Ano 09 nº 041/2021 – A difícil tarefa de conciliar a maternidade com os estudos

Por Luciana Ribeiro Teixeira

 

“Se, em tempos não pandêmicos, a rotina de mãe e estudante é cansativa, exaustiva e, muitas vezes, temos a vontade de desistir, imaginem em tempos de pandemia? Hoje, em decorrência da pandemia, vivemos uma situação bem atípica, em que o mundo ‘parou’, porém as demandas que envolvem as atividades do ‘lar’ não pararam, pelo contrário, se multiplicaram”, desabafa Fabiana, 31 anos, mãe e estudante.

Exercer a maternidade demanda comprometimento, atenção, paciência e, com certeza, o envolvimento de sentimentos repletos de muito amor. Porém, algumas mulheres, ao se tornarem mães, ainda estão em busca de uma ascensão social, algumas delas ainda não concluíram seus estudos e, dessa forma, procuram conciliar a maternidade com o processo de formação acadêmica. Conciliar esses dois compromissos não é tarefa fácil, pois é necessário muito engajamento e persistência para não desistir da formação acadêmica no meio do caminho. Só quem vivencia isso sabe o quanto se deve ser perseverante, pois exercer as duas tarefas – de mãe e estudante – consome muita energia emocional, mental e física. 

Além disso, para aquelas mães que possuem filhos muito pequenos, a demanda se torna ainda maior, porque crianças muito pequenas necessitam de atenção em tempo integral, situação um pouco diferente em se tratando de crianças maiores que, embora não exijam atenção o tempo todo, apresentam outras – e tão diversas – demandas. Para contextualizar essa experiência, apresento o relato de uma estudante, mãe de dois filhos com faixas etárias diferentes, das quais são exigidas demandas particularmente opostas. Essa mãe estudante, em processo final de sua graduação, nos relatará sua experiência, vivenciada ao concluir sua graduação, neste contexto social em que estamos vivendo atualmente:

Meu nome é Fabiana, tenho 31 anos, estudante, mãe de dois filhos, um de 11 e outro de 1 ano e 9 meses. Ser mulher, mãe e estudante não é uma ‘tarefa fácil’, bem pelo contrário, tem dias que dá vontade de largar tudo, e voltar a ser somente filha. Ser mãe cansa, ser estudante e mãe, então, nesse período conturbado, foi a experiência mais estressante que eu já vivi, acredito que nem o fim da licença maternidade foi tão angustiante quanto lidar com o ensino online e seus percalços. Em algumas aulas, acho que na maioria delas, eu assisti às aulas com o meu filho pequeno no colo, já o mais velho não tinha as mesmas necessidades que um bebê que está na fase de descoberta e demanda. Acontece que, quando estamos em casa, fica praticamente impossível se desvincular do lugar social que exercemos e ocupamos. No meu caso, que é ser mãe, porém é diferente quando estamos dentro de uma sala de aula, na universidade, conseguimos por um tempo assumir o lugar social de estudante. Ouvi muitas pessoas falando ‘O bom é que tu não vais precisar sair de casa!’. ‘Pode cuidar do gurizinho e estudar ao mesmo tempo!’. Quanta inocência pensar assim! Repito e afirmo: é praticamente impossível se concentrar! Uma hora a criança pede leite, daqui uns minutos tem a troca de fralda e por aí vai, ou seja, nós não paramos. Nessa época, eu estava no último semestre da faculdade, tinha que terminar meu TCC e, para o meu desespero, a minha mãe que sempre me ajudava ficou doente. Aos poucos, fui conseguindo me organizar. Organizei a rotina do pequeno, horário pra dormir, levantar e comer (era tudo cronometrado), eu sabia que não dava para perder tempo, tinha prazo das atividades à distância para entregar e também a escrita do TCC. Meu tempo era precioso, tinha que aproveitar o que dava, algumas noites sem dormir, além do cansaço mental e emocional, meu corpo começou a dar sinais de que eu não estava bem (eu fiquei com algumas partes do meu corpo com hematomas). O que me ajudou muito nesse período foi o apoio de mulheres incríveis que eu tive a sorte de conhecer e que me ajudaram, a empatia e a generosidade das colegas que disponibilizaram o tempo delas para me ajudar fez toda a diferença para que eu não desistisse, não me desmotivasse e não me sentisse sozinha. Gratidão a vocês, mulheres e colegas maravilhosas, que me ajudaram”. 

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Imagem disponível em https://www.hojeemdia.com.br/polopoly_fs/1.713263.1557529597!/image/image.jpg_gen/derivatives/landscape_653/image.jpg. Acesso: 31/03/2021.

 

A solidariedade e a empatia de quem conhece essa e outras histórias fazem toda a diferença para aquelas mães que buscam sua formação acadêmica. São atitudes importantes para motivar a mãe estudante que luta diariamente para seguir em frente com os seus estudos sem deixar de lado o seu comprometimento de mãe. Essa rede de apoio é indescritível para tornar possível conquistas tão importantes como a formação superior, pois ser mãe, estudante, dona de casa e exercer a função de professora de seus próprios filhos neste contexto social atual são tarefas que demandam muita energia, comprometimento e amor. Ocupar esses lugares sociais é exercer funções que exigem muita responsabilidade, pois somos mulheres que estamos buscando, para nós e para nossos filhos, condições melhores de vida que somente os estudos e as formações conquistadas, através do esforço e dedicação, poderão proporcionar, condições de ascender socialmente e conquistar empregos que possibilitem uma remuneração melhor, dando condições para a melhora da nossa qualidade de vida.

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Imagem: Acervo da Autora

 

Meu nome é Luciana Ribeiro Teixeira, estou finalizando minha graduação no curso de Letras-Português e respectivas Literaturas da Universidade Federal do Pampa. Faço parte do programa de educação tutorial (PET). Além de petiana e estudante universitária, sou mãe de dois meninos de 11 e 8 anos de idade. Ocupo o lugar social de mãe, estudante e dona de casa.

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