Ano 11 Nº 018/2023 – O espelho da sétima arte como ferramenta de equidade racial

“Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém tente complicar.
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florecer.”
Oswaldo Montenegro

Temos dentro da Unipampa um núcleo de pesquisadores negros/as e nós colaboradores do NEABI, principalmente o Oliveira Silveira na cidade Bagé o qual posso falar com mais propriedade procuramos estar sempre atentos a temática negritude em todos os seus aspectos. Hoje propomos refletir brevemente sobre o cinema e seus impactos no avanço das causas sociais mais especificamente nas causas da população negra.


Por isso escolhemos um sucesso de crítica, bilheteria e interpretação a obra cinematográfica A Mulher Rei. Um filme que já mostra suas peculiaridades no título, já nos provoca a refletir afinal como assim uma mulher rei não é mesmo. Quando vamos procurar ler a crítica do filme A Mulher Rei podemos encontrar as mais variadas opiniões inclusive que foi um filme escrito para elevar e enaltecer a história do continente africano corrigindo uma injustiça, realizar um reparo histórico.


Falar que este filme faz apenas reparo histórico é diminuir sua magnitude e potência, além de ter como protagonista a atriz, negra e multipremiada Viola Davis, traz uma narrativa verdadeira, pois as Agojies
existiram na extinta Daomé, hoje atual Benin. No continente Áfricano, maisespecificamente no panteão africano uma mulher sentou-se sim na mesa da criação do mundo, ela é conhecida como Orixá Oxum, deusa africana do amor e prosperidade que traz como ferramenta em sua mão direita um espelho.

Trazendo este pequeno trecho de um ìtan (lenda africana) como referência, podemos dizer que a narrativa do filme cumpre principalmente um papel social, de ser espelho onde se reflete as identidades, a
representatividade e o enaltecimento de pessoas negras e assim fortalecendo a representatividade.
Além ser de suma importância nos vermos fenotipicamente, ou seja nossas feições de rosto; corpo e cabelo refletidos em uma tela de cinema, com nossos traços negróides, de pele retinta ou não, a narrativa do filme também desmonta as diferenças de gênero, pois traz mulheres com patentes altas seja
na política ou no exército da extinta Daomé.

Precisamos entender como ferramenta de de(s)colonização da população da diáspora africana, entender o artístico como libertador afro diaspórico pois a arte nos traz inúmeros caminhos de atravessamentos
poéticos afetivos e precisamos de astúcia, inteligência e sutilezas para alcançarmos nossos objetivos, muitas vezes como a água do rio que tendo uma pedra como obstáculo de seu curso, não a aniquila, não a remove apenas a contorna e aprende a coexistir.


Por todos estes elementos este filme não é só um reparo de uma história distorcida, é uma explosão social principalmente para os negros/as, pois abrilhanta nosso olhar, nos traz visibilidade e protagonismo. A sétima arte como muitos conhecem o cinema é uma forma de linguagem e de comunicação, então é muito importante a gente se comunicar de forma a ser entendido e isso não é questão de capacidade muitas vezes e sim de oportunidade.


Essa equidade que buscamos se dá através da empatia, e esta é uma construção intelectual, por isso é preciso ler, escrever, produzir filmes, documentários e fotografias que comuniquem, mostrem e ilustrem esta cultura afro e tão brasileira é tão importante.

Andressa Costa
Especialista em Educação e Diversidade Cultural pela Universidade Federal do
Pampa. Membro fundadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas –
NEABI Oliveira Silveira. Nos siga nas redes sociais @neabioliveirasilveira

Deixe seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Junipampa