Ano 06 nº 067/2018 – A poesia amarga na obra Vermelho amargo, de Bartolomeu de Queiros

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Por Stéfany Solari Maciel

 

Vermelho amargo, a obra que realmente deixou meus olhos marejados. Uma obra de cunho memorialístico do autor Bartolomeu de Queiros, narra  a sua infância e expressa através de uma leitura poética as suas lembranças de infância solitária e como é viver sem o amor materno.

Na obra o narrador/menino  revive a sua infância e, no mesmo instante, participa da narrativa.  A falta de amor é um dos elementos que mais podem ser observados na obra, quando o menino faz várias vezes a comparação da madrasta e sua mãe.

O escritor mostra a sua  constituição familiar composta pelo pai, madrasta, seus irmãos e ele. O pai  marcado pela figura do alcoólatra da família, mostrando o distanciamento da simbologia da figura paterna e da própria família. O irmão que comia vidro e a irmã que era obcecada na produção de bordados para o seu enxoval. A madrasta é narrada como alguém sem nenhum laço afetivo, a falta de amor, o autor coloca em dualidade a representação da mãe de extrema delicadeza e amor que carregava em suas atitudes diárias que são retratadas no decorrer da obra.

A figura da madrasta na obra surge para ser analisada nas atitudes cotidianas, comparadas com a mãe coerente que tem as suas funções de padrões vigentes na sociedade (cuidar, gerar), no simples ato de fazer o almoço. O fruto tomate é a grande metáfora do livro, pois ele exerce a função de narrar através da forma em que a madrasta fatia através de gestos finos e também precisos, sem afeto, em contraponto à delicadeza que a mãe teria para cortá-lo.

A maneira poética que o autor vai tramando o texto nos traz palavras fortes e remetem ao leitor através dos sons das palavras um som agudo. Essas palavras entrando em reflexo com o universo da madrasta, da mesma forma que ela corta o tomate nos levam a personalidade e o caráter dela de apenas “aceitar” a presença dos filhos do seu cônjuge.

Na leitura existem três elementos: Sujeito, tempos e os espaços ficcionais. O sujeito é o menino e todos os demais personagens. O tempo são as ações que estão inseridas na obra como o tempo cronológico e o simples ao de cortar o tomate.

O livro é uma prosa poética, pois utiliza-se vários elementos (palavras e expressões líricas (características de um poema) e os parágrafos curtos repletos de metáforas. Ao observar todos esses elementos expressivos, nota-se a ruptura que a morte da mãe causou na vida do autor e como distanciou do mundo, de uma certa forma perdeu todo aquele véu da inocência que lhe cobria. O autor não narra a sua formação como escritor, mas sim, um outro lado da infância que é a visão amarga e sem nenhuma visão de que uma infância deveria ser, de ver que o tempo não curou algumas feridas e também o questionamento do que é uma infância.

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