A importância das cotas raciais

Por Jaine da Rosa Soares

image2

(Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/educacao/sistema-cotas-racial.htm)

As cotas raciais são importantes em nossa sociedade pela dívida histórica e dolorosa que a nossa nação tem com pessoas que foram durante muito tempo escravizadas, torturadas e mortas por serem negras, pardas ou indígenas. Com o intuito de reduzir as diferenças e criar ambientes com as mesmas oportunidades para diferentes pessoas com realidades diversificadas tanto nos campos socioeconômicos quanto culturais.

Segundo a lei divulgada em 29 de agosto de 2012 pelo Governo Federal, nomeada como Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012), ficou determinado que no mínimo 50% das vagas de institutos federais deveriam ser direcionadas para as pessoas de grupos étnicos que no passado foram oprimidos por sua raça. Essa lei é bastante importante na Constituição Federal do nosso país, devido a nossa história horrorosa onde pessoas foram mortas e escravizadas pela cor que carregavam em sua pele, que por esse motivo foram retirados direitos básicos para um ser humano viver, o tratamento que o povo negro, pardo e indígena recebeu foi desumano e uma monstruosidade sem tamanho que reflete até os dias de hoje baseadas em ódio, raiva e preconceito. O povo negro foi escravizado por 300 anos, sendo esses de muita injustiça e crueldade, enquanto a escravização dos indígenas durou de 30 anos (1540 até 1570) existindo desde os tempos de colonização, foram coletividades que sofreram por muitos anos e que com o tempo conseguiram a tão sonhada liberdade. As minorias possuem o direito a essa lei por tratar-se de uma reparação histórica, quando negros africanos foram trazidos a força ao Brasil nenhum deles recebeu direitos e assim aconteceu após a libertação dos mesmos que em vez de darem apoio aos ex-escravos, não deram chances em nenhum tipo de ocasião obrigando a tornarem-se escravos novamente. 

De acordo com o MEC (Ministério da Educação), a quantidade de negros estudando no ensino superior passou de 3%, em 1997, para 19,8% em 2013. Isso mostra a diferença que as cotas raciais fazem nas instituições ou faculdades federais, geralmente pessoas brancas ocupam em maior quantidade espaços em diversos cargos, contudo pessoas negras e indígenas estão tomando lugares que são seus por direitos, visto que os mesmos foram negados durante séculos. É essencial entender a importância dessa lei, visto que algumas pessoas negras não tem quase motivação nenhuma para cursar uma formação técnica ou até mesmo uma faculdade pelo pensamento de que aquilo não está na sua realidade já que por tantos anos foram-nos proibidos direitos a uma educação superior. A maioria da população é preta e parda, mas, é a que menos ocupa cargos de alto reconhecimento, isso demonstra o quanto ainda temos que lutar contra a desigualdade para que recebamos nosso devido valor mostrando que somos capazes, mas que por motivos de preconceito não temos as mesmas facilidades de uma pessoa branca.

 Como é dito pela cantora, compositora e multi-instrumentista, Bia Ferreira, “Cota não é esmola” é uma de suas músicas que mostram como as cotas raciais são desmerecidas na sociedade. Um trecho de sua música fala “Existe muita coisa que não te disseram na escola. Cota não é esmola. Experimenta nascer preto na favela, pra você ver. O que rola com preto e pobre não aparece na TV. Opressão, humilhação, preconceito. A gente sabe como termina quando começa desse jeito. Desde pequena fazendo o corre pra ajudar os pais. Cuida de criança, limpa a casa, outras coisas mais…”, ela mostra como é a realidade das pessoas pretas que moram em periferias, e fala de como a ideia de entrar em uma faculdade parece ser bem distante da realidade e fala também do quão inferior é o ensinamento que é entregue para as escolas localizadas nas periferias. Também podemos usar o exemplo do rapper brasileiro, Nego Max, que em sua música  “Eu não sou racista” mostra o ponto de vista de uma pessoa negra e branca sobre vários assuntos que são tidos como temas racistas e um deles é as cotas, o trecho “Cota não é esmola, é a inclusão. De um povo sequestrado e deixado sem reparação…” é semelhante com o da cantora Bia Ferreira, apresentando novamente o quanto essa pauta deve ser debatida com demais pessoas para mostrar que por trás dessa lei existem inúmeras razões para ela existir. 

A meritocracia é quando se dá o valor de reconhecimento para aqueles que conseguiram se esforçar mais e ter alcançado seus objetivos, porém ela é mostrada indo contra as cotas e dita como favorável para o racismo, tendo a ideia de que todos podemos alcançar nossas conquistas com mérito de trabalho e esforço, porém isso não funciona no Brasil, em consequência de que nem todos os brasileiros têm as mesmas oportunidades, sendo eles de rendas, lugares e/ou etnias diferentes. A meritocracia é falsa em relação às cotas raciais, porque nem todo o indivíduo tem as mesmas condições, sejam elas financeiras, escolares ou em âmbito social. Essa temática também é falada pelo rapper Nego Max, onde no começo da música é falado a seguinte parte, “Engraçado, né? Cês gosta memo’ é de pegar atalho. Mas a conquista só vem com o mérito do trabalho…” que em seu vídeo é interpretado por uma pessoa branca, porém o rapper rebate esse argumento logo em seguida, onde ele fala  “Nosso sangue é base dessa economia. E você tem coragem de falar de meritocracia..” , expondo que a meritocracia não é tão bela quanto parece, por que no Brasil ainda a desigualdade é uma questão que talvez leve anos para ser revolvida e que não é uma realidade do povo brasileiro no momento. A meritocracia pode funcionar com ricos, brancos ou homens, porém pobres, negros, pardos, indígenas ou mulheres tem muitos obstáculos em seus caminhos, por ser um país ainda com muitas dessemelhanças em nosso povo. 

Portanto, as cotas raciais para mim são bastante importantes e é um direito nosso, como já foi dito, é um modo de reparar a história onde os grupos étnicos sofreram, morreram, lutaram e foram deixados sem direitos. Sou totalmente a favor das cotas porque nem todos nós temos os mesmos direitos, as mesmas oportunidades de ensino e as mesmas rendas salariais. A ideia que a conquista vem com o mérito do trabalho infelizmente é uma farsa no Brasil, estamos longe do que a meritocracia diz e faz. Queria que todos nós tivéssemos chances e oportunidades iguais, em diversas áreas, sejam elas em instituições federais, universidades federais, ou até mesmo em empregos, porém é uma realidade que talvez só possamos ver no futuro. Mesmo com essas dificuldades, as pessoas conseguem realizar seus sonhos de exercerem uma faculdade ou cursarem o ensino superior, com ajuda de seus familiares e amigos. Como estudante de uma Instituição Federal, que entrou pela cota racial autodeclarando-me negra, acho indispensável, e quero que mais pessoas tenham a mesma chance que eu tive de estudar um curso técnico. 

Meu nome é Jaine da Rosa Soares, sou estudante do 2º ano de agropecuária do IFSul Bagé. 

Músicas citadas no texto:

Eu não sou racista: https://youtu.be/v2DCHWp2

Cota não é esmola:https://youtu.be/QcQIaoHajoM

Deixe seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Junipampa