Feminismo não é o contrário de machismo

Por Maria Clara Petrarca

Retirada de: JUSTIÇA QUE PROMOVE A INJUSTIÇA – LIVROS DA GABIS (wordpress.com)

Existe uma história universal que, muitas vezes, é retratada como uma lenda, de que, quando as meninas estão na infância, elas recebem em mãos um livro enorme que é passado de geração em geração entre o sexo feminino. Esse livro carrega o inusitado título de ser mulher e dentro dele existem diversas histórias e listas que carregam coisas que devemos ou não fazer, tornando a nossa vida em diferentes deveres que alguém, um dia, decidiu criar. Há páginas que citam sobre quais horários nós “podemos” andar sozinhas na rua e uma lista de certas roupas que são consideradas imorais perante a sociedade. Por causa disso, torna-se bastante curioso imaginarmos que, a partir de uma certa idade, antes de sequer pôr os pés em qualquer ambiente que possa haver algum homem, nós precisamos saber de cór esse livro. Mas o que ninguém conta é que, por mais que exista um esforço significativo do nosso lado, isso nunca será bom o suficiente para proteger a nossa vida, porque enquanto nós aprendemos sobre o quão machista e perigosa a sociedade é, os meninos aprendem a viver conforme a sua vontade, custe o que custar. 

A gente passa a vida toda escutando regras sobre o que devemos fazer, que roupa precisamos usar e em quem devemos realmente confiar, só que ninguém leva em consideração que nós não estamos sozinhas no mundo e que as nossas possíveis “prevenções” não valem de nada se somente nós as seguimos. 

Por causa disso, alguns anos, o feminismo veio, enfim, para nos convencer e provar que nós não somos um sexo frágil ou pessoas do sexo feminino que precisam de homens para que a sua vida comece a fazer sentido igual como explicam nos contos de fadas. 

Foi explicado pelo feminismo, também, que a roupa curta não foi motivo do assédio.  

E o horário não é a desculpa perfeita para acontecer um abuso.  

Que o nosso salário não é definido por um mero decote ou o uso de um batom vermelho. 

Vale lembrar, igualmente, que nós não precisamos de um elogio meia boca camuflado de violação.  

E precisamos menos ainda de alguém que nos diga o que devemos fazer, porque por mais que tentem esconder, o machismo existente na sociedade ama dizer, claramente, que nós não somos capazes o suficiente, independente de quantos doutorados nós tenhamos. 

E, não importa quantos relacionamentos a gente carrega pela bagagem da vida, não tente utilizar isso contra nós como se o nosso valor e caráter fossem medidos por algum beijo na boca. 

Muitas pessoas confundem o feminismo com o machismo e esquecem que ele não veio para impor o que queremos fazer, mas para trazer a liberdade e direito a fim de escolher viver como bem entender, sem precisar dar satisfação e buscar aprovação masculina. A maior dificuldade de nossas vidas não é o fato de existir um milhão de regras dentro de um livro “fictício”, mas saber que nós estamos fadadas a segui-las pelo resto de nossas vidas por causa do assédio e do machismo, coisas essas que estão completamente longe do nosso alcance básico de controle, e coisas essas que são tão absurdas que parece piada. Nós precisamos de liberdade e a certeza de que o amanhã não será mais incerto. 

Maria Clara Petrarca é discente do curso de Letras – português e literaturas de língua portuguesa na UNIPAMPA, campus Bagé. E, atualmente, é integrante do Programa de Educação Tutorial (PET).

“Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.

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