Ano 11 Nº 063/2023 – Encontros etnomusicológicos com Oliveira Silveira
Por Antoniel Martins Lopes
“Palmares não é Palmares,/Palmares é Angola Janga./Nem é só Zumbi ou Ganga/Zumba,senhores. Palmares/ não é só um, são milhares.”
(Oliveira Silveira)
O Legado do professor Oliveira Ferreira da Silveira já se mostra bastante evidente de diferentes formas, desde as suas contribuições com o Grupo Palmares na década de 1970, em pleno contexto conturbado da ditadura no Brasil, até direcionando a potência produzida pelos movimentos sociais e a intelectualidade negra para e com a população negra situando as marcas históricas e culturais movidas pelo 20 de novembro.
Para além da data em que enfatiza o dia de Zumbi dos Palmares, esse legado de Oliveira Silveira orienta para um eixo de reflexões e qualidades de um processo diário de lutas e conquistas constantes tanto em escala nacional quanto nas suas contribuições regionais no Rio Grande do Sul presentes nos dias de hoje. Neste breve texto tentarei conectar alguns pontos do trabalho de Oliveira Silveira direcionados às marcas poéticas que se conectam com a música. Podemos dizer que o legado de Oliveira Silveira propõe “mixagens” tanto com o cotidiano da cultura gaúcha, passando pelos festivais de nativistas do Rio Grande do Sul, assim como sua escuta dos percursos sonoros e musicais advindos de África presentes na música brasileira.
Fonte: Exposição Mario Quintana de Oliveira Silveira (2021)
Conduzindo esta conversa por uma perspectiva dinâmica da etnomusicológica (campo interdisciplinar que se dedica ao estudo e entendimento das músicas em seus contextos sociais) trazemos aqui alguns processos destacando as artes em prol da luta por uma resistência negra posicionada no qual Oliveira Silveira explicitou a reflexão/ação voltada aos encontros com a música e poesia. Em 2017, O programa “Músicas do Mundo: etnomusicologia na Rádio da Universidade”, Organizado pelo Etnomus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, coordenado naquele momento pelo Prof. Dr. Reginaldo Gil Braga e apresentado por Pedro Acosta, atualmente professor, pesquisador músico e membro importante da Associação Brasileira de Etnomusicologia e coletivos convergentes com a etnomusicologia, trouxe no Episódio 27 Naiara Silveira, filha de Oliveira Silveira, dialogando as conexões da jornada de artística deixada pelo seu pai.
Juntamente com as interpretações no violão de Vladimir Rodrigues, que também é músico-poeta e percussionista, Naira sintonizou a sua vivência familiar intensa com as poesias e a continuidade da valorização do trabalho de Oliveira Silveira que inseriu sua preocupação com a população negra e estrutura de saberes presentes nas ruas, nos espaços de sociabilidade para população negra, clubes sociais e esportivos, saraus, etc.
A conversa com Pedro Acosta destacou a percepção atenta de Oliveira Silveira aos movimentos sonoros da afrodiáspora possíveis de ser acompanhados em dois séculos, XX e XXI, e como entender a importância de acolher as juventudes para estes processos de necessária participação e difusão de conhecimentos trazidos de diferentes épocas e gerações. A experiência desta “mixagem” de sons e diálogos etnomusicológicos com Naiara e de Vladimir estão disponíveis no link do programa Músicas do Mundo em: https://www.youtube.com/watch?v=qdFXvo9huzU. Este processo de diferentes camadas sonoras de Oliveira Silveira está presente na tese de doutorado de Pedro Acosta, trabalho que enfatiza também a importância de uma Etnomusicologia Negra, ou seja, sintonizar os estudos sonoros e musicais pelo caminho produzido por intelectuais negros e negras da etnomusicologia. No link https://lume.ufrgs.br/handle/10183/213597 é possível encontrar informações desta produção de saberes da afrodiáspora no Sul do Brasil pelos caminhos do Sopapo Poético na cidade de Porto Alegre apresentada por Pedro Acosta. Saiba mais sobre o que é a etnomusicologia ou (antropologia da música) e suas importantes contribuições no Brasil nos links: www.abet.mus.br, www.instagram.com/abet_oficial, www.facebook.com/abetmusica e https://www.youtube.com/@associacaobrasileiradeetno8185/featured
Saudações etnomusicológicas!
Mestrando em Música (Etnomusicologia/ Musicologia) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ UFRGS e integrante do Grupo de Estudos Musicais GEM/UFRGS sob orientação da Profa. Dra. Maria Elizabeth Lucas. Licenciado em Música pela Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA (2021). Bacharel em Comunicação Social, habilitação Jornalismo, pela Universidade da Região da Campanha/URCAMP (2012), com especialização em Psicologia Social – Políticas, Políticas Públicas e Movimentos Sociais (2015), pela mesma instituição. Atua como educador musical na APAE – Bagé. Tem interesse nas áreas de educação musical, militância negra, estudos étnico-raciais, pesquisa em etnomusicologia, educação especial e práticas sonoro-musicais coletivas em diversos espaços de sociabilidade da cidade de Bagé/RS e região. É colaborador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas Oliveira Silveira.