Ano 04 nº 077/2016 – Artista embriagado
Flor de Caranguejo
Vitória Nunes Magalhães
Aluno 3º ano EM – Colégio Presidente Emílio Garrastazu Médici
Nem sempre começar a produzir é algo fácil. Um artista, por exemplo, necessita de uma inspiração interior, isto é, de uma ideia da camada mais profunda do pensamento. Essa tem que ser espontânea, inebriante e que deixa o sujeito levar-se pela brisa leve da reflexão a fim de colocá-los em um papel ou até mesmo em uma tela de diversas polegadas.
Esse início um pouco dramático que fiz você ler, caro leitor, é para que possas compreender o processo do qual irei lhe contar. (Não se assuste com alguns termos ou com algumas descrições, é quase impossível conter-me diante de algo tão maravilhoso.)
O sábado é o dia da semana que eu mais espero. Já pela manhã, eu acordo pensando no que irei produzir à tarde. Conto cada minuto para não atrasar-me. Arrumo meu material, escolho a dedo qual dos lápis vou usar, coloco tudo na minha bolsa sem fundo e vou para a parada do ônibus.
Bom, eu acho que você deve estar se perguntando para onde essa louca está indo, cadê o sentido em tudo isso? Pois bem, todos os sábados das 14 às 17 horas eu vou para a aula de arte. Sim, aula de arte. Uou, além de falar e falar, ela desenha. É, pode-se dizer que desenho. Mas não irei falar sobre o que eu desenho ou coisa parecida. Meu foco nisso tudo é uma colega e amiga minha.
Já lhe disse que ficar observando é um dos meus hobbies preferidos?! Tem vezes que fico olhando por longos segundos, minutos algo ou alguém. A arte de ver cada detalhe e tentar descobrir o que tal coisa significa me deixa em êxtase. Em um sábado (que não lembro qual foi) na aula de arte, alguma coisa estava gritando, um grito silencioso. Olhei em volta para ver se mais alguém tinha escutado, mas nada. Retornei a desenhar. Alguns minutos passam e o grito volta, não identifiquei a fonte de primeiro, mas vi que uma pessoa estava muito focada. Deduzi que não era um grito e sim uma fonte de inspiração.
Seu olhar abduzia cada traço feito, tudo era milimetricamente pensado no subconsciente. Uma apagada aqui, uma esfumada ali e uma parada para analisar. Seu silêncio era uma longa conversa a cinco: ela, o papel, o lápis, a borracha e o ambiente. Eles estavam tendo uma boa discussão. Cada um com a sua função. Ah, esqueci de mencionar que eram seis elementos, faltou a música, a sua fiel companheira.
(Foto: Vitória Nunes Magalhães)
Ela em meio a tantos se destacava, sempre pensativa e quieta no seu canto, naquele dia não era isso. Flutuando em seus pensamentos nada fáceis ela me cativou. Além de estar muito bem vestida, carregava um lenço azul em volta de seu pescoço não tão fino e nem muito grosso. A volta perfeita que ele fazia desenhava uma figura mística à margem do enigma. (Sinto-lhe informar que a sua beleza é de cair as pitangas do bolso.) Parei de desenhar para poder olhar com mais atenção seus movimentos. Concentrada em traçar o primeiro risco, (penso eu que ela não deve ter formado por completa sua ideia de desenho) cada passada do lápis no papel de folha A3, de média textura, é uma nova forma. O tema que foi dado é com base na releitura de alguns artistas escolhidos por nós.
Gustav Klimt. “Palas Atena” (1898)¹. Essa foi a obra escolhida por ela. Klimt, o eterno artista que tinha uma longa queda por retratar a mulher, de todas as formas, de todos os jeitos. Era de se saber que ela iria escolher essa obra, bom queres saber por quê? Analisemos a obra juntos:
A mulher como tema principal, sua beleza e seu jeito de sedução, suas curvas e suas características. Gustav Klimt retratou-a na sua forma crua, nua e vestida. Ela, o tema central, sem preconceitos ou mimimi. O sexo feminino à frente, sem medo da opressão, superando tudo o que a sociedade lhe impõe, mostrando que tem um corpo e que esse não está no estereótipo marcado por todos, e que uma mulher pode amar outra mulher. Esses são alguns dos motivos para ter escolhido tal obra.
Se quer conhecer mais sobre Gustav Klimt, acesse: https://www.artsy.net/artist/gustav-klimt.
Nós artistas buscamos sempre passar nossos sentimentos de alguma forma, pode ser falando, desenhando, escrevendo, dançando, fazendo silêncio, enfim de diversas formas. Ela não é diferente, uma artista nata, sem pudor. Aquele dia ela soube como ter a minha atenção. Parada, olhando psicodelicamente para suas caras e bocas eu percebi que ela expressava-se de forma crua e nua, como Klimt em suas obras sobre as mulheres.
Voltando para o como ela estava desenhando. Depois de muito pensar em como desenhar ela enfim faz o rascunho, começa pelas possíveis formas geométricas que pode se ter na obra, reproduz elas, com um lápis 6B marca um círculo e logo após um retângulo, vê como posicionou essas formas na folha e prossegue. Não queria parecer obcecada pelo seu trabalho, então sempre que podia não transparecer minha vontade de vê-la desenhando voltava ao meu desenho.
(Foto: Vitória Nunes Magalhães)
Por alguns minutos eu fiquei meio desfocada do mundo, e focada no meu desenho percebi que ela (a moça do desenho) estava inquieta, olhei e perguntei o que havia, em um tom de “socorro” mesclado com risos balbucia:
– Vi, eu não consigo fazer esse maldito nariz, af!
(Continua…)
1- Palas Atenas- Gustav Klimt – 1898. Acesso: http://www.gustav-klimt.com/Pallas-Athene.jsp