Ano 13 Nº 022/2024 – O dezenove de abril: dia alusivo aos povos originários, e não ao “dia dos índios” 

Por Ana Gabriely dos Santos Dias e Arthur Teixeira Ernesto

Querida(o) leitora(or) desta coluna, este texto trata-se de uma reflexão e de um  ensaio para um artigo que está em andamento pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas Oliveira Silveira … Nesse sentido, provavelmente, quando você estudava na pré-escola até o Ensino Médio, você já teve o seu rosto, pelo menos, alguma vez pintado pelo(a) seu(sua) professor(a). Caso isso nunca tenha acontecido contigo, nós podemos dizer que o(a) seu(sua) educador(a), possivelmente, seja uma pessoa progressista, que pensa e reflete sobre as questões alusivas ao dia em comemoração aos povos indígenas, em que na escola é tratado como dia do “Índio”, termo esse que não é mais usado para se referir aos povos originários.

Nós trouxemos aqui essa discussão, pois, não sei vocês, mas quando estudávamos na educação básica tivemos os nossos rostos pintados, tendo que passar por esse tipo de situação nas vésperas do dia dezenove de abril ou no próprio dia alusivo à data, salientando que, muitas vezes não havia nem uma explicação do que se tratava o povo indigena, usando apenas suas características para fantasias.

As nossas professoras levavam para a sala de aula folhas de ofício, tesouras, lápis de colorir, giz de cera etc. para pintarmos e recortar o cocar, que é um objeto utilizado por várias etnias indígenas. Aqui no Brasil, por exemplo, esse adereço pode ter um significado dependendo de cada região. Mas o nosso foco é de como a estereotipização dos povos indígenas é trazida à sala de aula no Rio Grande do Sul. 

O Brasil é um país grande com várias culturas diversas, e quando falamos dos povos originários, não é diferente, cada povo tem suas peculiaridades. Como professores temos que aprender a desenvolver as multiplicidades existentes, não tratando os vários povos indígenas como se fossem um só. Segundo SANTOS (2022, p. 51),

Os indígenas do Sul do Brasil são notoriamente diferentes dos indígenas do restante do país, em cultura, vestimentas, hábitos, rituais e simbologias. A vestimenta foi um ponto a ser observado neste estudo, por trazer diversas referências dessas diferenças, quer pelo clima da região ou pelos efeitos do processo imigratório.

Como vemos no trecho acima, os povos indígenas da região sul, divergiam de outros povos do restante do Brasil, se aproximando muito com a cultura gaúcha, por exemplo, segundo SANTOS (2022, p. 55) “O clima extremo e os ventos do Sul obrigavam os indígenas a criar diversas formas de se adaptarem e um desses artefatos de adaptação foi a manta chamada de cayapi (ou caipi)”. Mas na escola isso não é desenvolvido, o indigena continua sendo alvo da estereotipização, segundo a lei 11.645/08, o ensino dos povos originários é obrigatório em todo as fases do ensino básico,

O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (BRASIL, 2008). 

O principal problema é a falta de formação para os docentes sobre a cultura dos indígenas da região sul, os órgãos competentes têm a obrigação de ministrar cursos sobre, pois os estudantes estão sendo prejudicados com esse ensino, que demonstra um índigena “padrão”. Na imagem a seguir, podemos ver uma ilustração de uma vestimenta utilizada pelo indigena da nossa região.

Fonte: Santos (2022)

Esta imagem mostra a grande diferença entre o que ainda é contado nas escolas sobre todo Indígena vestir o cocar e a realidade. Nós como grupo fizemos essa reflexão, inclusive, tínhamos em nosso logo a simbologia do cocar, como vemos nas imagens a seguir:

Fonte: Lopes; Lopes (2022)

Imagem 2

                                                Fonte: Porto (2023)

Na imagem 1 temos a representação do cocar por esse círculo colorido do logo, depois de debatermos, o grupo decidiu mudá-lo, na imagem 2 é possível perceber que retiramos essa referência ao cocar e foi introduzido o lenço que é típico da região sul, o novo logo foi desenvolvido por uma integrante do nosso  grupo, uma artista local.

Diante de tudo que foi explorado até aqui, é importante para a formação das crianças que a história dos povos originários seja contada de forma certa e não da forma estereotipada que está, sendo pauta somente para o Dia do Indigena, mas sim que seja implementada em todo o nosso ensino.

Referências

BRASIL. Lei nº 11.645/08, Brasília, 10 de março de 2008. Brasília: Congresso Nacional, 2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 17 abr. 2024.

LOPES, Marina Lopes; LOPES, Rosana Lopes. Imagem 1: logo Neabi Oliveira Silveira. Bagé: Neabi Oliveira Silveira, 2022. 

PORTO, Kesya. Imagem 2: logo Neabi Oliveira Silveira. Bagé: Neabi Oliveira Silveira, 2023.

SANTOS, Francisco Ailton dos. Kãgran: o ensino da temática indígena nas escolas e os Kaingangs no Rio Grande do Sul. 2022. Disponível: Kãgran: o ensino da temática indígena nas escolas e os Kaingangs no Rio Grande do Sul (ucs.br). Acesso em: 17 abr. 2024.

Dados do autores:

Arthur Teixeira Ernesto: graduado do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pampa – Campus Bagé/RS. Pós-graduando no 2º semestre do curso de Mestrado Profissional em Ensino de Línguas (PPGEL) pela Universidade Federal do Pampa – Unipampa Campus Bagé/RS. Membro/pesquisador no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas Oliveira Silveira – Neabi Oliveira Silveira. Integrante do Centro de Escrita da Unipampa – CEU.  Membro do Núcleo de Estudos em Inclusão – NEI.

Ana Gabriely dos Santos Dias, graduada do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pampa (Campus Bagé – RS), atualmente é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Línguas (PPGEL) da Unipampa Campus Bagé/RS. Membro do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígenas Oliveira Silveira (NEABI – Oliveira Silveira) e também do Núcleo de Estudos em Inclusão (NEI). Seus interesses são em Análise do Discurso e Literatura.

Deixe seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Junipampa