Ano 07 nº 062/2019 – A arte emancipa mentes / Coluna da Taiza
Primeiro de tudo assistam Bacurau. Conversa sobre a cultura no país.
Agora, vem comigo…
A formação da identidade de um país está intimamente ligada às mais diversas manifestações culturais de toda sua extensão territorial. O Brasil é conhecido por sua grande diversidade cultural, mas como o governo federal está a valorizar esse setor em específico? Essa foi uma discussão recente dado ao tema da redação do Enem deste ano, que propunha discorrer sobre a democratização do acesso ao cinema.
O tema foi discutido em diversas perspectivas, mas uma questão foi amplamente questionada por conta das últimas notícias relacionadas a Ancine – Agência Nacional do Cinema [1], visto que o governo Bolsonaro propôs um projeto ao legislativo que visa cortar em 43% o orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual em 2020. Este projeto prevê uma redução drástica na captação dos recursos pela participação de empresas e projetos, prejudicando – em proporções enormes – as produções audiovisuais no País.
Já no início do ano, o Ministério da Cultura foi extinto pelo governo do atual presidente, sendo dessa forma absorvido por outra pasta, o Ministério da cidadania, se tornando apenas uma secretaria. Os impactos dessa medida têm sido amplamente discutidos pela classe artística do país e estima-se que o impacto não seja apenas cultural mas também econômico, visto que a cultura é uma das formas que mais geram lucro para todos os países que nela (na cultura, arte em geral) investe.
É isso mesmo! Atualmente os países mais desenvolvidos têm apostado seus investimentos em cultura por compreender que é um dos principais fomentos de alavancamento econômico, tomemos como exemplo a Coréia do Sul e o KPOP [2], que nos anos 90 passava por uma dura crise orçamentária e em contrapartida decidiu investir na indústria criativa do país. O Ministério da Cultura recebeu grandes investimentos, com o olhar para um setor, o KPOP, gênero musical que mistura pop e diversos outros gêneros, e inclusive o governo criou um departamento dentro do seu ministério da cultura exclusivamente para o Kpop.
Pode parecer estranho que um país em crise decida investir em música do que em outras “prioridades’’, mas esse efeito foi prático. Após o investimento mássico em festivais, eventos e audiovisual, o país na 30º posição no mercado artístico saltou para o 6º país que mais arrecadou verba com a indústria. Em 2005, já investia cerca de US$ 1 bilhão voltado ao Kpop e como retorno, apenas um grupo chamado BTS – que é uma boyband – movimenta US$ 3,7 bilhões ao ano na economia do país.
Em conseqüência disso ouve um boom no turismo no país, a arte e a cultura do mesmo vêm sendo disseminada no ocidente, dada a grande influência cultural advinda da visão mercadológica do governo em relação à arte.
Aqui no Brasil existe um movimento cultural crescente que arrecada, em apenas um estado, cerca de R$ 127 milhões de reais por mês [3], já sabe do que estou falando? Sim, o FUNK! Além dessa estimativa, o gênero musical também gera empregos e tem ganhado o mundo, dados da plataforma Spotify informam que o gênero cresceu mais que 3.000% fora do Brasil, tornando-se um fenômeno cultural.
Ainda que o ritmo esteja gerando tantos resultados positivos para o país, o gênero é amplamente perseguido, como o samba já foi, por exemplo. Em 2017 um projeto de lei para a criminalização do gênero foi proposta, onde a descrição, no site do plenário, é descrita da seguinte forma [4]:
É fato e de conhecimento dos Brasileiros difundido inclusive por diversos veículos de comunicação de mídia e internet com conteúdos podre alertando a população o poder público do crime contra a criança, o menor adolescentes e a família. Crime de saúde pública desta “falsa cultura” denominada “funk”.
Felizmente a proposta foi rejeitada, mas ainda assim a ala mais conservadora dentro da política brasileira continua a perseguir toda forma de arte que não sirva aos valores moralistas e conservadores.
Ainda que os países mais sucedidos economicamente no mundo mostrem o caminho que o nosso país deve seguir para o crescimento, seguimos caminhando na contramão, deixando de investir na educação, na pesquisa e na cultura. Esses três pilares junto ao investimento na saúde e assistência social fariam, sem dúvidas, diversos problemas que vivenciamos no país serem, ao longo dos anos, amenizados.
E vocês o que acham desse tema?
Nossa riqueza cultural deve ser valorizada! Por isso indico muito o filme BACURAU de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, filme brasileiro lançado em 2019, que já possuí 4 prêmios em festivais fora do Brasil, dentre eles o Festival de Cannes!
Outra indicação que faço é o filme Solidões de Oswaldo Montenegro, narrativa que une cinema, música e poesia de forma poética, delicada e ao mesmo tempo intensa para retratar as solidões diárias que ardem em peitos cheios demais.
E está disponível no youtube, onde o próprio Oswaldo disponibiliza suas obras cinematrográficas: https://www.youtube.com/watch?v=ng9nrA9o0o0
(Foto: filme Solidões – Vanessa Giácomo, atriz)
Para ouvir: Linn da quebrada – Oração: https://www.youtube.com/watch?v=y5rY2N1XuLI
A ARTE É EMANCIPAÇÃO. Investir nela é democratizar os saberes, libertar as mentes, é alavancar um país.
Taiza da Hora Fonseca é Acadêmica do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade Federal do Pampa, fez parte do Diretório Acadêmico de Letras no período de 2015 a 2017 e participou como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) no período de 2016 a 2018. Atualmente faz parte do Movimento Estudantil da Universidade e seus interesses são: Temas Transversais, Política e Movimentos Sociais, Literatura, Poesia e Arte.
Então quer dizer que pra “democratizar” o acesso ao cinema, a solução é encher o bolso de agências milionárias de dinheiro?