Ano 08 nº 146/2020 – Sobre ter 10 anos…
Imagem: Autora.
Por Flávia Azambuja
Hoje, eu vi um vídeo que me fez pensar na Flávia de 10 anos. Neste vídeo, a mulher (desculpa, não lembro o nome) mostra ela mesma com 10 anos. Isso me transportou para 1997. Eu era uma menina alegre, que amava dançar, queria ser astronauta e adorava brincar de professora depois da aula (minhas amigas odiavam). Ah, eu sempre queria ser a professora, por que será? Eu era doce, amava ler. Fico feliz de pensar que ainda enxergo muitas coisas desta menina em mim. Eu tive uma infância com algumas dificuldades como qualquer outra criança, mas tive sorte, sempre tive uma mãe que me protegeu de tudo e todos, com isso não quero culpar nenhuma mãe, só falo da minha experiência. Fiquei me perguntando quem eu seria se não fosse assim. Lembro que minha mãe não deixava eu dormir na casa das minhas amigas com esta idade, me dizia que eu não conhecia a família direito e nem ela, que não sabia se eu podia confiar. Lembro de achar ela chata e exagerada, afinal: o que poderia acontecer? Talvez tenha evitado assim que algo acontecesse comigo. Anos depois, descobri que aconteceu com uma amiga e vindo justamente de quem ela deveria poder confiar.
Hoje, sou professora. Não por acaso (não acredito em acaso), tenho estudantes com 10 anos, também pensei muito neles e nelas. São crianças. CRIANÇAS. Leem “Diário de um banana”, escrevem poemas sobre a família, avisam que hoje é o dia do seu aniversário, provavelmente esperando o “parabéns”. Adoravam quando podíamos ler ao ar livre ou fazer algum passeio. São espontâneos (as), sinceros (as), perguntam o que acabei de responder, querem anotar exatamente como eu disse antes, normalmente eu não lembro. Sempre me perguntei o porquê dessa necessidade, acho que tem a ver com confiança. Eles e elas confiam em mim, acham que eu sei mais que eles, que eu vou trazer respostas certas, que precisam aprender comigo. As crianças precisam poder confiar nos adultos.
Hoje, eu descobri que eu preciso aprender com eles e elas, olhar mais pra eles e elas. E olhar pra Flávia de 10 anos. Naquele tempo (me senti uma idosa usando essa frase) não se falava em educação sexual, mas o que a Flávia de 10 anos precisava saber e não sabia? Preciso olhar pra eles, pra elas e pra mim.
Hoje, eu entendi que também é minha obrigação (como de toda sociedade) cuidar dessas crianças, para que possam ser apenas o que são: crianças. Este texto é um pacto com meus alunos de hoje e de amanhã e com a Flávia de ontem, de hoje e de amanhã. Espero que vocês também assinem.