Ano 06 nº 003/2018 – CRÔNICA: BONITINHA… MAS ORDINÁRIA (SQN)

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Por Carlos Juliani Lemos Vaz

        Nos dias atuais, tendo a mulher conquistado dia a dia o seu espaço, é cada vez maior o número de casais onde ambos trabalham, até mesmo para que um possa complementar a renda do outro. Assim, quem se propõe a morar junto, seja somente “juntando escovas de dente”, seja casando, deve também se propor a dividir tudo, tanto as alegrias quanto os problemas: a renda, as tarefas domésticas, a educação dos filhos, e tudo o mais que uma relação a dois traz.

        Nesse contexto, trago hoje a estória de Michel e Carla. Este simpático casal está casado há mais de quinze anos, e tem dois meninos, sendo um com treze e o outro, com nove anos de idade, o que faz com que já não sejam mais tão dependentes dos pais. Eles estudam pela manhã, e o fato de a escola ser perto de sua casa facilita, pois ambos podem ir a pé. Michel e Carla, por sua vez, trabalham no centro, e geralmente almoçam por lá mesmo: Michel no trabalho dele, e Carla, em um restaurante perto do seu trabalho. Não vale a pena irem almoçar em casa, pois o tempo de almoço dos dois é muito curto. Para os meninos, Carla geralmente deixa comida congelada, que o filho mais velho coloca no micro-ondas e esquenta, ou então Carla deixa algum dinheiro, e os dois filhos almoçam num pequeno restaurante que há perto de sua casa.

        Entretanto, dia desses, Michel iria trabalhar somente pela manhã, e assim iria almoçar em casa. Como Michel não é dos melhores cozinheiros (no máximo faz um carreteiro e frita um ovo, e olhe lá!), Carla resolveu ir em casa e cozinhar, mesmo com o pouco tempo de que dispunha. Além disso, quando vão para o serviço, de carro, Michel deixa Carla no serviço dela e vai para o seu, e obviamente quando sai, Michel busca Carla no trabalho dela. Mas como Michel não trabalharia à tarde naquele dia, precisava levar Carla em casa, para que ela ficasse com o carro depois, e assim Michel não precisasse sair de casa apenas para buscar Carla.

        Dessa forma, assim que saiu do serviço, perto do meio-dia, Michel foi buscar Carla e foram imediatamente para casa. Assim que chegaram, Carla pôs a “mão na massa”, literalmente, correndo com as panelas. Como adora cozinhar, e, ao contrário de Michel, é uma cozinheira de mão cheia, essa tarefa para ela é um prazer, e não uma obrigação, ainda que tenha pouco tempo disponível.

        O feijão já havia ficado pronto na noite anterior; cozinha massa aqui, frita uma carne ali, bota arroz no fogo acolá… Tudo na maior correria… E Michel, que provavelmente havia tido uma manhã conturbada no trabalho, começa a incomodar e a dar pitaco:

        – Essa massa vai recozinhar!

        – A carne está queimando!

        – Tem que colocar mais água no feijão!

        – O arroz está sem sal!

        E Carla responde:

        – Se tu me ajudar e não atrapalhar será melhor, estou apressada e sei o que faço!

        Entretanto, Michel seguiu incomodando, e Carla foi ficando nervosa e p… da vida com aquele marido que, além de não ter ajudado, estava atrapalhando… E quando finalmente a comida ficou pronta, em tempo recorde, Michel percebeu que havia pegado pesado e tentou ser gentil, dizendo à Carla, que por sinal ainda tinha uns vinte minutos para almoçar:

        – Vem, vamos almoçar juntos!

        Carla, já estressada, respondeu:

        – Não quero comer porcaria nenhuma, faça bom proveito! Tu ficaste me incomodando o tempo todo, e achas mesmo que vou sentar contigo para almoçar? Vai pro diabo que te carregue!

        Dizendo isso, Carla pegou a chave do carro e saiu sem almoçar. Michel, por sua vez, ficou furioso com ela; mas como estava com fome, serviu a si e a seus filhos, e almoçaram normalmente. Enquanto saboreavam aquela comida, que por sinal havia ficado deliciosa (como sempre ficava), Michel pensava:

“– É uma desgraçada mesmo… Mas pelo menos cozinha bem!”

        Na noite daquele mesmo dia, após fazerem as pazes, Michel comentou com Carla sobre aquela frase que havia dito para si mesmo, e os dois riram muito disso.

        Essa frase, por sinal, acabou ficando famosa entre os dois e entre seus amigos. Tanto é que, hoje em dia, quando se reúnem, entre amigos, para comerem alguma coisa (sempre preparada por Carla), quando estão à mesa, e algum dos amigos rasga elogios à comida de Carla, sempre vem à tona a tal frase:

        “– É uma desgraçada… Mas pelo menos cozinha bem!”

Comentários
  1. Marcia Duro Mello

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