A resistência e a luta por direitos das mulheres afegãs

Por Daniele Pio Falcão

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 (Foto: Louiza Vradi)

No dia quinze de agosto de 2021, a notícia que chocou o mundo foi de terror e caos, o Talibã toma novamente a capital do Afeganistão, Cabul. O grupo extremista governou o país entre 1996 e 2001, como sabemos foram anos bem difíceis para os afegãos, principalmente para as mulheres e crianças, que sofreram muito com a opressão, tortura, e foram submetidas a vários tipos de violência. 

Agora, vinte anos depois, com a volta do grupo ao poder, o medo, a insegurança, e a incerteza sobre como será a vida das mulheres afegãs daqui pra frente toma conta de todos e preocupa o mundo.

O patriarcado não é exclusividade de um ou outro país, ou cultura, desde o nosso nascimento estamos fadadas à luta. As mulheres do mundo todo precisam lutar e resistir sempre. No Afeganistão, não é diferente, sabemos do sofrimento das mulheres que vivem lá, elas foram e são afastadas das escolas e tem o acesso à educação proibido, impedidas de trabalhar permanecendo submetidas ao domínio das famílias e assim privadas de independência financeira, além disso, são fisicamente, sexualmente e moralmente violentadas, torturadas, oprimidas, dentre tantas outras crueldades e absurdos sofridos por essas mulheres. 

Os poucos direitos conquistados ao longo de vinte anos voltam a ser ameaçados agora com o retorno do Talibã ao poder.

Como falei anteriormente, todas as mulheres já nascem precisando resistir, porém, nós, como mulheres ocidentais, não devemos ditar quais seriam ou deveriam ser as reivindicações das mulheres orientais afegãs. E não serei hipócrita a ponto de dizer que nunca fizemos isso, me coloco nesse lugar também, já pensei que por eu ser mulher saberia e entenderia a razão de todas as demandas, de todas as mulheres, e os porquês das suas reivindicações, mas cada uma vê o todo do lugar no qual se encontra, o que não impede nossa tristeza e compadecimento com a dor delas, mas mais do que nunca essas mulheres precisam de voz e precisam que suas vozes sejam ouvidas. Isso não me liberta da preocupação com as afegãs, principalmente neste momento, não me isenta da luta, e não me impede de lutar ao lado delas, muito pelo contrário, permite a elas o direito de lutar e resistir por aquilo que é necessário a elas. Dessa forma, chegamos às reais necessidades das afegãs, e sabendo disso, podemos e devemos lutar juntas, por um futuro com liberdade, justiça e igualdade para todas.

Nos últimos dias, apesar do medo e do perigo iminente, elas foram às ruas no Afeganistão protestar contra os retrocessos que estão a caminho e contra os que já se estabeleceram novamente, muitas delas se uniram às manifestações que já estavam acontecendo, integrando a frente de resistência contra o extremismo do Talibã. Clamando por seus direitos mostram a sua força, que por vezes é surreal, e elas precisam de cada vez mais espaço para mostrar isso, sem que suas vozes sejam abafadas ou caladas, e os silenciamentos limitem suas lutas e resistências.  

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 (Foto: Louiza Vradi)

O grupo extremista Talibã, em algumas declarações que deu nos últimos dias, anunciou que não iria extinguir direitos já conquistados pelas mulheres afegãs, mas como estamos vendo, não tem acontecido exatamente dessa forma, muitas mulheres já foram retiradas de escolas e da Universidade de Cabul, sendo proibidas de estudar e também de trabalhar, nas transmissões televisivas no Afeganistão não são mais vistas mulheres apresentadoras, em alguns lugares só é permitido que as mulheres saiam nas ruas usando a burca e acompanhadas por um homem. E, ainda assim, mesmo com tantas incertezas e inseguranças, mesmo com medo do que ainda possa vir a acontecer, medo da opressão que vem chegando, elas resistem bravamente. Muitas além de saírem às ruas, usaram as redes sociais para protestar, e não irão abrir mão das conquistas que as mulheres do país tiveram nos âmbitos sociais, econômicos e na educação nos últimos anos. 

Apesar de tudo e de todos, as mulheres afegãs lutam, resistem, nós todas resistimos, e podemos abraçar essa luta também, junto com essas mulheres, proporcionar voz a elas, como faz a grafiteira afegã, Shamsia Hassani. Shamsia, é a primeira mulher grafiteira e artista de rua do Afeganistão, e através de sua arte resiste, retratando a opressão sofrida pelas mulheres no país. Pois, como disse Audre Lorde: – “Não serei livre enquanto alguma mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”. As nossas correntes realmente, muitas vezes, não são as mesmas de outras mulheres, não são as mesmas das mulheres afegãs, mas nada nos impede de seguir a caminhada lutando e resistindo lado a lado. De mãos dadas contra a opressão, resistimos e lutamos, e parafraseando a canção Divino, maravilhoso, composta por Gil e Caetano, “estamos e seguimos atentas e fortes”!

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Daniele Pio Falcão é acadêmica do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pampa Campus Bagé-RS. Atualmente, é bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET – Letras). Suas áreas de interesse são: Literatura, Política e Movimentos Sociais, Escrita e Arte.    

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