Ano 09 nº 053/2021 – A tia que virou borboleta

Por Clara Dornelles

Para Izolina, minha mãe amada.

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Imagem de Larisa Koshkina por Pixabay

Naquele tempo a gente não tinha celular para registrar o que acontecia de minuto em minuto. Mas era um tempo bom, quando a maior preocupação de uma idosa como eu era fazer as tranças na sobrinha. Izolina tinha uns 14 anos e era a única, além da querida cunhada Zeni, que cuidava de mim. Tinha os cabelos longos e negros, olhos grandes, o nariz do pai e um sorriso só seu. Quando ela vinha me cuidar, me sentia segura, quase como uma criança que a mãe pega no colo e dá amor. Izolina tinha amor em cada gesto.

O fim de semana chegou e meu filho, que era militar, precisava dormir fora por dois dias. Então fui para a casa do meu irmão, pai de Izolina, que morava pra fora, num lugar com cheiro de bicho e cor de flor. Quando amanhecia sempre tinha borboleta e umas abelhas barulhentas pintando o jardim. Eu adorava passear por ali. O sábado clareou bem cedo e logo levantei e fui procurar minha sobrinha. 

Procurava Izolina por toda parte, mas ela não estava em lugar nenhum. Então, comecei a seguir as borboletas! Estavam tão lindas e traziam aromas deliciosos das flores do campo. Andei um pouco mais e comecei a querer voar. Estava cansada de caminhar e sabia que mais cedo ou mais tarde estaria mais para o céu do que para a terra. Foi quando avistei uma borboleta enorme que me convidava a voar junto! Que sensação de liberdade tão grande. Minhas pernas se investiram de uma força esquecida e quando o sol bateu nos meus olhos só enxerguei minhas próprias asas. Voei, voei e continuo voando… 

Minibio: Sou inventiva, mas gosto de uma rotina; na escrita, encontro um lugar para criar e exercer liberdade, para viver.

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