Ano 07 nº 035/2019 – Terra do ouro e de carros com janelas abertas

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Por Flávia Azambuja

Lembro como se fosse hoje, estava em meio as cores do arco-iris, das tintas, jornais velhos, conversas, abraços e muitos “maestra” quando o telefone tocou. Logo vi uma chamada de Lavras do Sul, minha esperança se acendeu, tinha feito um concurso há mil anos, pelo menos assim pareceu pra mim, será que enfim seria chamada? Atendi ansiosa e assim começou minha relação com a terra do ouro.

Relação cheia de altos e baixos, pra ser sincera, mas que se fizer um balanço trouxe bem mais alegrias do que tristeza. Altos e baixos que se revelam no relevo da cidade, muito diferente de onde venho terra mais plana em todos os sentidos pra mim.

Estranhei logo de cara que todos andavam sob duas ou quatro rodas, logo entendi que isso se deve justamente pelo relevo. Eu também tinha minhas rodas, rodinhas da mala que eu arrastava nas subidas e descidas enquanto desbravava esse novo lugar (já nos primeiros meses tive que substituir minhas rodinhas).

Minha primeira impressão foi de encantamento. Lugar onde as pessoas ainda dão bom dia a quem passa, conhecem praticamente todo mundo e sempre tentam ajudar a todos. Sempre conto do dia em que cheguei e várias pessoas preocupadas me perguntaram onde dormiria e me ofereceram abrigo enquanto fosse preciso.

A história que quero contar tem muito a ver em como é esse lugar e essas pessoas. Era mais um dia comum, o dia era quente, subia e descia arrastando minhas rodinhas, passei pelo mesmo cachorro que sempre passo e que detesta o barulho que faço ao passar em sua calçada. Me assusto com ele como sempre. Quase chegando em minha casa, agora sinto que aqui também é minha casa, suada, cansada e só começando o longo dia que ainda tenho pela frente me deparo com um carro com a janela aberta, me espanto.

– Nossa! Alguém esqueceu a janela aberta.

Depois de esperar alguns minutos e ninguém aparecer, desisto. Aí percebo outro carro com a janela aberta e outro e mais outro e mais outro. Como nunca havia percebido isso?

– Agora entendo!

É um costume local, ainda mais em dias quentes, mas aquilo pareceu tão absurdo pra minha realidade, mas não, não era. Não para aquele lugar que as pessoas dão bom dia a quem não conhecem, que conhecem quase todos e que confiam nas pessoas como nunca vi em nenhum outro lugar.

Agora sempre que passo por uma janela aberta, sorrio sozinha, me sinto como cúmplice e parte desse lugar que tem me transformado e que espero transformar um pouquinho também.       

            

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