Ano 04 nº 054/2016 – O Grito das Margaridas

Mariana Dutra

Estudante de Engenharia

*Atenção: O texto contém spoilers

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Em 1966 na Tchecoslováquia (atual Eslováquia e Republica Tcheca) a cineasta Vera Chytilová lançava As Pequenas Margaridas*. Um filme de 80 minutos, tendo como protagonistas duas meninas chamadas Marie.

Usando de efeitos especiais avançados para época e uma fotografia inovadora, a diretora conseguiu fazer uma critica a sociedade e ao totalitarismo do Estado, tudo isso sob as aventuras das duas moças.

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Fonte: www.tasteofcinema.com 

Na estória, as moças analisam o mundo em que vivem e concluem:

“-O mundo é cruel e estragado.

-Já que o mundo é assim, vamos ser cruéis e estragadas também, vamos ser depravadas!”

Logo seguem sua saga, o que a primeira vista não passam de brincadeiras. Que incluem comilanças, destruição, preguiças e jantares com homens mais velhos, onde eles invariavelmente acabavam abandonados.

Suas maldades eram invariavelmente contra homens mais velhos e casados, que “gentilmente” se propunham a pagar fartas refeições às moças, e em troca eram deixados sozinhos por elas, que esperavam eles embarcarem no trem para fugir.

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Fonte: pinterest.com

Atos que eram considerados subversivos, pois ao pagar as refeições os homens esperavam “algo em troca”. Um acordo implícito, tendo o corpo feminino como moeda. No entanto, ao irem embora elas acabavam “quebrando” esse acordo.

Em outro ponto do filme um homem declara seu amor a uma delas pelo telefone, enquanto isso elas divertem-se comendo. O amor romântico não parece ser do interesse de nenhuma delas e os homens só servem como fonte de divertimento.

Na parte final do filme, elas encontram um jantar de gala. Comem,bebem,dançam e quebram tudo ao redor. Até que uma delas pendura-se em um lustre e ele cai destruindo tudo, simbolizando o efeito indesejável e destruidor de suas travessuras. A diversão tinha acabado e as consequências de suas atitudes viriam. Na cena seguinte elas aparecem afogando e pedindo desculpa pelas brincadeiras e maldades. Logo elas voltam à sala e consertam tudo, literalmente, juntando todos os cacos e desculpando-se. Apos isso descansam, resignadas.

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Fonte: www.jonathanrosenbaum.net/2016/04/daisies-1966/

As Pequenas Margaridas ainda é considerado um dos filmes mais fortes com a temática do feminismo do século XX, quebra de papeis e de estereótipos. Tendo em vista que o filme foi lançado na década de 60, dentro de um país que vivia um regime comunista fechado. Ele soa como um grito desesperado por liberdade, mesmo que de uma maneira “torta”, como a frase final sugere “Para aqueles que a única forma de revolta é a frivolidade.” As Maries só queriam uma coisa, serem livres.

*O filme pode ser encontrado sob o titulo original Sedmikrasky, ou com o titulo em inglês Daisies.

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