Ano 12 Nº 026/2024 – O significado do Maio para a Luta Antirracista

Por Andréa de Carvalho Pereira

A proposta de comemoração do mês de maio não aborda de forma clara os fatores históricos que culminaram na libertação dos escravizados no Brasil. Oliveira Silveira foi um militante que buscou o reconhecimento do 20 de novembro, por ser dia da morte de Zumbi dos Palmares, almejando uma data que trouxesse de fato uma representatividade real para o povo negro.

Em seu poema treze de maio, Oliveira Silveira (2021) traduz o que foi vivenciado, podemos fazer um destaque e verificar no trecho do poema Treze de Maio:

Treze de maio traição,

liberdade sem asas

e fome sem pão

Liberdade de asas quebradas

como

…….. este verso.

Liberdade asa sem corpo:

sufoca no ar,

se afoga no mar.

Treze de maio – já dia 14

o Y da encruzilhada:

seguir

banzar

voltar?

Treze de maio – já dia 14

a resposta gritante:

pedir

servir

calar.

Os brancos não fizeram mais

que meia obrigação

O que fomos de adubo

o que fomos de sola

o que fomos de burros cargueiros

o que fomos de resto

o que fomos de pasto

senzala porão e chiqueiro

nem com pergaminho

nem pena de ninho

nem cofre de couro

nem com lei de ouro.

O que fomos de seiva

…………………..de base

………………… de Atlas

o que fomos de vida

…………………..e luz

chama negra em treva branca

…………………..quem sabe só com isto:  […] 

  Sem nenhum suporte pós liberdade, os ex-escravizados seguiram sem suporte, seja físico, financeiro ou emocional. Buscamos na lei 10639/03, que a história seja contada, para que todos possam ter consciência da importância que o conhecimento traz, para mudar uma realidade de onde não há equiparação de oportunidades, seja no quesito financeiro e/ou acadêmico, onde os maiores afetados são os descendentes dos escravizados.

Fonte: Bezerra ([201?])

A falta de informação histórica, faz com que seja desconsiderado por uma parte da população não avaliar de forma positiva questões relacionadas a ações afirmativas. A ignorância histórica impele a ações que desqualificam ou hostilizam a população negra. 

Não é fácil combater o racismo estrutural que a sociedade está inserida, todos os dias há casos divulgados em várias mídias, relacionado à violências vividas, há ainda muito mais que não são conhecidas. Mesmo tendo nos deixado em 2009, Oliveira Silveira, deixou um legado significativo no que diz respeito à militância e lutas representativas. 

Trazendo um questionamento recorrente, se buscarmos indícios onde há desigualdade, podemos identificar de forma expressiva que mulheres e homens negros tem uma situação financeira confortável, sem que façam parte do esporte ou meio artístico? 

A proposta de uma educação antirracista é transpassada pelas vivências que são replicadas em cada ambiente social, acadêmico ou familiar em que estamos inseridos. 

Tentar negar essa realidade ou tentar “ignorar” não resolve a desigualdade ou questões relacionadas, logo, palavras sem ações efetivas não vão sanar a crescente discrepância social. Oliveira Silveira nos apresenta uma representação das dores e lutas, focando na proposição do quanto o acesso à educação  é capaz de transformar realidades pré estabelecidas, nesse sentido podemos buscar uma coesão no que tange o conhecimento e a realidade vivenciada a partir de maio de 1888.

As reflexões nos permitem evoluir e buscar novas perspectivas de crescimento onde a realidade nos dá igualdade de condições e oportunidades reais. O que não nos é relatado? O que não sabemos sobre a história do nosso país, e o que de fato está sendo realizado para que a educação antirracista seja uma realidade não utopia.

Referências 

BEZERRA, Juliana. Como surgiu o dia da consciência negra. Rio de Janeiro: Toda Matéria, [201-?]. Disponível em: Como surgiu o Dia da Consciência Negra – Toda Matéria (todamateria.com.br). Acesso em: 18 maio 2024.

OLIVEIRA SILVEIRA. Oliveira Silveira: 20 de novembro. [Porto Alegre]: Cria Negra, 2023. Disponível em: Oliveira Silveira – Poeta da Consciência Negra do Brasil (ufrgs.br). Acesso em: 18 maio 2024.

OLIVEIRA SILVEIRA. Treze de maio. Belo Horizonte: Literafro, 2021. Disponível em: Oliveira Silveira – Treze de Maio – Literatura Afro-Brasileira (ufmg.br). Acesso em: 18 maio 2024.

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Graduada em Administração de Empresas pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG (2001). Graduada em Biblioteconomia pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande- FURG (2006). Pós-Graduada com Especializações em: Gestão em Arquivos pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM (2011) e Rio Grande do Sul: Sociedade, Política e Cultura pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG (2011). Bibliotecária do Campus Bagé da Universidade Federal do Pampa. Coordenadora do Neabi Oliveira Silveira – Unipampa, Campus Bagé desde 2019. Mestra em Ensino pela Universidade Federal do Pampa – Unipampa, Campus Bagé (2021).

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