Ano 07 nº 081/2019 – Alfonsina, mulher em várias línguas

Por Diogo Ferreira

Estudante de Letras – Línguas Adicionais/UNIPAMPA

Quando comecei a disciplina de Tópicos de Feminismo, eu realmente não sabia o que esperar, podia ser a melhor ou a pior experiencia da minha vida, conforme fosse conduzida. Para mim, o feminismo só pode ser imaginável quando é um feminismo classista. Durante o decorrer do semestre, fui vendo o resgate do feminino ancestral, de resgatar as raízes, enfim. Busquei tentar resgatar isso através da religiosidade, da minha sagrada Umbanda. Mas as vezes menos é mais e é melhor um trabalho mais singelo que cause impacto. Lembrei de uma mulher que sempre admirei, uma mulher latinoamericana que sempre esteve muito a frente de seu tempo (sem desfazer de outras que também admiro, como Violeta Parra), que no início do século rompeu barreiras inimagináveis em uma sociedade predominantemente machista: Alfonsina Storni. A conheço a bastante tempo, mas a primeira vez que fiz uso de uma obra sua para o grande público foi em 2017, em um evento promovido pela PROEXT na Unipampa – o “HeForShe”. Alfonsina para mim é um exemplo, e tem uma obra poética maravilhosa, que varia entre a liberdade feminina, as críticas tanto de gênero como sociais, bem como poemas de amor extremamente sentimentais. Uma obra que muitas vezes não é conhecida, nem valorizada. Resolvi pegar dois poemas e traduzir para duas linguas, enlaçadas com o curso de Línguas Adicionais: para o português e o inglês. Dito isso, só me resta desejar que apreciem. Boa leitura.

BIEN PUDIERA SER… 

Autoria: Alfonsina Storni

Pudiera ser que todo lo que en verso he sentido 

No fuera más que aquello que nunca pudo ser, 

No fuera más que algo vedado y reprimido 

De familia en familia, de mujer en mujer.

Dicen que en los solares de mi gente, medido 

Estaba todo aquello que se debía hacer… 

Dicen que silenciosas las mujeres han sido 

De mi casa materna… Ah, bien pudiera ser…

A veces en mi madre apuntaron antojos 

De liberarse, pero se le subió a los ojos 

Una honda amargura, y en la sombra lloró.

Y todo eso mordiente, vencido, mutilado, 

Todo eso que se hallaba en su alma encerrado, 

Pienso que sin quererlo lo he libertado yo.

LA QUE COMPRENDE 

Autoria: Alfonsina Storni

Con la cabeza negra caída hacia adelante

Está la mujer bella, la de mediana edad, 

Postrada de rodillas, y un Cristo agonizante 

Desde su duro leño la mira con piedad.

En los ojos la carga de una enorme tristeza,

En el seno la carga del hijo por nacer, 

Al pie del blanco Cristo que está sangrando reza: 

-¡Señor, el hijo mío que no nazca mujer!

BEM PUDERA SER

Tradução: Diogo Ferreira

Pudera ser que tudo o que em verso tenho sentido

Não fosse mais que aquilo que nunca pude ser

Não fosse mais do que algo vedado e reprimido

De família em família, de mulher em mulher

Dizem que nos solares de minha gente, medido

estava tudo aquilo que se devia fazer

Dizem que silenciosas as mulheres têm sido

de minha casa materna… ah, bem pudera ser

As vezes em minha mãe apontaram antolhos

De libertar-se, mas lhe subiu aos olhos

Uma funda amargura, e na sombra chorou

E tudo isso mordente, vencido, mutilado

Tudo isso que se encontrava em sua alma encerrado

Penso que sem querer o libertei eu

A QUE COMPREENDE

Tradução: Diogo Ferreira

Com a cabeça negra caída a frente

Está a mulher bela, a de mediana idade,

Posicionada de joelhos, e um Cristo agonizante

Desde sua madeira dura a olha com piedade.

Nos olhos a carga de uma enorme tristeza,

No seio a carga do filho por nascer,

Ao pé do branco Cristo que está sangrando reza:

– Senhor, que meu filho não nasça mulher!

WELL IT COULD BE

Tradução: Diogo Ferreira

It could be that everything in verse I have ever felt

No more than what I could ever be

It was no more than something fenced and repressed

From family to family, from woman to woman

They say that in the solar of my people, measured

everything was to be done

They say that silent women have been

from my maternal home … oh well it could be

Sometimes in my mother have pointed cravings

to break free, but it rose to her eyes

A deep bitterness, and in the shadow wept

And all this biting, defeated, mutilated

All that was in your soul enclosed

I think I accidentally released it

WHAT YOU UNDERSTAND

Tradução: Diogo Ferreira

With black head droping forward

There is the beautiful woman, the middle-aged woman,

Positioned on her knees, and an agonizing Christ

From its hard wood it looks with pity.

In the eyes the burden of a great sadness,

Within the burden of the unborn child,

At the foot of the white Christ who is bleeding, she prays:

– Lord, I hope my baby is not a woman!

*Texto de introdução ao dossiê, da Prof. Dra. Fabiane Lazzaris: https://junipampa.info/colaboradores/feminismo-interseccional-dossie-para-o-junipampa/#.XdQktOhKjIU

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