Ano 10 nº 020/2022 – ATÉ QUANDO OS PRETOS/NEGROS VÃO PASSAR POR ISSO? MAIS UM CRIME DE RACISMO, DESTA VEZ, NA CIDADE DE BAGÉ/RS

Por Arthur Teixeira Ernesto

Acho que todos já sabem que o mês de maio é dedicado ao dia dos trabalhadores e que também é celebrada a data da assinatura da lei Áurea pela princesa Isabel, e acredito que vocês já devem saber que essa assinatura não foi assinada por vontade própria, de bom grado, né? E também, historicamente, sabemos que mesmo com a assinatura da abolição da escravatura, os escravizados agora libertos ficaram à mercê da própria sorte, morando na rua, sem direitos, sem perspectivas de vida e, infelizmente, os sujeitos negros ainda continuam sendo perseguidos por uma sociedade racista e preconceituosa. E para linkar com isso que escrevi, relatarei um fato ocorrido na minha cidade, pois a imprensa local, ou os colunistas, ou os cronistas da nossa cidade “esqueceram” de noticiar ou relatar!

No dia 28 de março de 2022, na cidade de Bagé/RS, por volta das 12 horas, um grupo de alunos, supostamente, brancos de uma escola privada, fizeram uma denúncia à polícia, e afirmaram que um grupo de alunos negros de uma escola pública estavam portando arma branca e incitando confronto nos arredores de ambas escolas. De imediato, a polícia foi averiguar o caso, e abordaram somente os jovens negros que tiveram os seus corpos expostos para o público que assistiu. Nessa abordagem, foi constatado que os cinco alunos negros não portavam nenhuma arma branca (faca), o que, por sua vez, demonstrou que a denúncia feita por alunos da escola privada era caluniosa, sem nenhuma prova.

No parágrafo acima, quando eu cito que:cinco jovens negros que tiveram os seus corpos expostos, esses sujeitos foram humilhados, redicularizados e vítimas de racismo econômico e institucional, pois durante a abordagem, um aluno (supostamente branco) da escola privada filmou os jovens negros sendo abordados pelos policiais, e proferiu o seguinte discurso: “Olha lá gurizada, meteram os negão do estadual tudo na parede! Êêê…”.

Fonte: Instagran/JuntosBagé

No dia seguinte ao fato, o vídeo gravado pelo aluno da escola privada viralizou nas redes sociais, e centenas de pessoas ficaram sensibilizadas, porque parte da população (sejam elas brancas ou pretas) se colocaram no lugar dos jovens, a escola em que os jovens negros estudam realizaram um protesto nas escadarias da instituição, em que os alunos se apresentaram vestidos de roupa preta e de punho erguido. Outras escolas da cidade também prestaram solidariedade, e houve pessoas que ficaram revoltadas com a abordagem feita pelos policiais, pois, no vídeo, é nítido perceber que a polícia colocou os jovens negros em situação de humilhação, e isso se reforçou com a gravação e a circulação da imagem dos rapazes em situação desconfortável.

Após o ocorrido, visualizei um story de um aluno branco que estuda na escola onde estudam os jovens negros, que se organizaram e tiraram uma foto com vestimentas pretas, e de punhos erguidos nas escadarias da escola para prestarem apoio aos alunos envolvidos. Ao ver o storie do estudante branco, achei uma boa iniciativa que os alunos tomaram, mas para mim é algo que passa e será esquecido, infelizmente. Percebo que muitas pessoas que vão ou participam de protestos antirracistas acham que é hype, que é moda estar nessas manifestações para conseguir likes nas redes sociais. 

Dessa forma, isso me faz pensar que muitas vezes essas pessoas não sabem e não refletem sobre o motivo desses protestos. Eu reflito sobre isso, porque, infelizmente, já fui um estudante no ensino médio, e frequentava as greves dos professores, e não sabia o real motivo desses protestos. Para mim, aquelas manifestações eram como se fosse um dia comum para ir numa praça, mas, na verdade, depois de uma formação acadêmica, pude perceber que os meus professores e os seus colegas estavam lutando por melhorias nas suas carreiras.

  Por fim, quero frisar que esse texto expressa a opinião de um sujeito negro e professor em processo de formação, e acredito que tirar foto com roupa preta ou com o punho erguido, colocar nas redes sociais #VidasPretasImportam ou #VidasNegrasImportam não é suficiente para combater o racismo. Acredito que uma das melhores respostas seria propor atividades que envolvessem as escolas (públicas e principalmente as privadas) a organizar atividades com as comunidades, como rodas de conversas com historiadores, com psicólogos, com advogados para discutir e entender que praticar atos racistas prejudica o psicológico de quem sofre, e também afeta a mente de quem é racista, porque se torna um sujeito perverso de psicológico muito afetado, cheio de ódio. Para então, é preciso refletir sobre para não ir “só por ir” em protestos antirracistas porque acha que é um “assunto/pauta da moda”. Porque já passou um mês desse fato, e caiu no esquecimento da nossa sociedade, e percebo que grande parte da população gosta de agir e sugerir ideias revolucionárias no calor/momento da emoção, e até a escrita desse texto, não vi mais ninguém se manifestar sobre o caso de racismo cometido por alunos da escola particular, visto que nem a mídia local, nem os colunistas e nem os cronistas da nossa cidade se manifestarem ou escreveram até o momento. 

 Arthur Teixeira Ernesto: acadêmico do 7° semestre do curso de Licenciatura em Letras — Português e Literaturas de Língua Portuguesa, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa Campus Bagé/RS. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET-Letras Bagé). Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas Oliveira Silveira (Neabi Oliveira Silveira).

“Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.

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