Ano 11 Nº 012/2023 – Várias crises, uma democracia
Gilberto Lima
Janeiro de 2023 está chegando ao fim. O ano realmente começou, um mês já se passou. Ainda me sinto cansado de 2022, passou tão rápido, mas tanta coisa aconteceu… Passou rápido, mas não passou fácil. A pandemia acabou, pelo menos no papel, mesmo que casos tenham aumentado novamente. Eleições aconteceram, brigas aconteceram, protestos a favor e contra a democracia aconteceram.
Tivemos paralisações e ocupações em diversas instituições de ensino, o motivo não era algum tipo de inimigo externo ou baixa qualidade no ensino, era a própria gestão pública, responsável pelas instituições, inviabilizando o funcionamento delas. O dinheiro que deveria alimentar o coração da produção científica no país foi impedido de chegar até ele. E não por falta de dinheiro, era mais… Por divergência de prioridades, bois e as balas a livros e bolsas. Mas a bolsa não pode esperar, a fome não espera, e para muitos estudantes a bolsa significa ter meios para continuar estudando e trabalhando. Quem trabalha, quer receber, quem tem pressa tem fome.
A resposta da comunidade acadêmica da UNIPAMPA, em Bagé e em vários outros campus, foi a paralisação e ocupação. Diversas instituições do país reagiram da mesma forma. Depois de vários dias, o dinheiro chegou até nós, estudantes.
As férias se emendaram com a paralisação. Sinto que foram férias pós-trauma. E como bem sabemos, “pior que tá não fica” – disse o iludido.
Trocou o chefe do executivo, que por coincidência tem o nome escrito na entrada da instituição como fundador dela, logo, o clima é de otimismo.
Chega dia 08/01, a democracia é traída, mais uma vez.
Onde estamos? Para onde estamos indo?
Sede do Supremo Tribunal Federal foi destruída.
Qual legado de país queremos deixar para as próximas gerações?
Sede dos três poderes está destruída.
Instituições de segurança sendo convenientemente omissas, pessoas dizendo terem deixado e urinado no maior símbolo da democracia nacional, obras de arte arruinadas, réplicas da constituição roubadas e, no fim do dia, pessoas presas, muitas mesmo, mais de mil.
E depois disso? Alguém conhece alguma droga com bula para curar o Brasil? Quem receitaria? Quais os efeitos colaterais?
Imagine a manchete: Jovem democracia se afoga no próprio povo; entenda.
Como um princípio de golpe afeta um país? Como um princípio de golpe afeta uma população?
Proponho a reflexão de pensarmos de onde saímos quanto país democrático e para onde vamos. Daqui uns anos, os livros de história serão impiedosos com o que aconteceu em Brasília, mas enquanto 2023 ainda é presente, precisamos de meios para impedir que parte de um povo se sinta com mais direitos que a maioria Como garantir a liberdade de escolha daqueles que não a querem? Educação. Sim, ela mesma. Não acho coincidência uma tentativa de golpe no Brasil, partida diretamente de um grupo de brasileiros, ser materializada logo depois do descaso com a educação da gestão anterior. O sentimento de patriotismo e pertencimento ao país deve ser incentivado em um ambiente plural, com pessoas com as mais variadas vivências, uma sala de aula, por exemplo. O estudo da constituição, sistema tributário, sistema de previdência social, tudo o que diz respeito a nós, quanto cidadãos.
Levar a pauta para a escola pública é o único jeito de criar um país que compreenda o real significado da vida em sociedade de uma forma realmente inclusiva. As alterações nas diretrizes educacionais das últimas décadas perderam a oportunidade valiosa de formar a cidadania em uma sociedade democrática. Nos resta continuar lutando por uma educação pública que cristalize em todos os nossos direitos e nossos limites enquanto vida em coletividade. Para resolver os problemas do país, precisamos de uma população equilibrada, alimentada e formada.
Gilberto Lima
Me chamo Gilberto Lima, sou acadêmico de Letras Português, leio e estudo linguística, análise do discurso e morfologia. Além disso, gosto de fazer yogurt em casa, pintura em aquarela e ter direito de votar.