ao invés de ir para o acampamento, Luz acaba entrando em um portal para outro mundo, onde há exatamente tudo aquilo que ela imaginava. Mas há certa similaridade com o mundo real, em uma das cenas quando os personagens vão a um determinado lugar onde há celas, eles acabam encontrando pessoas presas que estão lá por não se encaixarem em um padrão.  Essa animação demonstra o problema de aceitar essas pessoas que têm ideias diferentes e que querem desenvolver o seu lado mais criativo ao invés de um lado racional. Assim, pode-se  considerar o lado racional como um pensamento sistêmico que preza mais pela realidade invés da imaginação. 

Segundo Ruck (2019), “A repressão é algo negativo, é um impedimento […] As crianças, em muitos casos, possuem sua imaginação reprimida, devido ao chamado à realidade, seja dos pais ou professores”.  Sendo assim, a criança ou o adolescente vai reprimir os seus gostos, talvez tendo como consequência no futuro problemas de se expressar, problemas de se apresentar em público, entre outros problemas que podem surgir.

Nesse sentido, ressalta-se ainda que “Geralmente a repressão vem acompanhada da coerção. […] Assim, se a criança tem sua imaginação reprimida, ela tem, ao mesmo tempo, a “racionalidade” incentivada” (Ruck, 2019). Esse incentivo à racionalidade aparece principalmente na escola, onde os alunos são  instigados a viverem mais na realidade, como se em nenhum momento fossemos usar a nossa criatividade e imaginação.

Segundo Alencar (1989), “Situações são vividas pelo aluno na escola, onde professores, preocupados e pressionados a transmitir o conteúdo curricular, não encontram o tempo necessário para ouvir as indagações das crianças, para aproveitar as suas ideias, para valorizar seus pontos de vista e para utilizar os recursos de sua extraordinária imaginação”, os alunos acabam presos nesse sistema  que,  muitas vezes, não é suficiente para o nosso desenvolvimento intelectual.

Com a imaginação, podemos explorar novos mundos e criar histórias, encontrar várias possibilidades de fazer alguma atividade. Estimular a criança ou o jovem à imaginação é como abrir portas de um novo mundo. É como folhear um livro e viver mil vidas diferentes em uma única história, é poder usar isso como ferramenta em nossa vida adulta, porque uma vida totalmente racional não teria graça.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 

ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. A repressão ao potencial criador. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 9, n. 3, p. 11-13, 1989. 

RUCK, Richard. Repressão e ambiente social. Revista Sociologia em Rede. V. 9, n. 9, 2019.

Ana Gabriely dos Santos Dias é discente do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pampa (Campus Bagé – RS), atualmente é integrante do Programa de Educação Tutorial (PET -Letras). Seus interesses são em Literatura, escrita criativa e fanfics

“Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.

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