Ano 08 nº 251/2020 – O movimento anti-pornografia

Por Willians Barbosa

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Aurélia Mattos

Com muitos, principalmente homens, que ainda consomem pornografia compulsoriamente, não obstante os malefícios que ela traz, o assunto é primordial para esses tempos.

Em primeiro lugar, ela, a indústria da pornografia, é perversa para as mulheres, que são objetificadas e descartáveis. Quem usa certos produtos está sendo, de certa forma, conivente com a exploração sexual de meninas, tráfico humano, entre outras coisas. Para se ter uma ideia, segundo estudo da Treasure, esta indústria já fatura mais do que o tráfico de drogas no ranking de lucratividade para o crime organizado.

Em segundo lugar, ela é maléfica aos homens que assistem por questões neurológicas e no que tange a comportamento social. A pornografia molda os nossos comportamentos tanto sociais quanto sexuais. As objeções são inúmeras, mas para ficarmos em apenas alguns exemplos, podemos citar igualmente a neuroplasticidade, o fato de o consumidor carregar padrões desde a puberdade, experiência de looping.

Em menor número, as mulheres que assistem pornô também sofrem alterações no cérebro, além de impactar no meio social e em como enxerga o próprio corpo. Na verdade, não é necessário que as mulheres assistam pornô pra sentirem os impactos dela na sociedade. O pornô mainstream valoriza, tanto quanto a grande mídia, o corpo feminino esbelto e inalcançável. Assim, ao terem dificuldade de aceitarem o próprio corpo, as mulheres sentem no dia-a-dia um dos efeitos da pornografia – mesmo sem assisti-la.

Há quem diga que a pornografia objetifica tanto o homem quanto a mulher. Porém (e esse argumento não é meu), devemos lembrar que, quando o homem aparece em cena pornô, aquela é ‘’apenas uma de suas facetas’’ no mundo, enquanto a mulher é apenas aquilo, um receptáculo.

Tanto em mulheres quanto em homens, o que acontece no cérebro é o mesmo. A pornografia aumenta a produção de dopamina, substância que é responsável pelo sentimento de estímulo/recompensa. Após algum tempo, para que a dopamina continue sendo liberada, é preciso cenas cada vez mais explícitas para se excitar. É a chamada dessensibilização. É quando assuntos como o estupro passam a se tornar ‘’normais’’ e o indivíduo começa a ter uma imagem totalmente distorcida sobre sexo, sexualidade, liberdade e corpo.

Podemos ainda citar grupos que, por serem quem são, sofrem mais com essa distorção. Os homens negros são hipersexualizados e deles são esperados ter um falo enorme. As mulheres negras também são hipersexualizadas e, desde o tempo da escravatura, são vistas como a amante, aquela que se pega na surdina. As travestis e as mulheres trans, ao mesmo tempo em que são as mais acessadas nos sites pornô, são, no Brasil, as mais assassinadas. Das lésbicas, espera-se que sejam loiras e que abram exceção para o ‘’macho alfa’’. Os gays, o invés de quebrar a roda, reproduzem a heteronormatividade, onde um é dominador e outro submisso – ou seja, a mesma dinâmica que o pornô hétero.

Resta considerar que o movimento não é contra o sexo e não pode ser confundido com puritanismo. Suas bases se assentam nas questões já explanadas, no âmbito social e neurológico, e na questão de ter a mulher como mercadoria sexual, nos vídeos em si e por trás das câmeras.

A influencer Mia Khalifa, que já fez filmes pornôs, nos lembra a virar nossa atenção também para as atrizes pornô. Hoje ela milita contra a indústria e disserta nas redes sociais sobre os impactos em sua vida. ‘’… Acho que acontece principalmente quando saio na rua, porque sinto como se as pessoas pudessem ver através da minha roupa e me sinto profundamente envergonhada. Tenho a sensação de que perdi direito a toda a minha privacidade. E perdi, porque estou a um clique de distância no Google’’, disse à UOL.

O acalento é que há saídas cada vez mais numerosas, a pornografia alternativa, que foca no prazer da mulher. Sites esses como OMGYes, Erika Lust e Lucie Blush. Será que podemos chamar de pornografia feminista? Será essa uma pornografia ‘’adequada’’? Não sabemos! O que sabemos é que a maioria de nós, consumidores ou não de pornografia, tem, por causa dela, a imagem distorcida de nossos corpos e suas potencialidades.

Comentários
  1. Leandro de Araújo

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