A experiência de ver Barbie no cinema

Por Willians Barbosa

Fonte: Kahawatungu

Marketing massivo, trilha sonora e coreografias cativantes, atores hypados, como Margot  Robbie e Ryan Gosling. Tudo conspirou para que Barbie se tornasse um dos maiores  blockbusters dos últimos tempos. Mas ele realmente merece toda essa atenção? 

Bem, só por ter inflamado a ira de fundamentalistas religiosos, já é um indício de que ele  merece, sim, ser assistido. Assistido, e como! Segundo o The Hollywood Reporter, em sua  estreia, o filme da boneca mais famosa do mundo arrecadou cerca de US$ 155 milhões apenas  nos Estados Unidos. No Brasil, foram R$ 22 milhões apenas em suas primeiras 24 horas em  cartaz. O fenômeno, com certeza, será lembrado por um longo tempo: desde os feeds das  nossas redes sociais recheadas de notícias relacionadas até a estética cor-de-rosa adotada  pelas pessoas nas ruas. Não importa para onde olhávamos nesses últimos dias, online ou  offline, víamos a Barbie em tudo.  

Como muitos, comprei o ingresso de forma descompromissada, esperando ver apenas um  filme superficial. Afinal, o que esperar do filme de uma boneca que, por si só, não tem história?  Ou mais ainda, o que esperar de um filme de uma boneca que é o símbolo plástico da mulher  ideal na sociedade capitalista, que reforça esses padrões impostos e que (até por ser apenas  uma boneca) não os questiona? 

Porém, uma dose de diversão não faz mal, nem se alienar por 95 minutos.

É o que eu pensava. 

Logo nos primeiros minutos, me dei conta que a imersão com aquele filme me proporcionaria  algumas reflexões. O papel da mulher na sociedade, bem como o do homem, é, a todo o  momento, posto em questão. Inclusive, a nossa condição como humanidade é abordada a  certa altura da obra, produto da trama em que a boneca precisa deixar a Barbielândia e vir  para o mundo real, passando então a experimentar sentimentos intrinsecamente humanos.  Assim, passeando entre o seu mundo cor-de-rosa e o mundo real, a boneca símbolo do  capitalismo e da plasticidade feminina ganha contornos humanos, com sua recém-descoberta  vulnerabilidade frente às emoções vividas. Uma grande ironia! 

E de ironias, a obra está cheia, tanto dentro do seu enredo, que conta com comportamentos  estereotipados de todos os homens, quanto com passagens que brincam com a própria noção  de realidade e ludicidade. Até mesmo referências à própria produção cinematográfica são ali  inseridas. 

Entre os personagens, vários são considerados chave para o desenvolvimento da história.  Sasha, a menina que brincava com a boneca, mas que a abandonou por considerá-la um  malefício para a autoestima das mulheres; sua mãe que, ao contrário, nutre sentimentos nostálgicos em relação à boneca. Estas personagens são desenvolvidas para simbolizar a tradição que mulheres em grande parte do mundo têm de brincar com a Barbie e como isso  perpassa gerações, passada de mãe para filha. Além delas, temos, dentre as várias Barbies, a  ‘’Barbie estranha’’, Allan, os executivos da Mattel (companhia que, desde os anos 50, produz as bonecas Barbie)… 

Ah! Também tem o Ken que, no final, nos certifica que é apenas o Ken. 

Em vários momentos, a audiência na sala lotada de cinema se mostrava eufórica com o que  assistia, irrompendo em risadas ou fazendo comentários em um ou outro trecho. Essa empolgação, certamente, será lembrada quando, no futuro, nos lembrarmos desta que vem se  transformando em uma das experiências mais marcantes que a sétima arte nos brindou em  sua história.

Willians Barbosa é jornalista digital, especialista em Artes, pesquisador e, atualmente, acadêmico de Letras pela Unipampa.

Comentários
  1. Márcia

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