Ano 12 Nº 076/2024 – Renúncia

Por Manuela Moreira

Outros escritores me 
encontram, No acaso de um deslizar de tela,
Não sabem que escrevo,
Mas o feed é só poesia,
E a alma, que insiste em viver,
Precisa disso para respirar.

Lembro das regras ditas por minha
mãe, Impostas entre as paredes de
casa: Terminar o ensino médio,
Entrar na faculdade,
Sem tempo para pausas,
Sem tempo para perder a “linha da
meada”. Era das suas linhas perdidas
que ela falava, Da faculdade trancada,
Dos filhos criados sem muito
intervalo, E das escolhas que
restavam,
Nem sempre as mais sábias.

Dos pais que perdeu cedo demais,
Dos feriados que se tornaram
vazios, Dos Natais que ela
desejava,
Mas sabia que não havia mais
jeito. Eu, sentada na cama,
Pensando em pedir para
comemorar, E ela, do quarto ao lado,
Me poupava das palavras:
“Filha, se quiser sair, vá,
A mãe está cansada e vai deitar.”
Com tristeza, eu a deixava
sozinha, Porque era isso que ela pedia.

Lembro das poucas vezes que
chorou, Disfarçando a dor nos
cantos da casa. Não sei se foi bom
para mim,
Porque agora, quando preciso
chorar, Procuro a solidão como quem
Esconde um segredo.

Ela trabalhava dobrado,
Enquanto meu pai ia embora
formar uma nova vida longe de
nós. E nas discussões, eu dizia
Que odiava fazer salgados,
Mas hoje entendo:
Foi necessário.
Perdi parte da adolescência,
Porque não queria vê-la
Carregar o mundo sozinha.

Vi um dia uma frase num TCC:
“Dedico aos meus pais, que sob muito
sol, Fizeram-me chegar até aqui na
sombra.” E minha mãe, que nunca se
formou, Me faz chegar mais perto
Do meu diploma
A cada dia.

Manuela Moreira é estudante do 4°semestre de letras línguas adicionais.

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