Ano 11 Nº 032/2023 – Da escola rural à universidade federal

Por Nicole de Souza Fernandes

Quando eu estava na pré-escola, no início dos anos 2000, e, em alguns meses frequentando o ambiente escolar, que o meu sonho de ser professora começou. Lembro-me de dizer para as professoras que gostaria de seguir o caminho da docência quando crescesse, alguns me incentivaram, já outros diziam que isso poderia mudar ao longo do tempo. No fundo, acredito que as pessoas não enxergavam que esse sonho pudesse se realizar, ainda mais quando era o sonho de uma criança que morava na zona rural, e os pais não teriam condições de pagar por uma faculdade privada. 

Conforme os anos iam passando, meu desejo de ser professora só aumentava, e, com ele, o questionamento de como eu iria dar continuidade aos meus estudos, ou se ter estudado em uma escola pública da zona rural não dificultaria todo esse processo. Foi por isso que, em 2016, após ter concluído todo o ensino fundamental na escola rural, eu me mudei para Bagé. Mesmo que a prefeitura disponibilizasse transporte para que os alunos pudessem dar continuidade aos estudos na cidade, precisei me mudar, porque o local onde eu morava era de difícil acesso e sempre que chovia a estrada ficava interrompida, e foi assim que fui morar com os meus avós e precisei ficar longe dos meus pais para dar continuidade aos estudos. Eu não tinha muito conhecimento sobre vestibular, faculdade pública ou bolsas em faculdades privadas, era apenas a vontade de dar seguimento àquilo que tanto almejava. Por essa razão, quando entrei no ensino médio me sentia bastante deslocada. Até aquele momento, não tinha sido apresentada a esse novo universo de possibilidades que me colocariam mais perto do meu objetivo. 

Quando chegou o terceiro ano do ensino médio, fui para uma nova escola, onde eu não conhecia ninguém, e acabei encontrando algumas dificuldades relacionadas à metodologia de ensino, principalmente por ter vindo de uma escola que era menor e com turmas que não chegavam a 20 alunos, diferente do que eu encontrei na nova escola. Ainda tinha a questão do medo de não conseguir entrar em uma faculdade, algo que me atormentava, principalmente por saber que não teria condições de pagar por um curso preparatório. Então, foi em março de 2018 que descobri o Simplifica, um cursinho pré-vestibular gratuito que era fornecido pela prefeitura e fiquei estudando nesse cursinho até a última semana antes do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Tive um desempenho satisfatório no ENEM e consegui entrar no curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa da Unipampa Campus Bagé, mas a partir daí outro processo nada fácil teve início.

O primeiro ano de faculdade foi um pouco difícil porque precisei arcar com alguns custos: como materiais e passagens, mas com a ajuda dos meus pais e avós e com a bolsa que consegui em projetos do curso de que participei, pude ir me mantendo até aqui e participei de dois programas institucionais, sendo um deles o Residência Pedagógica e o outro o Programa de Educação Tutorial (PET – Letras), no qual continuarei como bolsista até me formar.

Eu quis mostrar através desse texto que não foi fácil chegar até aqui, mas que consegui e sei que boa parte disso foi por causa de projetos como o Simplifica, e os projetos desenvolvidos pela Unipampa, que me ajudaram a me manter na graduação até aqui. Muitas vezes quando vou dar aula e pergunto para os meus alunos se eles querem fazer alguma graduação, eles respondem que não por ser difícil e não terem condições financeiras para isso, espero que com esse texto eu possa motivá-los e mostrar que é, sim, possível.

Nicole de Souza Fernandes, é discente do curso de Licenciatura em Letras –  Português e Literaturas de Língua Portuguesa, da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA/Campus Bagé-RS), e está atualmente no 7º semestre. Entrou como bolsista do PET Letras/Bagé no início de 2022.        

“Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.   

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